15 respostas sobre a teoria da evolução.
Muito se vê hoje na mídia em geral e particularmente na internet textos, artigos e blogs inteiros de pessoas e grupos ligados a algumas designações protestantes mais fundamentalistas questionando a Teoria da Evolução. Este pessoal muito dificilmente se dá sequer ao trabalho de tentar entender do que esta teoria realmente trata, ou mesmo de aprender um mínimo que seja sobre ciências a fim de poder compreender o que a própria palavra “teoria” significa, mas ainda assim insiste em questionar de forma ostensiva este corpo de conhecimentos que foi cuidadosamente elaborado por várias gerações de dedicados cientistas dos mais diversos campos de pesquisa (biologia, bioquímica, genética, geologia, paleontologia, física e etc...). E via de regra usam para isso argumentos baseados principalmente em falácias, informações obsoletas e mesmo mentiras deslavadas, que no mais das vezes repetem sem conseguir sequer perceber os absurdos que estão afirmando devido à falta dos conhecimentos mínimos para tanto.
As possíveis razões para a insistência neste tipo de atitude serão analisadas em um texto posterior. Neste artigo especificamente vamos procurar destrinchar algumas perguntas formuladas a partir dos argumentos espúrios usados para denegrir não apenas o que é uma das teorias mais influentes e importantes na história da ciência, mas a própria ciência em si e também os que dedicam sua vida a aprimorá-la ou ensiná-la aos nossos tão necessitados jovens. Isso não será feito em benefício dos próprios proponentes do criacionismo, que de qualquer forma não estão nem um pouco interessados em aprender nada sobre ciências mas apenas em justificar suas próprias crenças religiosas distorcidas. Que tais pessoas queiram iludir a si próprias com o apanhado de asneiras que colecionam e repetem sem se dar ao trabalho de compreender para tentar reforçar alguma fé vacilante que possuam é algo perfeitamente compreensível à luz da psicologia, e até certo ponto aceitável em uma sociedade livre. Contudo, devido à baixa qualidade do ensino em nosso país muita gente jamais teve a oportunidade de realmente aprender o que é a Teoria da Evolução, qual o seu escopo, quais as evidências que a sustentam e quais os fatos científicos que a comprovam. Torna-se portanto necessário alertar as pessoas que professam uma fé sincera mas que não tenham tido a oportunidade para adquirir os conhecimentos adequados sobre estas questões de cunho mais científico para que não sejam ludibriadas pelos enganos e mentiras criacionistas. Isso para evitar que acabem sendo atraídas para grupos que baseiam sua pregação em falsidade e engodos destinados a suprimir o raciocínio e o senso crítico de seus fiéis, criando desta forma uma massa de ignorantes facilmente manipulável sabe-se lá para que finalidade, mas que dificilmente seria a de salvar as suas almas.
Vamos então tentar responder de forma clara e facilmente compreensível algumas das questões que são exaustivamente repetidas pelos criacionistas como se fossem grandes mistérios não solucionados, mas que na verdade já possuem respostas muito bem conhecidas e em muitos casos sequer fazem parte do escopo da Teoria da Evolução em si, pertencendo a outros ramos dos estudos científicos. Algo que a maioria absoluta dos criacionistas, com sua fraca formação científica, parece jamais conseguir entender:
1- Origem da vida: Para começar, a Teoria da Evolução jamais teve a pretensão de explicar como surgiu a primeira forma de vida, pois seu escopo é justamente estudar como se diferencia a descendência dos ORGANISMOS JÁ VIVOS ao longo das gerações. A área específica da pesquisa científica que estuda a origem da vida em si é chamada Abiogênese. Este tipo de fronteira entre as diversas áreas de estudo não é nada estranho ou incomum, e sim a regra nas ciências em geral pois o avanço científico tornou o estudo em todos os ramos muito profundo e isso exige o trabalho de especialistas que se concentrem em cada campo específico. Afinal, nenhuma única pessoa pode almejar ser um gênio universal que entenda profundamente de todos os assuntos, pois além disso ser o cúmulo da falta de humildade seria inviável na prática, tamanha a quantidade de informações que precisaria ser apreendida, muito mais do que seria sequer concebível estudar durante o tempo de duração de uma vida humana. Um religioso pode até esperar que seu livro sagrado lhe dê todas as respostas para todos os temas imagináveis em um único texto, mas ninguém com um mínimo de discernimento deveria esperar e muito menos cobrar isso de qualquer campo de pesquisas ou teoria científica séria.
Dito isso, é importante frisar que também no campo da Abiogênese muito progresso científico já foi produzido. Já foi demonstrado muitas vezes, tanto por cálculos da física e da química quanto por experimentos em laboratório e através de observações astronômicas, que as moléculas de substâncias mais simples e comuns no universo como água, gás carbônico, nitrogênio, metano, amônia e etc... tendem naturalmente a se combinar quando estão disponíveis as condições adequadas (água líquida e alguma fonte de energia, que pode ser química, luz, calor ou mesmo radiação ionizante), gerando naturalmente moléculas orgânicas complexas que antes se acreditava serem produzidas exclusivamente pelos próprios seres vivos. Um teste de laboratório famoso embora até bastante simples, a experiência de Urey-Muller, (http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/biologia/experimento-miller.htm) demonstrou isso de forma definitiva. A matéria orgânica de origem abiótica pode e é criada na natureza, sem a necessidade de qualquer intervenção sobrenatural.
