A construção do conhecimento (7)
A cabeça de um aluno não é uma caixa vazia onde se possa inserir um conhecimento mediante uma exposição oral ou escrita, áudio ou visual. O conhecimento é um processo de aprendizagem que vai se construindo com os usos e abusos dos sentidos, um aprendizado organoléptico. Um conhecimento é produzido e assimilado reciprocamente, entre alunos e professores, tal como dois vasos comunicantes onde o nível do liquido tende a se igualar em ambos os vasos. Mestre é o professor que aprende mais que o aluno em colóquios educacionais.
Os denominados CSTs, cursos superiores tecnológicos, foram criados para acelerar a chegada da mão de obra ao mercado de trabalho, bem como permitir a aqueles que já estão no mercado ter uma diplomação sobre a atividade que exercem. Tudo direcionado e conduzido a uma necessidade nacional, para o Brasil participar de uma competitividade no mercado internacional, uma ação estratégica em um mundo globalizado.
As chamadas TICs, tecnologias da informação e comunicação, não substituem o professor bem como não substituem os livros. Não substituem a presença humana no ambiente escolar. Elas acrescentam, são novos recursos de aprendizagem, levam o meio exterior ao meio interior. “Quando a roda grande entrar na pequena” ─ um dito profético. O conhecimento é construído reciprocamente e paralelamente, o aluno aprende junto com o professor. O aluno entra na escola com vivencias e experiências anteriores. E muito bem familiarizado com as TICs. Rádio, teatro, cinema e televisão fazem parte de um passado recente, tudo agora esta literalmente na palma da mão.
Professores dos CSTs foram pegos de surpresa, não foram capacitados para enfrentar alunos com conhecimento trazidos das suas vivencias e convivências anteriores, ou mesmo como dizem os próprios titulados da academia, com as expertises de cada um. Exaltam suas expertises e tentam ignorar, menosprezar as dos alunos. Fato percebido a partir de seminários e congressos, onde os palestrantes diante dos ouvintes e participantes são apresentados com exaltação de certificados e titulações, desta ou daquela instituição. Uma batalha conferencista onde os títulos e canudos são suas armas e escudos.
Professores ainda trazem em mente aquilo que aprenderam, viveram e vivenciaram. Aprenderam o que lhe ensinaram: o aluno é um ser sem luz (alumes, sem luz). Professam aquilo que aprenderam, no entanto alunos e professores devem ser eternos estudantes e estudiosos. Uma multiexpertise vem lustrando os bancos escolares.
A Terra é redonda e o mundo é quadrado. As teorias acadêmicas formam um mundo quadrado cortado por retas, secantes e tangentes. Fazem do mundo uma bandeira anglicana. Admitem detentores de um poder simbólico, que se posicionam em uma cátedra simbólica como donos de um conhecimento intocável, que intimida evitando questionamentos.
Experiências podem vir de dentro de casa. Planejar um jantar ou um almoço é o início de um processo decisório que não vai simplesmente ajudar a uma tomada de decisão.
Para decidir é preciso ter conhecimentos das opções do processo. Ao pensar um cardápio, a primeira duvida é saber quem vai comer: um carnívoro, um vegetariano ou um onívoro, quem sabe até um macrobiótico. Caso o comensal seja um onívoro vem a duvida de preparar um prato a base de carne, de peixe, de ave, ou uma massa. Com carnes, aves e pescados, vem a necessidade de escolher o corte de carne e tipo de animal. O tipo de ave pode ser de caça ou de granja, talvez até o corte possa ser uma opção. Os tipos de peixes, com uma enorme variedade, alem de saber se é de água doce ou salgada. O pescado pode ser salgado, fresco ou em conserva, peixe ou crustáceo, de águas rasas ou profundas. As massas têm formas variadas e molhos diversos.
Depois da escolha do ingrediente do prato principal vem a decisão do modo de preparo: frito, assado ou cozido, dependendo do linguajar local ainda pode ser torrado ou picado. Os temperos a serem utilizados, entre marinados e vinha d’alhos, mais uma variedade de especiarias e condimentos. Ácidos cítricos e acéticos, óleos e azeites, féculas e amidos. Até o simples ato de salgar oferece uma variedade de apresentações do cloreto de sódio.
Alimentos preparados na brasa ou lenha, outra lista começa, sobre local, instrumentos e utensílios a serem utilizados, com atenção aos itens de segurança, não só do fogo, mas da conservação dos alimentos. Dependendo do número de pessoas uma linha de produção deve ser organizada para que todos sejam servidos a contento. A disposição dos alimentos sobre as mesas pode levar a um estudo de tempos e movimentos evitando aglomerações e filas.
Por fim ainda será necessário saber se entre os comensais há um algum hipertenso ou portador de hiperglicemia. Se há alguém com restrição de algum alimento, orgânico ou inorgânico. Dietas temporárias ou permanentes, médicas ou estéticas, qualitativas ou quantitativas. Os alimentos servidos ainda podem vir acompanhados de alertas a fenilcetonúricos, intolerantes a lactose ou glúten.
Preparar uma refeição requer uma enormidade de conhecimentos, mas podem ser preparados por uma simples cozinheira ou renomado chef de rotisserie. O importante é que todos saiam satisfeitos, alimentados da alma do corpo e da mente com sabores e saberes.
FIM (7)
Jornal de HOJE
Entre Natal e Parnamirim/RN ─ 27/10/2013 Roberto Cardoso (Maracajá)