MERCADO DE TRABALHO: dificuldades enfrentadas por lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transgêneros

RESUMO

Este trabalho visa analisar os percalços enfrentados por lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transgêneros no concorrido mercado de trabalho. Analisando-se dados estatísticos e outras produções científicas neste mesmo contexto, tentamos chegar ao por que da não contratação dessas pessoas pelas empresas, entidades e outras organizações. Em um mundo cada vez mais globalizado, onde os empresários buscam por pessoas altamente qualificadas, os LGBTs podem somar uma grande massa de mão de obra, porém, devido aos critérios que estas empresas usam em suas diversas formas de seleção, estas pessoas ficam, em sua maioria, à margem das buscas, dando espaço apenas para aqueles que se enquadram na chamada ‘heteronormatividade’. Este trabalho foi proposto também como uma forma de dar visibilidade maior quando o assunto é a exclusão de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e trangêneros pelo mercado de trabalho. Não daremos fim ao assunto, mas, abriremos mais um leque de possibilidades para debates, produção de outros artigos e etc. Foi-se possível a elaboração deste trabalho científico através do método de revisão bibliográfica.

PALAVRAS CHAVE: Mercado de trabalho. Qualificação. Exclusão. LGBT’s. Visibilidade.

ABSTRACT

This work aims to analyze the setbacks faced by lesbian, gay, bisexual and transgender people in the competitive labor market. Analyzing statistical and other scientific productions in this same context, we try to get to the why of not hiring these people by companies, institutions and other organizations. In an increasingly globalized world, where entrepreneurs looking for highly qualified people, LGBTs can add a large mass of labor, however, because the criteria that these companies use in their various forms of selection, these people are in mostly on the fringes of searches, giving space only to those who fall into the so-called 'heteronormativity'. This work has also been proposed as a way to give greater visibility when it comes to the exclusion of lesbian, gay, bisexual and transgender by the labor market. We will not end the matter, but we will open over a range of possibilities for debates, production of other articles, etc. It was made possible the development of this scientific work through the literature review method.

KEY WORDS: Job market. Qualification. Exclusion. LGBT 's. Visibility.

1 INTRODUÇÃO

Esse artigo tem como objetivos oferecer uma contextualização do movimento LGBT (bem como sua importância, como movimento social, na busca por direitos e igualdades perante uma sociedade patriarcal, machista e heteronormativa), debater sobre as responsabilidades do setor empresarial em relação aos direitos humanos (e as oportunidades que este mesmo setor oferece ou de oferecer para lésbica, gays, bissexuais, travestis e trangêneros), à promoção da diversidade e à equidade de gênero no mercado de trabalho bem como analisar as dificuldades enfrentadas pelos LGBTs para se inserirem e permanecerem no mercado de trabalho.

Em tempos de luta por direitos igualitários, os movimentos sociais são de suma importância para as minorias excluídas pela sociedade que, infelizmente, ainda tem sua base focada no patriarcado e, culturalmente machista. Um desses movimentos, organizado por gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transgêneros (o chamado Movimento LGBT), luta por mais visibilidade e espaço. Seja na família ou na sociedade, os LGBTs enfrentam ainda muitíssimas barreiras. Um exemplo disto é o fato de que o mercado precisa de mão de obra qualificada, porém, devido aos rótulos baseados na identidade de gênero e na orientação sexual, a maioria dessas pessoas é excluída de suas famílias, das escolas, indo se refletir também no mercado de trabalho.

As qualificações profissionais destes são tão boas quanto às qualificações dos indivíduos que se enquadram na chamada “heteronormatividade”, mas, devido a uma cultura baseada no machismo, e uma base religiosa ultraconservadora, a discriminação ocorre sem que haja ao menos defesa por parte destas minorias. Às vezes a exclusão ocorre de forma que não se deixa entendido que aconteceu devido ao enquadramento dessas pessoas fora da heteronormatividade.