Ainda não se conhecem todos os passos que levaram destas substâncias orgânicas simples ou mais complexas formadas como mostra a experiência de Urey-Muller até o primeiro ser vivo, que justamente por viver em uma “sopa primordial” composta por moléculas orgânicas de origem abiótica podia dispensar muitos dos processos metabólicos que os seres vivos atuais necessitam para viver e crescer, e poderia portanto ser bem mais simples que a mais simples célula viva hoje existente. Mas já está claro que não é preciso uma força superior e transcendente para ordenar a matéria inorgânica até que um organismo primitivo pudesse surgir da matéria inanimada e começar a viver, se reproduzir e, então, evoluir. E a partir daí começa a se aplicar a Teoria da Evolução, que é o escopo deste presente artigo. Nem mesmo seria necessário que este organismo inicial fosse uma célula, em um ambiente onde moléculas orgânicas de origem abiótica estivessem disponíveis mesmo uma simples molécula de proteinóide já poderia iniciar a evolução, como veremos no próximo item. Mas deixaremos os detalhes específicos dos muitos avanços obtidos até agora no campo da Abiogênese para serem apresentados em um artigo posterior dedicado a este tema.
2- Como surgiu o código genético: Este é outro ponto que não diz respeito diretamente à Teoria da Evolução e sim à Abiogênese, mas apenas para não deixar passar em branco vamos tratá-lo com um pouco mais de profundidade aqui. Nas diversas variações já realizadas da experiência de Ulrey-Muller citada no item anterior, onde se tentava reproduzir os vários ambientes existentes na Terra primitiva, uma classe de compostos complexos que sempre se forma naturalmente à partir das substâncias iniciais são as bases nitrogenadas que compõem tanto as moléculas de DNA quanto de RNA (http://www1.univap.br/spilling/AB/Aula_3%20Sintese%20prebiotica.pdf). Ficou desta forma demonstrado que sim, todos os componentes necessários para a formação de moléculas básicas do código genético também podem surgir naturalmente nas condições encontráveis em planetas primitivos.
Embora não possam negar isso, uma crítica que os criacionistas fazem com relação a este ponto é que nas células vivas atuais é necessária uma complexa coordenação entre as atividades do DNA, do RNA , de proteínas e de enzimas para que as instruções contidas no código genético possam ser utilizadas para criar as substâncias exigidas pelo metabolismo ativo que hoje caracteriza a vida. No entanto, experiências de laboratório mais uma vez demonstraram a existência de diversos outros tipos de moléculas, muitas das quais surgindo ainda com muito maior frequência nas diversas variações da experiência de Urey-Muller, que apresentam também a capacidade de se duplicar e codificar informações, como por exemplo o PNA (Peptidic Nucleic Acid), o p-RNA (Pyranosyl-RNA), e até mesmo moléculas de proteinóides, que não incluem bases nitrogenadas. Exemplos deste último tipo de coisa são inclusive conhecidos na natureza, como os príons que causam a doença da vaca-louca e que embora sejam apenas simples moléculas de proteína alterada conseguem na “sopa orgânica” existente no interior das células cerebrais se reproduzir e inclusive evoluir sem a necessidade e até mesmo contra a interferência de moléculas codificantes como o DNA ou o RNA. Isto, aliás, é o que torna contagiosas as doenças causadas por príons (http://evolucionismo.org/profiles/blogs/charada-o-que-nao-vive-mas). Este caso dos príons inclusive demonstrou que não é sequer necessário um código complexo (ou mesmo uma célula, por falar nisso) para que os mecanismos da hereditariedade funcionem, a simples estrutura de uma molécula de um proteinóide (sequência de aminoácidos em tudo similar à uma proteína, mas sem função metabólica conhecida) com determinadas características já é o bastante.
Portanto, já está bem claro que os mecanismos hereditários, os quais são de fato um pré-requisito para a própria ocorrência da evolução em si, não dependem dos mecanismos de replicação do RNA e DNA existentes nas formas de vida celulares atuais para existir, e poderiam já estar em ação muito antes, nos primeiros organismos super-primitivos originados da sopa primordial abiótica. E com a presença de nucleotídeos de RNA e DNA disponíveis nesta “sopa” não seria de se estranhar que com o tempo e a ação da própria evolução mecanismos hereditários mais sofisticados e eficientes que os utilizassem (como os das formas de vida atuais conhecidas) acabassem surgindo, ao final causando a extinção dos sistemas mais simples como os que eram dominantes anteriormente. Ou seja, a própria complexidade do código genético que os criacionistas apontam como empecilho para o surgimento da vida pode perfeitamente ter surgido devido à ação da evolução.
Este é o ponto importante a se lembrar: A Teoria da Evolução não exige que as características hereditárias transmitidas de uma geração à outra dentro de uma população de seres vivos se dê por qualquer mecanismo específico, e muito menos pelo mais conhecido nas formas de vida atuais. Darwin sequer tinha ideia de qual seria este mecanismo nos animais e plantas que estudava ao propor a sua teoria, o que não o impediu de formulá-la. Tudo o que se exige é que as características sejam de alguma forma transmissíveis para que a evolução possa atuar, através da seleção natural. Os próprios mecanismos de transmissão hereditária utilizados pelos seres vivos de hoje podem por sua vez ter evoluído em um mundo de formas de vida muito mais simples.
3-Como as mutações criam informação genética útil: Esta é uma argumentação bastante comum entre os criacionistas, e refere-se à dificuldade que variações genéticas aleatórias teriam para produzir informação genética benéfica para os seres que as possuíssem. Mas na verdade isto é uma inversão da lógica: Imagina-se inicialmente uma característica de algum organismo que seja útil para uma função qualquer, consideram-se todas as instruções genéticas necessárias para que aquela característica venha a existir e depois se pergunta como todas aquelas instruções poderiam ter surgido de forma aleatória especificamente para produzir aquela característica.
