Tecnologia da Informação, vulgo TI

Ah, os anos 2000! Carros sem rodas flutuando sobre as ruas, um computador em cada carteira escolar, robôs fazendo para você todas as tarefas domésticas aborrecidas, e a grande dúvida que não saía da cabeça de ninguém: "devo passar minhas férias na Lua ou em Marte?"

Estes delírios todos passavam por minha cabeça no princípio dos anos 80 enquanto criança, entrando na adolescência. Um futuro "longínquo" que começou a me parecer mais concreto depois que aprendi a fazer contas: "Ei, espera lá! Terei 25 anos no ano 2000!", pensava agitado, vendo os números na minha folha de cálculos sem acreditar. "Ainda estarei vivo quando isto começar a acontecer, e jovem!!"

De uma hora para outra este "Mundo do Futuro" que adorava ver em filmes e desenhos animados deixou de ser uma realidade distante para mim, e se tornou uma promessa próxima, prestes a se concretizar em poucos anos! Comecei a me interessar por computadores nesta época. Tive sorte? Acho que sim, pois coincidiu com a época em que começavam a aparecer os microcomputadores domésticos! (ao menos aqui no Brasil, com sua secular fama de sempre receber os avanços tecnológicos atrasado, depois que o mundo todo já se fartara delas...)

Aprendi minha primeira linguagem de programação antes mesmo de ter um computador à disposição para testar meus programas. A velha, boa e injustamente criticada linguagem BASIC. Rápido aprendi sua estrutura, e criei meus primeiros programas nela. Como testá-lo sem computadores? Eu mesmo era o computador! Simulava e interpretava linha por linha de meu programa. Um pedaço de papel era minha "memória temporária", escrevia de leve com lápis os valores atribuídos às variáveis do programa para ser fácil apagar e trocar seus valores com o correr do processamento. E ao ter acesso a meu primeiro computador por volta de 1986 ou 1987, que deliciosa surpresa foi descobrir que todos os meus programas, antes só funcionando em minha imaginação, funcionavam num computador de verdade! A sensação foi simplesmente indescritível...

Mas esta história toda de simular "na mão" programas de computador me abriu os olhos para outra área que nem imaginava. Aqueles algoritmos de ordenação, o processo de criar soluções passo a passo, pacientemente... Aquilo me atraiu para outro campo normalmente odiado por todos: a famigerada Matemática!!!

Entendam, sou péssimo para fazer contas "de cabeça"! Pior que a maior parte das pessoas, que nem se interessam tanto assim pela Matemática! Cálculos mentais rápidos me irritam! Não gosto deles! Mas os algoritmos me fascinam! Alinhar dois números para multiplicação... escrevê-los linha por linha, para cada dígito do multiplicador, deslocá-los uma casa por vez e depois somá-los, obtendo ao fim o resultado da operação... É ESTE processo que me interessa, independente dos números em si. Nunca me interessei pelos casos particulares, mas pelo geral, pelo algoritmo destas coisas!

Em 1992 faltavam 8 anos para chegar o ano 2000. E não via aquelas promessas todas do "Mundo do Futuro" começando a se concretizar. Os carros ainda tinham rodas de borracha, caramba!!!! Me parecia que sete anos não seriam suficientes para se desenvolver os carros baseados em levitação magnética! Comecei a ficar preocupado... E decidi estudar mais a fundo os detalhes tecnológicos envolvidos naquele meu sonho, num curso técnico que aliava noções de mecânica e eletrônica a uma forte base de informática, para manipular estes componentes burros de uma forma mais inteligente, usando um programa. Queria entender por que estava tão difícil assim fazer o "Mundo do Futuro" começar a acontecer...

Entrei em 1995 no curso de Matemática. Não vou falar mal dele. Deve ser perfeito pra muita gente! Mas logo me transferi para Ciências da Computação, que parecia mais coerente com o que eu queria. Nova decepção... :-(

Me saí muito bem a princípio! Me ensinavam lógica de programação, algo que já havia aprendido por conta própria desde a adolescência. Confesso que só participava ativamente de algumas aulas para tentar acelerá-las, por não entender como ninguém sabia responder àqueles problemas óbvios que os professores apresentavam. Nunca quis aparecer de forma alguma, eu só estava impaciente e queria que a aula avançasse rápido, que me apresentassem coisas novas, coisas que ainda não sabia.

Com o tempo a Computação foi se misturando à Matemática. Preparar para o mercado de trabalho? Formar programadores? Não conheço os demais cursos de computação, mas o que eu fiz não preparava para nada disso! Como diz o Dimitri num texto anterior (http://aparteboadainternet.blogspot.com.br/2013/04/pessoas-profissionais-e-profissoes.html), o curso parecia empenhado em se "auto-reproduzir", em formar professores de computação para os cursos futuros. Não tomem como regra minha opinião! Acredito que existam cursos bem mais práticos por aí!

Enfim chegam os anos "2000". Robôs domésticos? Onde? Carros flutuantes? Viagens interplanetárias? Erraram em tudo! Quase tudo... Quase existia um computador em cada casa. E existia uma rede de comunicação planetária em evolução visível, chamada Internet! Apesar das decepções, era reconfortante verificar que pelo menos alguma coisa haviam acertado nas previsões de 25 anos atrás.

Despertei em 2000. Novo século? Ah, que mentira! 2000 ainda é século 20! O século 21 só começava em 2001! Havia desistido de meu curso nos minutos finais do segundo tempo. Mas precisava trabalhar, não é? Em quê? "Oras bolas!", eu pensei, "em que fui me especializando este tempo todo por conta própria?? Em programação, óbvio!!! Lógico que eu tenho que trabalhar com isto! Esta é minha profissão!"

Não vou negar que o choque inicial foi terrível! Eu vinha até então tentando criar algoritmos eficientes para calcular as casas decimais do PI, simular um universo regido por leis gravitacionais diferentes das nossas, imitar o processo de raciocínio do cérebro humano... E de repente me aparecem problemas concretos envolvendo cálculo de juros, cadastro de usuários, soluções para comunicação com sistemas de cartões de crédito em sites de ecommerce... Isto me deu um nó na cabeça! Nunca imaginara que estes problemas tinham tanta importância assim! Até realmente verificar qual era sua complexidade!

A área de TI é ingrata! Você vai tomar conhecimento de soluções maravilhosas! Perfeitas! Será até incentivado a pesquisá-las! Mas, lamento dizer, você nunca irá usá-las... No dia a dia vão te exigir o "feijão com arroz"! A melhor solução do problema? A mais otimizada? Esqueça! Sempre vão te cobrar a solução "mais rápida" de ser implementada!

Ah, o mundo dos anos "2000"!!! Ainda sonho com ele! Acredito que ele ainda vai acontecer, que vem acontecendo dia após dia! O número "2000" era apenas um rótulo ridículo que não conseguiram sustentar, mas que acabará se concretizando independente de quais dígitos sejam seus formadores! E acredito que meu trabalho, seja como for, contribui para isso um pouco. Poxa, pensem bem!!! Hoje em dia ninguém estranha mais um videofone no estilo daqueles que usavam nos desenhos da Família Jetson, não é?

Quanto a meus sonhos, eles continuam! O que não vejo concretizado.... tento escrever! Os que me acompanham aqui no Recanto sabem disso muito bem!

Escrever é uma terapia muito boa! Te faz continuar sonhando, enquanto continua no dia a dia sem tirar os pés do chão! :-)