Esse quadro de extrema exclusão vem sendo modificado, em passos ainda lentos, mas, um pouco já se foi feito para diminuir essa marginalização de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transgêneros. Mas, o movimento não se acomodou e, como forma de desconstrução desses pensamentos retrógrados, demonstramos dia após dia, na luta social, que ética, profissionalismo e caráter, não estão ligados nem subordinados à orientação sexual e, muito menos, à identidade de gênero. O empoderamento destas classes é de suma importância para que haja direitos iguais também no mercado de trabalho, que precisa de pessoas cada vez mais qualificadas e, por questões de extrema discriminação, perde com esses entraves, dando margem ao racismo e à lgbtfobia (aversão aos LGBTs), o que não deixa de ser uma discriminação.

2 CONTEXTUALIZANDO O MOVIMENTO LGBT NO BRASIL E NO MUNDO

As mais variadas manifestações de segregação estão presentes no dia a dia das organizações (entidades e empresas), e são mais comuns do que se possa imaginar. Segregações estas que podem ser de âmbito religioso, racial, segregação de gênero e orientação sexual, dentre outras.

Iremos focar aqui nas barreiras impostas pela sociedade quanto ao mercado de trabalho para os LGBT (sigla criada em 08 de junho de 2008, que significa ¨lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transgêneros).

A visibilidade LGBT, que teve seu ápice em 28 de Junho de 1969, no Estado de Nova Iorque, mais precisamente em um bar chamado Stonewall Inn, está diretamente relacionada às imensuráveis manifestações de discriminação do trabalho (sem deixar de lado o ambiente social e familiar). Lá se reuniram milhares de gays, lésbicas e travestis na intenção de resistirem à repressão e à violência que havia se instalado naquele Estado e naquela década.

[...] No dia 28 de junho de 1969, cansados da repressão protagonizada pela polícia do estado de Nova Iorque, gays, lésbicas, travestis e todos aqueles que frequentavam um bar chamado Stonewall Inn resolveram não mais se calar diante de tanta violência e iniciaram uma grande rebelião. Eles enfrentaram a polícia com pedras e garrafas como armas de defesa do movimento, tomaram as ruas e prolongaram o embate físico por quatro dias de intensas batalhas, armando barricadas e resistindo à violência do Estado (Campos, 2010, p. 05).

O histórico da visibilidade LGBT no Brasil remete há um pouco mais de 30 anos. Nesse intervalo de tempo muita coisa mudou: a volta do regime democrático, aumento dos movimentos cristãos que, de certa forma, cuidam em julgar o modo como os LGBT’S vivem, um ligeiro aumento de casos de contaminação por AIDS (aumento esse que se deu em todos os âmbitos, e não só no meio LGBT) e, principalmente, as alterações no modo de percepção sobre assuntos que envolvem as identidades de gênero e as orientações sexuais. Percepções estas que podem variar entre as boas e as ruins.

São Paulo assistiu, ontem, a uma das maiores manifestações de massa de sua história [...] E quem achava que a era das grandes manifestações tinha acabado, fica pra próxima. [...] Viram-se até as bandeira vermelhas do PSTU [...] A manifestação deu um chega pra lá na intolerância.[...] Celebrando a liberdade de opção, direito adquirido em um Estado democrático, os manifestantes contestaram a norma, o normal, sem a baderna que tanto assusta a elite, e furaram o bloqueio da massificação e da padronização. Entramos num novo século: não existe raça pura, nem o homem ou mulher ideais, existe a diferença [...] O movimento gay é um dos movimentos da sociedade civil que mais crescem no mundo (Bastos, 2010, p. 02).

Desde o início, a marcha LGBT adquiriu características não politizadas, ou seja, sem caráter o político ou interferências deste, deixando claro que o principal foco é e sempre vai estar voltada para a socialização, a luta por respeito e melhores condições de trabalho, direitos básicos dentre outros ideais. Com o passar dos anos essa visibilidade aumentou, o movimento expandiu-se em “Paradas e Passeatas” LGBT, dando um ar um pouco mais “carnavalesco e divertido” à luta. Tudo isso, porém, não tirou a verdadeira história do porque do Movimento existir: a luta por igualdade em todos os âmbitos da vida de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transgêneros.