Só que não é assim que a coisa funciona. Os organismos não olham em volta, percebem que poderiam viver melhor ou mais facilmente se tivessem esta ou aquela característica e depois “desenvolvem” as instruções genéticas para que ela venha a existir. O que ocorre primeiramente é que surgem informações genéticas alteradas ou novas, de forma completamente aleatória por algum dos diversos processos já conhecidos (recombinação, mutação, deslizamento, transpossonia, aneuploidia, euploidia e poliploidia, transferência horizontal de genes e etc...). Estas alterações são muito mais comuns do que se imagina, e ao contrário do que dizem os criacionistas a maioria absoluta delas não é nem prejudicial nem vantajosa, mas simplesmente neutra (http://www.darwin.bio.br/?p=44). Em certos casos a alteração causada por estes tipos de mudanças aleatórias do patrimônio hereditário é de fato desvantajosa para os organismos que a possuem, e eles então simplesmente não sobrevivem ou não deixam descendentes, e a nova característica logo desaparece. Mas como a quantidade de indivíduos que nasce em qualquer população saudável é muito maior do que a que sobrevive e consegue efetivamente se reproduzir, as perdas causadas por eventuais alterações desfavoráveis ao longo do tempo não exercem nenhum efeito maléfico sobre as populações em geral. Acontece apenas que os indivíduos menos adaptados de cada população perecem no lugar dos mais bem adaptados. Até Darwin, que já conhecia os estudos de Thomas R. Malthus sobre o crescimento das populações, estava plenamente ciente disso, 150 anos atrás.
Em alguns poucos casos, contudo, as alterações aleatórias (ou uma combinação delas) podem ser sim benéficas, seja para o organismo sobreviver no mesmo ambiente e da mesma forma que faziam seus ancestrais, seja em um ambiente diferente e/ou de alguma outra forma. E quando isso ocorre as vantagens reprodutivas que a alteração benéfica concede ao organismo que a possui faz com que ela rapidamente se espalhe, formando uma nova população diferente da original. É de fato raro isto acontecer, muito raro, mas não impossível, nem os próprios criacionistas se atrevem a afirmar isso. Até porque já foi observado na prática (http://evolutionacademy.bio.br/os-lagartos-de-pod-mrcaru-a-evolucao-diante-dos-nossos-olhos/) mais de uma vez, afinal, não é de outra forma que o mosquito da dengue sempre se adapta para resistir aos venenos utilizados contra ele. Ora, as populações na natureza consistem de milhares ou milhões de indivíduos de cada espécie, e a quantidade de novos indivíduos que nasce ao longo dos anos é enorme. Assim sendo, em períodos geológicos de milhares ou milhões de anos a frequência de mutações favoráveis não é nada pequena, mas sim bastante considerável. E quando elas acontecem todo um novo mundo de possibilidades evolutivas se abre para os descendentes do indivíduo alterado. E é exatamente isso que permite que as diversas populações sobrevivam ao longo do tempo e se adaptem às eventuais mudanças ambientais e ecológicas (e por isso os ambientalistas se preocupam tanto quando a população de uma espécie qualquer é reduzida a números muito pequenos). Com o tempo e o acúmulo, geralmente lento mas de forma alguma impossível, das alterações genéticas favoráveis, tem-se o surgimento de novas espécies, gêneros, famílias e assim por diante, até se chegar a toda a variedade de formas de vida que se pode observar na natureza.
Um ponto importante que se deve mencionar aqui é que os criacionistas entendem e aceitam estes conceitos básicos de descendência com alterações e seleção natural. Até porque isso é observado o tempo todo, qualquer pessoa percebe que os filhos sempre possuem alguma diferença com relação aos pais e todo mundo sabe que apesar de se usar veneno há décadas o mosquito da dengue ainda está por aí, firme e forte. Mas eles afirmam que as alterações percebidas seriam apenas as que já estivessem contidas no próprio patrimônio genético de cada espécie (ou como eles chamam, “tipo”), e insistem que o surgimento e posterior acúmulo de novas informações genéticas não ocorreria. Só que jamais se deram ao trabalho de tentar explicar qual ou quais seriam os mecanismos que impediriam o surgimento de novas alterações genéticas (até porque isso seria absurdo, pois como já foi mencionado existem não apenas um mas diversos processos que fazem exatamente isso e que são hoje bem conhecidos), nem tentam sugerir o que evitaria que estas alterações se acumulassem (o que também é observado continuamente tanto na natureza quanto em laboratório). Eles apenas negam isso de forma cega, sem sequer tentar explicar nada, e pronto. No máximo recorrem a citações fora do contexto, e para eles é o bastante.
4- O que é a seleção natural: Como discutido nos dois itens anteriores, o surgimento de novas características transmissíveis nas populações de todos os seres vivos é um fenômeno recorrente e até um tanto comum, já percebido diversas vezes na natureza e observado corriqueiramente em laboratório. O mesmo se dá com o acúmulo destas novas características. Agora, o que define quais alterações serão deletérias e portanto eliminadas da população, e quais serão benéficas e consequentemente preservadas, é a seleção natural.
Como visto acima, a seleção natural não é o mesmo que evolução, apenas os criacionistas afirmam isso quando tentam criar um “espantalho” da Teoria da Evolução para atacar. E como também já foi visto, sim, informação genética nova surge constantemente, e passa a fazer parte do patrimônio genético das populações. Então, porque a seleção natural atuaria apenas sobre as informações genéticas já existentes previamente e não sobre a nova gerada pelos diversos processos já citados (e que qualquer um pode conhecer e compreender usando simplesmente o Google)? Isso os criacionistas nem mesmo tentam explicar.
Agora, é evidente que a seleção natural não cria nada, estes processos aleatórios de alteração genética já mencionados no item anterior é que fazem isso, e a seleção depois apenas define quais destas alterações desaparecerão e quais serão disseminadas. É isso o que diz a teoria da Evolução. É mesmo assim tão difícil de entender?
