A desconstrução do conhecimento (3)

Antonio Gramsci (Itália:1891-1937) escrevia anotações para serem jogadas no lixo ao final do dia. Pierre Bourdieu (França:1930-2002) escreveu um livro para ser queimado. As anotações de Gramsci renderam pelo menos uma dezena de livros como fonte original e primaria, a partir de seus escritos carcerários. Outros tantos foram escritos como conhecimento secundário. E a maior expressão dos estudos gramscianos, no Brasil foi Carlos Nelson Coutinho (1943-2012).

Bourdieu foi a maior expressão na sociologia dos últimos tempos. Um filósofo que se converteu em sociólogo. Rendendo novas interpretações no campo da sociologia e principalmente na educação. Suas ideias começaram a ser divulgadas no Brasil na década de 1970. No ano de 2013 foi realisado em Natal/RN o “Simpósio Internacional sobre Pierre Bourdieu e a Educação” na UFRN, com apoio da CAPES e Universite de Paris.

Além dos tradutores de seus livros (Bourdieu), mais três nomes de conhecedoras da obra e das teorias boudiesianas: I. Barreira, S. Baptista e T.C. Franco Santos. Três enfermeiras atuantes, no ensino de graduação e pós-graduação da EEAN - Escola de Enfermagem Anna Nery da UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro. Três docentes, mestres, doutoras e pós-doutoras. Enfermeiras PAN (Padrão Anna Nery) orientadoras no curso de pós-graduação da EEAN/UFRJ. Por intermédio do Núcleo de Pesquisa em Historia da Enfermagem Brasileira (NUPHEBRAS), com sede no prédio histórico da EEAN. Conduzindo mestrandos e doutorandos em analises do campo social e educacional da enfermagem. Estudam, apoiam e constroem artigos, teses e dissertações, com aplicações de teorias, ideias e pensamentos, de Bourdieu, Hobsbawm e Nobert Elias, dentre outros.

Obervando as bibliografias, imaginando os meios e as épocas que viveram (Gramsci e Bourdieu) é possível imaginar seus pensamentos e suas afirmações. Considerando que Gramsci escreveu anotações para serem jogadas fora; e Bourdieu escreveu um livro para ser queimado. Este simples conjunto de artigos, alheio a mídia científica, deverá ser minimamente ignorado. Desprezado pelas elites intelectuais e acadêmicas, detentoras e controladoras da construção do conhecimento.

Enquanto um (Gramsci) foi um escritor solitário, fez grande parte de seus escritos em um período carcerário. E tal como Karl Marx não fez carreira na academia. O outro (Bourdieu) foi um membro da academia francesa, lecionando em faculdades, escrevendo e publicando artigos científicos, dirigindo revistas cientificas. A partir dos exemplos citados aqui, nota-se claramente que a produção intelectual pode ser inversamente proporcional à construção de uma carreira acadêmica.

A construção de um conhecimento sofre controles: de poder e de status. Poderes que visam uma permanência de pessoas em determinadas posições, em diversos pontos da pirâmide construída. Aliás, os modelos em forma de pirâmide, já são ensinados desde as teorias gerais no inicio da educação acadêmica. Para que cada um, desde cedo saiba sua posição perante os outros. Construídas e ensinadas para que cada um perceba que será necessário muito esforço para atingir o topo.

Qualquer aluno ou orientando que tenha outras opiniões, ou soluções diferenciadas do professor ou orientador, já é suficiente para não obter uma nota máxima em um TCC ou monografia; não defender uma dissertação ou tese; não escrever um ensaio ou artigo científico.

Um TCC, uma monografia, uma dissertação ou uma tese segue regras e critérios. Regras e critérios para que o mestre e a banca de avaliação possam entender o desenrolar do pensamento daquele que defende uma ideia, o orientando. Regras que beneficiam o orientador e a banca. Até uma prova de múltipla escolha é um beneficio ao professor. Evita outras e novas interpretações alem das oferecidas.

Bourdieu produziu uma ciência incômoda, e costumava dizer: o que o mundo social fez, o mundo social pode desfazer. E assim o mundo social vai construindo e desconstruindo os conhecimentos.

Entre Natal e Parnamirim/RN ─ 31/05/2014

Texto produzido para: O Jornal de HOJE – Natal/RN

Palavras Chaves: gestão; qualidade; conhecimento

Palabras Clave: gestión; la calidad; el conocimiento

Key Words: management; quality; knowledge

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Roberto Cardoso

Roberto Cardoso (Maracajá)
Enviado por Roberto Cardoso (Maracajá) em 14/10/2015
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