O período que corresponde de 2002 a 2006 foi o mais intenso já vivido pelo movimento. Ele é marcado pela frequência comunicação entre o até então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva e a ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transgêneros). Assim, as relações entre o PT (Partido dos Trabalhadores) e o movimento se estreitaram ainda mais, devido ao fato de que os partidos chamados de “esquerda” possuírem características mais progressistas, dando uma visão de futuro melhor aos LGBTs, dado uma ampla ajuda no combate ao preconceito e ao racismo, dando apoio à criminalização da LGBTfobia.

No dia 08 de Junho de 2008, durante a I Conferência Nacional GLBT, promovida pelo Governo Federal, envolvendo mais de 10 mil pessoas em conferências estaduais e 1.200 delegados e delegadas nacionais, reunidos em Brasília, decidiu-se pelo uso da terminologia GLBT para identificar a ação conjunta de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais no Brasil. Posteriormente, em Dezembro de 2008, no maior evento do movimento LGBT do Brasil, o Encontro Brasileiro de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – EBLGBT – também decidiu-se pelo uso do termo LGBT (Manual de Comunicação LGBT, 2008, p. 15).

Algumas palavras adquiriram significados importantes durante toda essa caminhada. Veremos agora algumas definições importantes para melhor compreensão deste artigo e, consequentemente, uma melhor visão a respeito do tema principal que envolve o mercado de trabalho e os LGBTs.

3 CONCEITUANDO

Ativistas, estudiosos, feministas, militantes e civis de várias ramificações que tiveram suas lutas reconhecidas (ou não) na origem no Movimento LGBT, enfim, muitos deles tiveram uma parcela importante nessa luta por direitos. Algumas palavras foram adicionadas ao atual dicionário, outras tiveram suas definições modificadas por questões sociais, ou por estarem de certa forma, com conceitos errados em comparadas com a realidade de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transgêneros, gerando até mesmo mais fobias da sociedade para estas pessoas e criando mais situações constrangedoras no dia a dia deles e delas. Vamos agora esclarecer algumas dessas designações que envolvem o Movimento LGBT.

3.1 gênero e sexo

Macho e fêmea, homem e mulher. Essa e a melhor forma de conceituar “sexo”. Outra forma de entender o que seja sexo é o fato dele estar relacionado com a parte física de cada um, ou seja, se o bebê nasce com pênis, considera-se este “macho”, se nascer com vagina, considera-se este mulher. Pode-se também nascer com os dois sexos biológicos, sendo este intersexo, ou como era usado há algum tempo (erroneamente), “hermafrodita”.

Já o termo gênero tem seu conceito baseado numa construção social, algo que vai além da área biológica do ser. Como uma construção social, o gênero feminino foi construído para que pessoas fizessem o papel social da mulher, e o gênero masculino foi construído para que pessoas fizessem o papel social do homem. Ainda de acordo com o Manual de Comunicação LGBT da Associação Brasileira de Gays Lésbicas e Transgêneros/ABGLT (2008, p. 09) assim esclarece:

[...] Conceito formulado nos anos 1970 com profunda influência do movimento feminista. Foi criado para distinguir a dimensão biológica da dimensão social, baseando-se no raciocínio de que há machos e fêmeas na espécie humana, no entanto, a maneira de ser homem e de ser mulher é realizada pela cultura. Assim, gênero significa que homens e mulheres são produtos da realidade social e não decorrência da anatomia de seus corpos.

Se a pessoa ainda mantém, ou não se enquadra em nenhum gênero, ou ainda, consegue e se sente bem tendo comportamento social que envolva os dois gêneros, este pode ser chamado de andrógeno, pois tem esse desenvolvimento social híbrido.

3.2 orientação sexual

O termo orientação sexual designa a atração física que uma pessoa sente por outra, em outras palavras, é a atração sexual, afetiva e emocional por outros indivíduos de mesmo gênero, de gênero diferente ou ainda dos dois gêneros. Há atualmente cinco orientações: I) heterossexualidade, quando essa atração é por pessoas do gênero oposto; II) homossexualidade, quando a atração é por pessoas do mesmo gênero; III) bissexualidade, quando a atração é por ambos os gêneros; IV) pansexualidade, também chamada de omnissexualidade, polissexualidade ou trissexualidade. É quando essa atração é independente do gênero; V) assexualidade, é quando não se sente atração física, sexual ou emocional com nenhuma pessoa.