5- A evolução das cadeias enzimáticas: Este é mais um ponto que nunca preocupou os pesquisadores dos processos evolutivos, porque a resposta é auto-evidente: As cadeias enzimáticas complexas evoluíram a partir de cadeias enzimáticas mais simples. Como, aliás, tudo o mais em se tratando de biologia.
Hoje são conhecidos diversos exemplos de processos bioquímicos muito complexos que envolvem grandes cadeias de reações enzimáticas, e que surgiram a partir de processos muito mais simples porém menos eficientes ou ainda que originalmente eram empregados para outras funções metabólicas pelos organismos que os apresentavam. Um exemplo notório é a hemoglobina dos vertebrados superiores e do homem (http://www.ciencianews.com.br/arquivos/ACET/IMAGENS/cds_livros/Doen%C3%A7a%20das%20c%C3%A9lulas%20falciformes/Cap%C3%ADtulo%2003.pdf), além de outras formas de transportadores de oxigênio no sangue de outros animais que sequer utilizam a hemoglobina (http://evolucionismo.org/profiles/blogs/a-evolucao-dos-peixes-do-gelo-channichthyidae-uma-historia-molecu).
Outro exemplo muito interessante surgiu de um estudo que já dura mais de 25 anos sobre a evolução de cepas bacterianas em meios de cultura laboratoriais, e que permitiu determinar os mecanismos genéticos exatos de formação de uma nova cepa de bactérias antes inexistente, a qual mostrou ser capaz de digerir açúcares complexos que suas ancestrais não podiam metabolizar. Uma cadeia de 3 mutações aleatórias, independentes e sequenciais, ocorreu no DNA de uma determinada população de bactérias ancestrais, as duas primeiras praticamente não alterando o seu metabolismo e consequentemente sem fazer qualquer diferença em sua capacidade de sobrevivência e adaptação (exemplo de mutações neutras – como já mencionado). Apenas a terceira mutação, somando-se às duas anteriores, gerou em uma bactéria a capacidade de digerir os açúcares mais complexos. E os descendentes desta bactéria “aperfeiçoada” geraram uma nova espécie, que rapidamente substituiu a de suas “primas” menos adaptadas no meio de cultura. E isso foi observado em tempo real, com cada passo podendo ser acompanhado e registrado em todos os detalhes pelos cientistas envolvidos (http://hypescience.com/um-experimento-de-25-anos-observou-a-evolucao-em-acao/). Se tal coisa pôde acontecer em menos de 3 décadas, o que se poderia esperar no tempo de existência da vida na Terra, em torno de 3,5 bilhões de anos ou mais?
Muitíssimos outros exemplos são conhecidos, a ponto de existirem equipes inteiras em laboratórios ao redor do mundo todo estudando este tipo de coisa. Porque será que os criacionistas jamais mencionam estes fatos (muito pelo contrário, negam cegamente que existam ou tenham acontecido) quando discutem a evolução (http://evolucionismo.org/profiles/blogs/como-distorcer-a-genetica-e-a-biologia-evolutiva-muita-ignorancia)?
6- A aparente “aparência de criação” dos seres vivos: Vamos raciocinar um pouco: O que se esperaria de um processo em que os seres vivos evoluíssem e se adaptassem ao seu ambiente (incluindo aí as interações entre as diversas espécies vivas e entre os indivíduos dentro de cada espécie), com as características novas surgindo e sendo favorecidas pela seleção natural como descrito nos dois itens anteriores? Que as criaturas resultantes após milhões e milhões de anos parecessem inadequadas, toscas e mal adaptadas ao nicho ecológico em que vivessem? Evidentemente que não, muito pelo contrário, criaturas assim já teriam perecido sem deixar descendência há muito tempo. Os sobreviventes seriam sem dúvida muito bem adaptados, com diversas características que os permitiriam aproveitar de forma muito eficiente o meio ambiente em que vivessem e os recursos nele disponíveis.
Mas então, se o que se esperaria seriam justamente formas de vida perfeitamente funcionais e muito bem adaptadas ao mundo em que elas vivem, como elas poderiam não parecer especialmente projetadas para os ambientes e formas de subsistência que levam, por mais que na verdade não o tivessem sido? O que então esta “aparência de projeto” dos seres vivos deveria demonstrar? Vê-se assim claramente que esta na verdade é uma não-questão desprovida de qualquer sentido, o fato das criaturas parecerem projetadas simplesmente mostra o resultado do processo de adaptação evolutiva ao longo do tempo, justamente o que seria de se esperar.
Contudo, caso os seres vivos tivessem não evoluído de outras formas de vida diferentes mas sim sido criados por um projetista inteligente, oniciente e todo-poderoso, seria de se esperar que sua adequação ao ambiente seria maximizada, e cada pequeno detalhe de sua anatomia deveria ser totalmente funcional e útil à sua sobrevivência, sem redundâncias ou estruturas inúteis. Estas estruturas não perfeitamente adequadas e/ou funcionais por outro lado deveriam ser esperadas caso as criaturas tivessem evoluído, e estivessem em processo de adaptação a novos ambientes ou novos modos de sobrevivência. O que nos indica então a existência de diversos exemplos na natureza de órgãos e estruturas vestigiais e não funcionais nas mais diversas espécies conhecidas (asas vestigiais em casuares, kiwis e outras aves não-voadoras, olhos existentes mas atrofiados e não funcionais ou nervos óticos que não se conectam a olho algum em criaturas que vivem em cavernas, cintura pélvica e ossos internos remanescentes dos membros traseiros em baleias, golfinhos e serpentes, nervuras foliares em carpelos de flores, o músculo plantar humano, os pseudogenes comuns às mais variadas espécies e etc...) ?
