As desconstruções do conhecimento (parte 2)
A principal historia contada, reconhecida e oficializada da ocupação do Brasil. A descoberta do Brasil é atribuída aos portugueses, tendo como personagem principal Pedro Álvares Cabral, constando em documentos escritos ter aportado com sua esquadra por estas terras no ano de 1500. Avistou, aportou e desembarcou; marcou, implantou uma cruz, rezou e tomou posse. No ano que se da inicio a uma historia oficializada, a história que se tornou oficial do Brasil. Teve como a certidão de nascimento e primeiro documento escrito a carta de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal. O escrivão da frota que escreveu a famosa carta a partir de seus pontos de vista, seus conhecimentos e atribuições, funções e emoções.
Quando Cabral chegou ao Brasil, os índios que aqui habitavam possuíam um conhecimento. Um saber transmitindo experiências acumuladas por gerações e gerações. Quer seja pelo uso de sua linguagem com palavras e sinais, ou mesmo por gestos e atos de realização e confecção de fatos e artefatos. Ensinando uns aos outros em atividades, ou seja: a prática pela prática de quem ensina e de quem aprende. A práxis da transformação do ambiente, daquilo que a natureza ofertava.
Os navegantes portugueses chegaram ao denominado Novo Mundo, vindos da Europa, onde ficou denominado como o Velho Mundo. Dominavam a arte de ler e escrever, cantar em versos e prosas, a arte de pintar e retratar, falar e representar. Sabiam como transmitir ideias pela escrita, e por pinturas em telas. Em cantos e musicas, orquestradas ou não. Enfim possuíam mídias que podiam ser transportadas, transferindo e levando um conhecimento a quem interessava saber.
A carta de Pero Vaz de Caminha foi o primeiro registro sobre as novas terras. Este e outros relatos escritos inspiraram pintores a colocar sobre telas o ambiente e o habitante das novas terras, em terras de além mar. Criando assim ideias e imagens para quem não participou das novas descobertas. O conhecimento foi transmitido por textos e imagens a quem estava longe destas terras. Uma tela tem a inspiração e as ideias do pintor, junto com suas alegrias e tristezas do momento.
A denominação de mundos, um novo e outro velho, já dá um posicionamento diferenciado entre os dois mundos. Navegadores portugueses partiram de um mundo entendido como civilizado e chegaram a terras indígenas onde não reconheciam o seu Deus, já pintado em telas e reconhecido em textos. Uma situação de inferioridade e imaturidade, do novo Mundo, a partir do ponto de vista que os mais velhos, como o Velho Mundo, detêm um conhecimento e uma experiência, uma vivencia. E o conhecimento do indígena foi submetido ao conhecimento daqueles que se denominaram descobridores e desbravadores das novas terras. O conhecimento do Novo Mundo ficou subordinado ao conhecimento do Velho Mundo. Uma caravela com velas estendidas, estampadas e estufadas ao vento já foi uma imposição diante canoas esculpidas em troncos, movidas por remos e varas. A roupagem do oficialato da frota cabrália diante índios nus e seminus foi outra imposição.
O indígena não tinha memórias escritas, construía uma história oral contada pelos também mais velhos de geração em geração, entre musicas e cantos praticados em
momentos especiais com instrumentos rudimentares, a partir do ponto de vista do eurocentrismo. E boa parte do conhecimento indígena, o povo nativo das atuais terras brasileiras foi excluído, desconstruído, diante das estratégias midiáticas de informação que poderiam levar de volta, ao local de onde partiram notícias das novas terras.
Entre Natal e Parnamirim/RN ─ 19/05/2014
Texto produzido para: Jornal Metropolitano Parnamirim/RN
Palavras Chaves: gestão; qualidade; conhecimento
Palabras Clave: gestión; la calidad; el conocimiento
Key Words: management; quality; knowledge