Lembrando que alguns desses conceitos são especialmente novos no Movimento LGBT. Não que essas pessoas passaram a existir há pouco tempo; eles e elas sempre existiram, porém, somente agora estão tendo mais visibilidade (grifo nosso), devido ao mercado midiático (mídia) em expansão e, consequentemente, enxergaram nessa visibilidade a oportunidade de matérias, documentários, novelas dentre outras formas para chegarem aos picos de audiência.

3.3 identidade de gênero

Segundo o Manual LGBT do Instituto ETHOS (2013, p. 11), identidade de gênero vem assim descrita:

[...] é a experiência individual do gênero de cada pessoa, que pode ou não corresponder ao sexo atribuído no nascimento. Inclui o sentimento em relação ao seu corpo, que pode, por livre escolha, envolver a modificação da sua aparência ou função corporal por meios médicos ou cirúrgicos, por exemplo. Além disso, pode envolver outras expressões de gênero, como vestimenta, modo de falar e maneirismos.

Em outras palavras, podemos dizer que a identidade de gênero envolve o psicológico, e não somente a genitália do indivíduo. É o fato de olhar e ver a si mesmo como sendo de outro gênero, ou seja, quando a pessoa não se sente em conformidade com o sexo biológico (gênero), tendo então a sensação de que “nasceu em um corpo errado”. Devido a esse entrave entre o psicológico e o próprio corpo, vários transexuais (sejam eles homens e mulheres) buscam uma melhor adequação com a realidade e, por meios de intervenções cirúrgicas, hormônios, cintas modeladoras dentre outros, manipulam o próprio corpo a fim de adquirir as características que lhes convém e nas quais ele ou ela se enquadra. Assim mulheres trans não se sentem bem em corpos masculinizados e homens trans não se adéquam aos seus corpos femininos. Sendo assim as pessoas que não se adaptam ao seu corpo físico são chamados de transgêneros ou simplesmente, homens trans e mulheres trans.

3.4 heteronormatividade

Para se conhecer um pouco mais e respeitar a diversidade de gêneros e orientações sexuais, temos que deixar claro também o que é a heteronormatividade.

Heteronormatividade: é um conjunto de disposições (discursos, valores, práticas) por meio dos quais a heterossexualidade é instituída e vivenciada em vários espaços (família, escola, trabalho, etc.) como a única possibilidade natural e legítima de expressão, desconsiderando quaisquer outras orientações sexuais ou identidades de gênero (Manual LGBT Ethos, 2013, p. 12).

Talvez seja a imposição da heteronormatividade a maior causa de desrespeito, preconceito, ataques, espancamentos e mortes entre os LGBT’s, devido ser uma ideia equivoca de que a heterossexualidade seja a mais natural e a única dita “normal” forma de expressão da sexualidade, excluindo assim todas as outras formas de expressão (homossexualidade, bissexualidade, omnissexualidade, assexualidade, transexualidade, etc).

Esse termo também contém em si o domínio do masculino sobre o feminino, ou seja, a heteronormatividade impõe a ideia de que é normal a imposição do homem sobre a mulher, e que as questões relacionadas ao sexo e gênero, quando fora desse círculo (heterossexualidade) estão fora dos padrões e, portanto é “anormal. Isso abre muitas discussões a respeito da intolerância com os LGBTs, pois, a discriminação aumenta quando a sociedade passa a acreditar que os desvios de conduta, de caráter e de ética estão relacionados ao fato de ser lésbica, gay, bissexual, travesti ou trangênero. Uma das metas do movimento é deixar que uma coisa nada influencie na outra. Rótulos não são bases para julgamentos éticos, morais, culturais, religiosos e de caráter.