Tais estruturas são facilmente explicáveis à luz da Teoria da Evolução, como órgãos que perderam sua função pela adaptação daquela população de criaturas a um ambiente ou meio de vida para o qual eles não eram mais úteis, e portanto se reduziram (ou estão se reduzindo) até deixarem de ter qualquer efeito adaptativo. Mas se estas criaturas foram projetadas, a única explicação para a existência de tais estruturas seria a intenção deliberada do projetista de enganar os pesquisadores por mais boa-fé que tivessem, dando-lhes a impressão falsa de que estes animais teriam evoluído de outras formas de vida quando este não seria o caso. O que só poderia ter como objetivo fazer estes pesquisadores, sem nenhum motivo para isso, incorrerem em erro e colocarem em risco grave a sua alma imortal, mesmo sendo eles homens bons e tementes a Deus (sim, pois nunca foi necessário abandonar a fé em Deus para compreender e aceitar a evolução das espécies).
A questão importante que surge então é: Porque algumas pessoas escolhem acreditar nesta imagem de um Deus capcioso, mesquinho e cruel que surge quando se adota a hipótese criacionista?
7- Como surgiu a vida multicelular: Este tipo de pergunta demonstra apenas o nível de ignorância que os adeptos do criacionismo tendem a mostrar. O surgimento da multicelularidade é um fenômeno até relativamente comum, que já foi detectado em diversos grupos de criaturas existentes, das algas marrons aos animais, e pode ser explicado de forma até relativamente simples (http://biogeolearning.com/site/v1/biologia-11o-ano-indice/evolucao-biologica/origem-da-multicelularidade/). E o mesmo fenômeno continua acontecendo ainda hoje com criaturas como o Volvox e os protozoários coloniais (http://www.planetainvertebrados.com.br/index.asp?pagina=especies_ver&id_categoria=28&id_subcategoria=&com=1&id=205&local=2).
Ele já foi também induzido em culturas de leveduras e algas em laboratório, simplesmente através da criação de processos de seleção que favoreciam os organismos de maior peso ou tamanho (http://allthatmattersmaddy32.blogspot.com.br/2012/09/evolucao-da-celula-multicelularidade-no.html) e (http://www.carloshotta.com.br/brontossauros/2008/12/15/como-surgiram-os-organismos-multicelulares.html). Ou seja, ao invés de um grande mistério na verdade esta é uma transição já bem conhecida e até reproduzida experimentalmente (hoje isso é feito até mesmo em escolas secundárias).
Mas ao que parece este é mais um dos fatos que os criacionistas jamais se deram ao trabalho de descobrir que existem, ou simplesmente decidem negar cegamente confiando em que as pessoas jamais irão conferir a verdade.
8- O surgimento e a importância do sexo: Os registros geológicos mostram que durante os três primeiros bilhões de anos de existência da vida no planeta Terra as formas orgânicas eram todas bastante simples, de tamanho microscópico e com estrutura celular do mesmo tipo que se pode observar em microorganismos como as bactérias e arqueias existentes até hoje. E estas formas de vida primitivas se reproduzem geralmente de forma assexuada, por simples divisão. Desta forma os novos indivíduos tendem a ser cópias perfeitas de seus progenitores, e apenas a ocorrência das alterações genéticas (pelos processos já mencionados em outros itens anteriores) é que permitiam a sua evolução e adaptação a novos ambientes, um processo em geral relativamente lento.
Contudo, ao longo do tempo estes mesmos processos somados a um outro, conhecido como combinação e que consiste na fusão de células de organismos diferentes para formar um organismo novo e mais complexo (http://www.recantodasletras.com.br/artigos/5550873) acabou gerando novas criaturas de estrutura muito mais sofisticada e complexa, que embora tivessem algumas vantagens metabólicas sobre os organismos mais simples (capacidade de resistir a ambientes mais agressivos, de utilizar maior variedade de fontes de alimento e etc...) apresentavam, por sua própria complexidade, uma taxa reprodutiva menor. Isto os colocava em desvantagem competitiva, pois com menores taxas reprodutivas sua capacidade de adaptação a alterações ambientais e ecológicas por via dos processos evolutivos já existentes era também mais lenta. Um impasse evolutivo, que pelos registros geológicos parece ter durado bilhões de anos, desde algumas centenas de milhões de anos após surgimento da vida na Terra (que ocorreu há uns 3,5 bilhões de anos ou mais) a até pouco mais de um bilhão de anos atrás.
Então, através dos processos evolutivos já descritos de alteração genética, combinação e seleção natural, uma forma diferente de processo reprodutivo surgiu. Como sempre ela não veio do nada, consistiu em modificações dos vários processos de transferência horizontal de genes que mesmo as bactérias mais primitivas já utilizavam desde sabe-se lá quando (https://pt.wikipedia.org/wiki/Transfer%C3%AAncia_horizontal_de_genes). Espécies de organismos ainda unicelulares e microscópicos, como os protozoários e algas, que eram também capazes de se reproduzir por divisão simples, em certas circunstâncias desenvolveram a capacidade de combinar o patrimônio genético de diferentes indivíduos, dando origem a um tipo ainda primitivo de reprodução sexual. Isto pode ser observado ainda hoje em diversas espécies destes seres (http://www.zoo1.ufba.br/repprot.htm).