4 HOMOFOBIA, LESBOFOBIA, TRANSFOBIA, BIFOBIA

São incontáveis os casos de discriminação, desrespeito, ataques e assassinatos de LGBTs. Os noticiários veem nisso, infelizmente, como mais um furo de reportagem, além de manipular as notícias a seu bel prazer, deixando de lado um posicionamento de real combate a essa realidade, por parte da mídia. No entanto o ativismo no Brasil está mudando essa atual conjuntura de direitos humanos para lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transgêneros. Exemplo disso, citado no Manual Ethos de Direitos Humanos para LGBT (2013, p. 12) “em 2004 o governo federal implantou o ‘Brasil sem Homofobia’, programa de combate à violência contra LGBT e de promoção da cidadania para essa minoria”. Ainda conforme o Manual Ethos (2013, p. 12) assim diz: “Em 2008 e 2011 ocorreram as Conferências Nacionais de Políticas Públicas e Direitos Humanos de LGBT, que traçaram o plano de ações destinado a cada ministério. As conferências acolheram as demandas para execução de políticas públicas, com ampla participação da comunidade na elaboração de propostas a serem postas em prática pelo Estado”.

Outro marco na história desse ativismo foi a aprovação pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2011 do reconhecimento da união civil entre pessoas de mesmo gênero e como uma entidade familiar, estendendo a eles os mesmos direitos que antes eram usufruídos somente pelos casais e famílias heterossexuais. Poderíamos pensar na seguinte questão: não bastaria apenas a Declaração Universal dos Direitos Humanos para resguardar os direitos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transgêneros? A resposta é não.

Infelizmente a heteronormatividade ainda é uma barreira muito grande a ser enfrentada. Outro ponto negativo que vem tentando derrubar o ativismo LGBT no Brasil e também no mundo é o fundamentalismo religioso. Muitas pessoas se escondem por trás do que acreditam ser o certo e o errado e camuflam a homofobia, a lesbofobia, a bifobia e a transfobia, dizendo que estas orientações e estes gêneros vão contra toda a sua crença. Segundo Carvalho (2006, p. 34) diz: “Respeito plenamente os direitos dos povos em acreditar nos ensinamentos religiosos que escolheram. Isso também é um direito humano. Mas não pode haver desculpa para violência ou discriminação, nunca”.

[...] Na atualidade poucas pessoas ousariam expressar publicamente formas de sexismo contra as mulheres, ou formas de racismo que incentivem explicitamente o preconceito contra a população negra, contra a população judaica, contra a população indígena, ou outras minorias étnico-raciais. No entanto, dizer publicamente não se simpatizar ou mesmo odiar pessoas homossexuais ainda é algo não só tolerado, como constitui também em

uma forma bastante comum de afirmação e de constituição da heterossexualidade masculina [...] (DINIS, 2011, p. 41).

Na Tabela 1 deste artigo estão elencados alguns dados sobre o aumento de casos homolesbotransfobicos no Brasil. Em vários países as lutas contra a violência, ou a banalização desta mesma violência, voltadas às minorias, tais como os LGBTs, são tentativas de diminuir os altíssimos índices de mortes, espancamentos e discriminação. Deixaremos registrado também que é responsabilidade também do governo, e não somente dos movimentos sociais, esse enfrentamento e as devidas explicações aos cidadãos de como é necessário agir diante desse contexto. É de obrigatoriedade do governo também saber se as medidas tomadas foram suficientes para que os crimes contra pessoas LGBT diminuam ou ainda, se extinguem.

Tabela 1 – LGBTfobia: Mortes registradas por Estado

SP MG BA PE RJ GO PB PI MT PR MS AL RN AM

50 30 25 24 22 21 18 13 11 11 10 09 09 07

RS PA SC MA RS TO AC DF SE RO AP RR ES CE

05 07 06 05 05 05 03 03 03 02 01 01 07 17

Fonte: GGB-Grupo Gay da Bahia, dados de 2014.

Como visto na tabela acima, somam-se, em 2014, 335 mortes de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transgêneros. Ainda segundo o senso do GGB (p. 01, 2014) “registrou-se um aumento de 6,57% em relação ao ano anterior (2013) que foram de 313 mortes”. Entre as causas vale ressaltar que houve, dentre outros, assassinatos, suicídios devido à não aceitação da família e da sociedade (depressão), apedrejamento, enforcamento, etc. A idade destes LGBTs variam entre 14 e 35 anos, devido a isso chegou-se ao fato de que a média de vida entre os integrantes desse grupo é de apenas 30 anos.

5 A “CULTURA” DO PRECONCEITO

Ainda é árdua a batalha entre o Governo, as entidades (organizações, empresas) e os integrantes LGBT. Muito já se foi feito, porém, a realidade ainda está longe de contemplar todos eles, e os seus direitos ainda estão sendo desrespeitados. Como o próprio nome já diz, porque os Direitos Humanos (que deveriam ser para todos os seres humanos) não contemplam os LGBTs tanto quanto contemplam as pessoas que se encaixam na heterossexualidade? Porque as empresas rotulam o caráter e a capacidade profissional com as identidades de gênero e as orientações sexuais? Qual é a dificuldade em aceitar um homossexual (por exemplo) no ambiente de trabalho, que seja tanto ou mais capacitado que um heterossexual?

São questões com as quais os estudiosos se deparam, buscando por respostas concisas, exatas e diretas. Mas, o que podemos adiantar é que a dificuldade para adentrar ao mercado de trabalho está sim relacionada a não aceitação do ‘diferente’, ou seja, daquele que agora tem visibilidade e que não se enquadra na heteronormatividade.

Segundo Lima (2012, p. 15) a exclusão de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e trangêneros, começam ainda na família e na escola:

[...] casos de rotulação e discriminação vividos por LGBTs no ambiente escolar prejudicam o futuro dessas pessoas, ao passo que a socialização se torna mais conflituosa e com isso, mais restrita. Ao encontrarem tantas diversidades no convívio escolar, muitos acabam cedendo e desistindo desse convívio. A partir daí eles passam a conviver com outras pessoas nas mesmas condições, o que acaba por gerar um gueto marginalizado e, de certa forma, excluído da vida social (LIMA, 2012, P. 15).

Nesse contexto, chegamos à conclusão de que assim inicia-se a separação dos LGBTs da vida social (sendo esse ponto acentuado ainda mais na vida de travestis e transexuais), dando margem para a vida obscura das ruas, e a procura por outros meios como forma de ganhar o próprio sustento, como por exemplo, a prostituição. Exclusão esta que vem carregada de estigmas e caracterizada pela própria cultura da sociedade como sendo uma vida infame.

Começa aí a peregrinação de uma boa parte daqueles que se enquadram no movimento, em busca de oportunidades no mercado de trabalho que, por sua vez, composto por empresários que rotulam o caráter e a capacidade profissional destes. Rótulos baseados apenas na sua orientação sexual e identidade de gênero.

6 PORTAS FECHADAS PARA LGBTs

Como se já não bastasse o fato de serem julgados pela aparência, identidade de gênero e orientação sexual, há também o fato comprovado de que mulheres (em geral) não recebem o mesmo salário quando equiparadas com homens que ocupam o mesmo cargo. Ou seja, uma diferenciação pelo fato de “ser mulher”, o que é expressamente proibido pela Constituição Federal:

[...] O artigo 7º, XXX, da Constituição Federal, que proíbe a diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil; ou então, o artigo 7º XVIII que dispõe sobre a licença à gestante em período superior à licença- paternidade e, ainda, o artigo 40, parágrafo 1º, III, a e b, bem como o artigo 201, parágrafo 7º, da Constituição Federal, que dão tratamento diferenciando à mulher, diminuindo o tempo necessário para se aposentar (CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 88, p. 27)

Os movimentos sociais cobram por mais políticas de inclusão. Projetos são feitos visando dar informação e, principalmente, visibilidade (grifo nosso) ao fato de que as portas do mercado de trabalho se fecham sim, sem sombra de dúvidas, quando pessoas se enquadram na sigla “LGBT”. E, também ao fato de que, quando essas pessoas conseguem com muita luta um “lugar ao sol”, esse lugar é restrito à apenas algumas profissões e com salários mais baixos se comparados com os salários recebidos por heterossexuais. Tudo isso devido ao preconceito e a falta de conhecimento dos empresários no que diz respeito à essa diversidade sexual. Muito já se foi percorrido na equiparação de gêneros, mas, não podemos deixar de lado que ainda há muito que se fazer para que haja mudanças positivas para a aceitação do “diferente”.