Ora, com a combinação do patrimônio genético de dois indivíduos diferentes surgiu uma nova forma de criação de alterações genéticas, que não mais dependia de acidentes aleatórios e raros nos processos de replicação dos genes (mutação, deslizamento, etc…). Agora a cada evento reprodutivo uma nova combinação de genes era criada, unindo características que cada organismo inicial havia acumulado ao longo de inúmeras gerações anteriores. Isso resultou em uma enorme aceleração do processo evolutivo, aumentando exponencialmente a capacidade de adaptação destes protozoários e algas e permitindo que eles assim competissem de forma muito mais eficiente com as bactérias mais simples. As bactérias podiam sim se reproduzir mais rápida e eficientemente, mas as novas criaturas que utilizavam a reprodução sexual podiam evoluir muito mais velozmente, uma enorme vantagem adaptativa.
E conforme tais protozoários evoluíam, desenvolviam a vida em colônias (http://www.planetainvertebrados.com.br/index.asp?pagina=especies_ver&id_categoria=28&id_subcategoria=&com=1&id=205&local=2) e criavam especialização entre as diversas células de cada colônia, as linhagens que utilizavam mais amplamente a reprodução sexual puderam evoluir muito mais rapidamente, acabando por gerar os organismos multicelulares que herdaram a capacidade de reprodução sexual de seus ancestrais unicelulares. O resto é história. Os detalhes das diversas formas de reprodução sexual hoje conhecidas entre animais e plantas evoluíram à partir dos processos bem mais simples e diretos utilizados por seus ancestrais unicelulares e coloniais, e garantiram a velocidade da evolução que em apenas 600 milhões de anos levou das formas de vida extremamente simples do período Ediacarano ao homem. Os detalhes de cada linha evolutiva da reprodução sexual ainda são debatidos (afinal, este tipo de coisa raramente fica registrado nos fósseis), mas o quadro geral não representa mais nenhum grande mistério (http://pergunte.evolucionismo.org/post/6060020444).
9- Os fósseis transicionais: Esta questão é uma das maiores provas da desonestidade dos proponentes do criacionismo. Afinal, apesar da enorme dificuldade dos processos de fossilização que limitam em muito o que se poderia esperar que os paleontólogos conseguissem hoje encontrar, a quantidade de fósseis de formas transicionais já descobertos é imensa, com vários milhares de espécies tendo sido descritas apresentando características intermediárias dentro e entre os mais diversos grupos de criaturas animais e vegetais presentes no registro fóssil e vivendo atualmente. As linhas evolutivas de diversos filos, classes, ordens e famílias específicos estão muito bem documentadas pelos fósseis, dos trilobitas aos dinossauros e o próprio homem, e muitas das grandes transições entre grupos distintos que um dia foram considerados completamente independentes entre si já são conhecidas e perfeitamente compreendidas. Qualquer busca rápida pela internet permite descobrir textos, artigos, fotos e muito mais sobre estas formas transicionais encontradas no registro fóssil e que os criacionistas negam cegamente existir. Como sugestão pode-se começar pelo seguinte link: https://pt.wikipedia.org/wiki/F%C3%B3ssil_de_transi%C3%A7%C3%A3o . Visitas a muitos museus do mundo permitem também observar diretamente a existência destes fósseis, coisa que milhões de testemunhas oculares já tiveram a chance de fazer e ainda fazem a cada ano.
Ainda assim, para enganar os incautos os desonestos criacionistas abusam de citações fora do contexto, como menções às dúvidas do próprio Darwin (mais do que naturais, já que à época dele a paleontologia estava ainda na sua infância - e todas já esclarecidas há décadas) ou frases pinçadas dos livros de eminentes pesquisadores da evolução que discutem os mecanismos e a sequência exata seguida pelos processos evolucionários ao longo dos eons com vistas a elucidar os detalhes do que aconteceu durante o desenvolvimento da vida na Terra, mas que nem de longe pretendem questionar o fato da própria evolução em si, muito pelo contrário. Ou tentam ainda apelar para a pura semântica, pois muitas vezes simplesmente não existe uma palavra ou expressão oficial reconhecida em uma dada língua para designar criaturas que não podem ser enquadradas precisamente em uma ou outra categoria biológica já estabelecida. Eles enganosamente insistem, por exemplo, que um fóssil com características ao mesmo tempo de dinossauro e de ave, ou entre um animal terrestre e um cetáceo, tem necessariamente que ser uma coisa ou outra, ao invés de um intermediário – afinal, não existe uma palavra para designar algo que estava entre um e outro grupo. No entanto, a quantidade de fósseis transicionais entre diversos grupos é tamanha que algumas novas categorias já foram propostas e passaram a ser de uso comum entre os cientistas, como “peixápodes”, “répteis-mamaliformes” e “hominídeos”, entre muitas outras.
É realmente vergonhoso para os criacionistas insistirem na negação destes fatos, que qualquer pessoa com o mínimo de paciência e interesse pode verificar por si mesma em poucos minutos na internet. Mas isso não os impede de continuar a fazer exatamente isso, o que revela muito sobre que tipo de gente eles são.
10- Os fósseis vivos: Esta é uma questão completamente sem sentido que ainda assim os criacionistas costumam levantar, demonstrando sua total falta de compreensão sobre os mecanismos evolutivos. Ninguém no meio científico jamais postulou que a evolução seria um processo obrigatório, que toda e qualquer população de criaturas vivas precisaria necessariamente mudar ao longo do tempo e de alguma forma pré-definida. Muito pelo contrário, o que a Teoria da Evolução define é que algumas populações de qualquer espécie mudam ao se adaptar a ambientes ou nichos ecológicos novos, enquanto outras populações da mesma espécie permanecem vivendo onde e como sempre viveram, e por isso não mudam de forma significativa. Este é o próprio processo pelo qual novas espécies são criadas, que vai continuamente se repetindo e as alterações se acumulando até que as diferenças entre as populações descendentes são tão grandes que formam novos gêneros, novas famílias e por aí vai. Mas as espécies bem adaptadas a algum ambiente específico, ou que se mostrem aptas a sobreviver em muitos ambientes diferentes, não tem porque mudar e permanecem basicamente as mesmas por tempo indefinido.