Essa batalha entre governo (juntamente com organizações de movimentos sociais) contra as diversas formas de preconceitos, tem em seu histórico conquistas e retrocessos. E esse processo, o de aceitação das diferenças sexuais, não é simples, é cheio de estigmas e com árduos processos de desconstrução social, cultural e religiosa.

7 MERCADO DE TRABALHO: características e dificuldades

Todos sabem o quão competitivo é o atual mercado de trabalho. Empresas, organizações e entidades buscam por pessoas qualificadas, que possuam conhecimentos técnicos, científicos, que tenham experiência em falar uma segunda (ou até terceira) língua, dentre outras capacitações. Diante de todas essas cobranças, Lima (2012, p. 20) deixa a seguinte questão: “se é época de mudanças, não seria também uma época para aprendermos a conviver melhor com as diferenças sexuais de cada um?”. Lima (2012, p. 20) ainda diz que “ com toda a competitividade existente no mercado de trabalho de uma forma geral, qualquer fator que coloque o indivíduo à margem da sociedade de alguma forma é fator excludente na hora de uma entrevista”.

As determinações para se ter uma vaga nesse mundo competitivo, são muitas, mas, quando se trata de negar a mesma vaga para um LGBT, essas determinações ficam subentendidas, isso porque não se pode caracterizar o preconceito ao excluir uma lésbica, um gay, um bissexual, uma travesti ou um transgênero, devido ao fato de que a empresa fica passível de receber um processo. As políticas preconceituosas não podem de forma alguma serem vistas (caracterizadas), mas, quando aparecem claras e nítidas, têm sim que serem combatidas e de forma alguma podem ser aceitas. Ainda segundo Lima (2012, p. 22):

[...] Não é incomum ouvir histórias de transexuais que dizem não terem conseguido estudar, que não se especializaram e não tem uma profissão que lhes garanta sustento, sem serem obrigados a recorrerem a prostituição. Em suas falas é frequente ouvir reclamações por precisarem se prostituir por não conseguirem empregos ou oportunidades de renda, sobrando-lhes apenas a rua como possibilidade de ganhos financeiros (LIMA, 2012, p. 22).

Outros estigmas, como por exemplo, as barreiras da masculinidade hegemônica (machismo), a resistência social, a imposição da estética e da beleza midiática, são outras barreiras enfrentadas pelos LGBT’s na busca por uma vaga nesse concorrido mercado de trabalho. Deixando, na maioria das vezes, um currículo excelente em segundo lugar, e dando mais espaço e mais créditos aos rótulos sexuais e de gêneros. E, quanto maior é a visibilidade que o movimento LGBT trás para essas pessoas, maior é a luta para que possam ser aceitos no mercado de trabalho, na família, na sociedade. Outra característica abordada pelos militantes e cientistas que focam neste tema é o fato de que, no contexto econômico, além de ser uma grande massa de mão de obra, as empresas devem se lembrar também de que essas minorias são consumidores. Ou seja, podem compor, além de um público interno (funcionários), o público externo e, como tal, possuem anseios, desejos e consomem produtos e serviços das mais diversas áreas.

Ainda são muitas as empresas que agem de modo conservador e, de modo imperceptível na maioria das vezes (pois cabe processo se a entidade barrar pessoas com algumas características, deixando a entender que se trata de racismo), não permitem a participação de LGBTs nos seus quadros de funcionários. Segundo Murade (2007) “[...] esta atitude reforça a exclusão e não possibilita a discussão dissenso necessários para que o público alcance a condição de cidadão e tenha condições para transformar a realidade”. Muito já se tem feito pra que essa realidade mude, porém, a caminhada ainda é longa.

7.1 MERCADO DE TRABALHO: discriminação de travestis e transexuais

Novamente há de se bater na tecla do preconceito e na falta de conhecimento por parte da sociedade com sua cultura machista e heteronormativa. Fatores que fazem com que a exclusão de travestis e transexuais seja ainda maior (chegando aos quase 100%), dando uma única saída para essas pessoas: as ruas (prostituição). As expectativas que este quadro melhore são muitas, porém, a vontade de se abrir ao conhecimento, de deixar de lado os rótulos, ainda é pouco visível.