Isto vem acontecendo há centenas de milhões de anos em nosso planeta, com algumas populações evoluindo para novos ambientes e gerando diversas novas formas de vida enquanto outras permanecem fazendo o que sempre fizeram em nichos ecológicos aos quais já estão bem adaptadas, e assim não mostram grandes alterações ao longo do tempo. Qualquer estudioso da evolução sabe deste fato, ele é bem conhecido desde sempre pelos cientistas. Mesmo Darwin já conhecia perfeitamente bem grupos inteiros que permaneceram praticamente imutáveis ao longo das eras, como os tubarões, as salamandras ou os braquiópodes. E isso nunca causou nenhum embaraço à sua Teoria da Evolução.
11- O problema da mente consciente: Como já explicado anteriormente logo no primeiro item deste artigo, os campos da pesquisa científica são divididos por áreas de especialidade, de forma a permitir que os cientistas se dediquem a cada campo com o nível de profundidade necessária para serem produtivos. E isso se aplica também à intrigante questão da origem da consciência, que apesar de importante e misteriosa é assunto para áreas como a psicologia e a neurologia, e não da Teoria da Evolução (embora diversos aspectos específicos da consciência sejam sim estudados à luz dos princípios evolutivos, na chamada Psicologia Evolutiva).
Existem de fato evidências reais de que a consciência não seja apenas um produto da atividade físico-química do cérebro, o que é discutido em um artigo de minha própria autoria já publicado aqui no Recanto (http://www.recantodasletras.com.br/artigos/1675884). É possível sim que exista um outro nível de realidade ainda não percebido, ou pelo menos não identificado como tal pelos métodos científicos atuais. E pode até mesmo ser que a mente humana (e quiçá a de outras criaturas vivas) possa existir e se manifestar neste outro plano de existência, fora da percepção normal.
Mas isso não tem nada a ver com a Teoria da Evolução, que estuda como os CORPOS FÍSICOS dos seres vivos neste plano de existência que conhecemos se desenvolveram. O simples fato de poder existir uma realidade maior e mais complexa do que aquela a qual os cientistas tem acesso e podem estudar atualmente não implica na obrigatoriedade de se aceitar como literal o que é dito em algumas passagens de um livro escrito por um povo primitivo milhares de anos atrás. Afirmar isso seria o mesmo que insistir que a existência da matéria escura (que os cientistas também não tem conhecimento do que possa ser) é prova da existência de unicórnios cor-de-rosa. Uma coisa não tem nada a ver com a outra.
12- A crença em histórias sem evidências corroborantes: Como já mostrado em muitos dos itens anteriores, não existem apenas evidências da evolução como o registro fóssil, os órgãos e estruturas vestigiais ou os marcadores genéticos. Existem também fenômenos bem conhecidos e experiências laboratoriais reprodutíveis que demonstram, explicam e comprovam diversos de seus mecanismos.
Por outro lado, o criacionismo tem como única base uma interpretação semi-literal dos dois primeiros capítulos do livro do gênesis da Bíblia (sim, apenas semi-literal, pois se interpretada de forma totalmente literal a descrição lá presente de um Deus que apenas percebia que aquilo que estava criando era bom após ter completado o trabalho indicaria uma divindade não-onisciente, o que é inaceitável pelos mesmos proponentes do criacionismo). Não existe corroboração de nenhuma outra fonte com relação a isso, nenhuma evidência geológica, paleontológica, física, química astronômica ou de nenhuma outra natureza que sustente esta hipótese. Não existem pesquisas científicas sobre o criacionismo publicadas (embora existam uns poucos cientistas que sejam cristãos fundamentalistas e se declarem criacionistas – mas eles não publicam artigos baseados em suas crenças) e todo o trabalho intelectual dos criacionistas visa tentar desbancar a Teoria da Evolução por qualquer meio, de forma nem sempre honesta como visto acima, o que não seria de se esperar em verdadeiros cristãos.
13- Teoria da Evolução e progresso científico: Como um dos campos mais nobres da atividade humana, a ciência não é feita apenas para que se obtenham vantagens materiais e financeiras, e sim para ampliar o conhecimento humano sobre o universo e como ele funciona. Muitos cientistas a encaram inclusive como uma forma de tentar compreender a mente de Deus (e não há nenhum problema nesta visão). Como ocorre em muitos campos científicos, contudo, a Teoria da Evolução vai além do fornecimento de explicações para os fenômenos observados no mundo ao nosso redor, e tem sim diversas contribuições a dar ao progresso da sociedade atual. Ela forneceu e ainda fornece o próprio combustível para múltiplos avanços tecnológicos nas mais diversas áreas, a ponto de hoje boa parte dos avanços científicos mais importantes serem diretamente ou indiretamente decorrentes desta teoria. Senão vejamos:
Foi a busca pela compreensão dos mecanismos da hereditariedade que motivou a descoberta e o estudo do código genético e de seus processos de funcionamento, e que levou aos diversos avanços atuais da engenharia genética, na medicina e até nos processos judiciais. Foi o estudo dos processos evolutivos que permitiu perceber como surgiam a resistência de micro-organismos aos antibióticos e de pragas da lavoura aos inseticidas, mudando a forma como é feita a aplicação de remédios nos pacientes de infecções e levando à rotatividade dos agentes tóxicos nas plantações, justamente para evitar a evolução de populações resistentes. Foi a observação experimental da evolução da multicelularidade, motivada pela tentativa de esclarecer esta importante etapa da evolução, que incrementou a compreensão dos mecanismos genéticos e bioquímicos que levam ao surgimento do câncer. Mais recentemente, o Prêmio Nobel de química de 2018 foi atribuído à pesquisas que utilizam os princípios evolutivos para a criação de substâncias com diversas aplicações, inclusive medicinais (https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2018/10/nobel-de-quimica-de-2018-vai-para-o-aproveitamento-do-poder-da-evolucao.shtml). Muitíssimos outros exemplos poderiam ser citados, a lista dos avanços trazidos direta ou indiretamente pela Teoria da Evolução é muito, muito longa. E os avanços produzidos pelos conceitos que sustentam a Teoria da Evolução já eram úteis mesmo antes de Darwin escrever o livro “A Origem das Espécies”. Foi o reconhecimento de que a distribuição estratigráfica dos fósseis em camadas representava diferentes eras evolutivas da vida no planeta que facilitou a busca pelas jazidas de carvão que possibilitaram os grandes desenvolvimentos da revolução industrial.
Ou seja, a importância científica e tecnológica da Teoria da Evolução, e mesmo isoladamente de alguns dos conceitos básicos que lhe dão sustentação, não pode ser minimizada.
14- Ciência e experimentação: Um dos métodos mais importantes da pesquisa científica é sem dúvida a realização de experimentos controlados em laboratório, os quais permitem reproduzir os fenômenos que são representativos das diversas teorias científicas existentes. E como já visto nos itens anteriores, existem sim várias experiências de laboratório que permitem comprovar a ocorrência dos mecanismos evolutivos e destrinchar o seu funcionamento.
Contudo, não é apenas de experiências em laboratório que vivem as ciências. Diversos ramos científicos bem estabelecidos, como a geologia, a história, a astronomia e até mesmo a criminalística dependem da observação e não de experimentos ativos. Não é possível reproduzir os fatores culturais e históricos que levaram ao surgimento, desenvolvimento e quedas das civilizações, e seu estudo tem que se basear apenas nos achados arqueológicos das poucas ruínas e objetos criados por estes povos antigos e que podem hoje ser encontrados. Mas ninguém em sã consciência discute o fato da história ser uma ciência. Também os fenômenos geológicos de grande escala, como a deriva continental, a elevação das montanhas ou a formação de diversas espécies de minerais não podem ser reproduzidos em laboratório nem acompanhados em tempos real, por se darem em escalas de tempo muito longos. No entanto ninguém questiona o status de ciência séria da geologia. Da mesma forma ocorre com os fenômenos astronômicos como a formação de estrelas e planetas ou a rotação das galáxias. No entanto ninguém pensa em afirmar que a astronomia se baseia apenas em hipóteses indemonstráveis e na pura fé. Por fim, se fosse aceito como “prova” somente o que pudesse ser reproduzido novamente em laboratório quase nenhum criminoso que não fosse pego em flagrante poderia jamais ser condenado.
Evidentemente, exigir comprovação experimental direta para classificar algum corpo de conhecimento humano como ciência é um non-sense que nem deveria precisar ser discutido.
15 – O ensino da teoria da evolução nas escolas: Por tudo o que foi mostrado acima fica claro que a Teoria da Evolução se baseia em uma série de observações e experiências científicas muito sérias, englobando diversas disciplinas que vão da física quântica (base dos métodos de datação dos fósseis) à genética e à ecologia. Pudemos observar também os diversos avanços que ela trouxe e ainda traz para a sociedade moderna. Por isso a Teoria da Evolução, já faz bastante tempo, é considerada um sólido, produtivo e importante campo da pesquisa científica. E como consequência as autoridades de todos os países civilizados cuidam para que seus princípios sejam ensinados a todas as novas gerações em suas escolas.
Já o criacionismo não passa de uma crença religiosa fundamentada apenas em uma visão muito particular de um pequeno trecho do primeiro livro bíblico, e nem sequer se preocupa em obter qualquer corroboração científica (se contenta em afirmar, como já vimos sem razão, que a teoria da evolução também não a teria). Por isso a justiça americana já julgou contra o ensino do criacionismo nas escolas daquele país lá atrás em 1925 (http://jornalggn.com.br/blog/jb-costa/ha-90-anos-o-julgamento-da-teoria-da-evolucao-nos-eua). E novamente agora, em 2005, a sua nova roupagem conhecida como Design Inteligente foi também julgada como sendo apenas a manifestação de crenças religiosas, e mais uma vez proibida nas escolas americanas (http://academico.direito-rio.fgv.br/wiki/Aula_4:_A_ci%C3%AAncia%C2%A0vai_a_julgamento%C2%A0I:_Kitzmiller_vs._Dover,_ou_Dawin_vs._Deus).
Infelizmente, porém, os criacionistas não desistem. Eles continuam renovando suas investidas, publicando suas mentiras e bobagens em livros de editoras não-científicas e em inúmeros sites na internet, além de promover palestras e eventos em suas igrejas e tentar impor o ensino de suas crenças religiosas fundamentalistas não apenas nas escolas que eles próprios mantém, mas também no ensino público que é bancado com os impostos de todos os cidadãos, inclusive dos que não concordam com as suas crenças religiosas.
Esta é uma tentativa muito grave de manipular as mentes vulneráveis de nossas crianças através da apologia da ignorância e da mentira pura e simples, para inculcar nelas uma crença fundamentalista sem nenhuma base científica e que não tem nem mesmo a concordância da maioria dos praticantes de religiões cristãs, como católicos, batistas, anglicanos e etc..., os quais aceitam a Teoria da Evolução das espécies sem o menor problema. E todos os que se preocupam com um futuro saudável e próspero para nossa sociedade devem estar atentos para evitar que estas influências com potencial tão pernicioso consigam prosperar e contaminar nossa população, já tão castigada pelo irracionalismo e pela falta de conhecimento e de espírito crítico.