Esse quadro piora quando se leva em conta que, para a OMS (Organização Mundial de Saúde), a transexualidade é enquadrada como um transtorno de identidade, deixando a entender que, ao invés de aceitação, ela precisa ser tratada. As lutas pra mudar este enquadramento não param e são feitas de todas as formas: debates, abaixo assinados, a fim de mudarem as políticas públicas para essas minorias. Segundo Lima (2012, p.12) “a busca de uma vida plena, em que as pessoas possam viver como querem e podem é o que impulsiona todos esses estudos e ações que visam incluir não só os transexuais, mas também todas as outras categorias de sexualidade, na sociedade”. Lima quis dizer com isso que, o simples fato de que a sociedade não aceita as características físicas de transexuais e travestis, faz com que estes vivam de forma precária, sub-humana, à margem da sociedade, sem um mínimo de expectativas de melhores condições de trabalho e dignidade.

As travestis e os transexuais são vítimas desde a infância, seja pela sociedade, na escola e na família. A revolta dessas pessoas ás vezes é inevitável. Seja sofrendo bullyng, ou sendo reprimidos (as) durante a infância, sendo obrigados a serem o que, no psicológico delas, não as faz bem, todos são estimulados a viverem em um ‘mundo paralelo’, onde o ‘se calar’ não é uma opção. E todos nós sabemos, quando nos calamos durante muito tempo, os riscos que isto trás ao organismo: doenças psicossomáticas.

[...] Transexuais tem um árduo percurso a fazer. Têm de passar por um grande tumulto psicológico, emocional e social, pra não falar em dor física e sacrifício econômico. (...) se um dos meus filhos revelasse, contudo, um transexual – ou tivesse disforia de gênero ou algum outro problema similar – eu esperaria de mim que me dispusesse a ouvir, aprender a aceitar. Embora que me entristecesse que ele ou ela tivesse de passar por tanta agonia emocional e tantos desafios físicos, eu iria amá-lo e apoiá-lo. (RAMSEY, 1998, p. 55)

Deixa claro então que a não aceitação (ou a aceitação) é feita e escolhida desde o início, na base de tudo: a família. Com este apoio básico, transexuais e travestis poderiam sim ter um ego mais forte e, consequentemente, poderiam enfrentar todas as barreiras que a sociedade impõe. Deixamos claro que, nos dias atuais, a expectativa de vida dessas pessoas não chega aos 33 anos, baseado em estatísticas divulgadas recentemente na mídia.

É época de mudanças então, deveríamos começar a adequar nossa forma de pensar sobre as diferenças sexuais e de gênero para que haja mais dignidade para todos e todas.

8 CONCLUSÃO

Muitos são os obstáculos que LGBTs enfrentam para conquistar a tão sonhada vaga de trabalho. Obstáculos que, no decorrer dos anos de luta de movimentos sociais (dentre eles, o movimento LGBT), foram sendo desfeitos, porém, ainda há muito que se fazer, ainda há batalhas a serem travadas para que vidas seja incluídas no básico de dignidade humana. O respeito ao próximo começa desde cedo, na família, indo se refletir na sociedade e no mercado de trabalho.

Numa época em que o acesso a informação não é mais restrito, ainda nos deparamos em casos em que pessoas são julgadas pelo modo como se vestem, como tratam seu corpo, ou seja, os rótulos são colocados de acordo com a conveniência, seja para julgar sem fundamentos, dar sua ‘opinião’ disfarçada de discurso de ódio, ou simplesmente para negar uma vaga no tão concorrido mercado de trabalho.

LGBTs são, acima de qualquer coisa, pessoas que buscam por respeito, algo que deveria ser uma obrigação de todos (dá-lo), pessoas que lutam diariamente contra o preconceito, contra uma sociedade baseada na heteronormatividade, machista, patriarcal. Preconceito que chega aos extremos, levando à morte centenas de LGBTs pelo simples fato da não aceitação do ‘diferente’. O assunto abre um leque de discussões a respeito da inclusão dessas minorias no mercado de trabalho, e trás também mais conhecimento em busca da igualdade entre os gêneros e do amor ao próximo.

9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Alban Lerrá Moura
Enviado por Alban Lerrá Moura em 30/05/2016
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