HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO PIAUÍ
Atualmente muito se discute sobre o estado da educação brasileira. Questões por exemplo sobre a qualidade de ensino nas escolas públicas e privadas, da formação de professores, do processo de ensino-aprendizagem, das formas de transmissão do conhecimento e assim como outras são elencadas como críticas de um elevado grau de significância rotulado pelo senso comum como forma de justificar e entender o atual Sistema Educacional do país. Porém este mesmo senso comum que crítica o presente “Sistema” Educacional não possui na maioria das vezes conhecimento sobre as raízes do berço da educação brasileira, sem saber como, onde e quando tudo começou; contudo considerando que a educação no país teve variações evolutivas em cada estado e região, irei tratar em especial neste artigo sobre as diferentes etapas do processo de evolução da educação no estado do Piauí, apontando seus principais fatos ocorridos no decorrer dos anos anteriores até aos dias atuais para tentar entender em caráter cientifico sócio-histórico a educação piauiense que hoje se tem na sociedade do século XXI.
A educação no Piauí assim como em todo o Brasil passou basicamente por três períodos de transição extremamente marcantes em sua historia, tendo cada um destes, características subjetivas em cada etapa do desenvolvimento educacional brasileiro, sendo esses a seguir: período Colonial, Imperial e Republicano; o primeiro é caracterizado por uma educação missionária administrada pelos jesuítas aos nativos ocupantes das terras piauienses da época, sendo válido ressaltar os nomes que contribuíram bastante para o desenvolvimento da educação piauiense que, no entanto atualmente tem seus nomes um tanto desconhecidos nessa historia, os jesuítas Pe. Francisco Pinto e seu companheiro Luis Figueira, que juntos envolveram os nativos a uma bela historia religiosa, catequizando-os e evangelizando-os cumprindo assim os primeiros passos e formas de educação no Piauí, como se fez em todo o país.
O segundo objetiva o período que rege logo a expulsão dos jesuítas do Brasil, período em que a educação passou a ser difundida nas províncias, onde o governo começa a preparar a população para o regime democrático com o projeto constitucional de 1823 que ressaltava a propagação da instrução de todos os níveis cabendo ao governo a responsabilidade de consagrar a liberdade da iniciativa popular. Segundo Zichia, 2008, p.70:
“A instrução pública no Brasil mostrava-se escassa em algumas províncias e inexistente em outras. Assim, além do fato de tentar preparar a população para o novo regime democrático que se instaurava, o projeto constitucional de 1823 previa a difusão da instrução de todos os níveis, ressaltando a responsabilidade do governo e consagrando expressamente a liberdade da iniciativa particular.”
O projeto constitucional possuía características positivas para a educação, pois garantia uma instrução primaria gratuita e uma educação para todos os cidadãos, porém no Piauí, a educação formal não foi à primeira vista muito aceita pela população, pelo simples fato da questão socioeconômica existente na época que era voltada para produção de mão de obra de trabalho e não para alfabetização, portanto as disciplinas e conteúdos ofertados nesse período pouco vieram a interessar ao público piauiense, tendo em vista que não se poderia utilizar o conhecimento ofertado pelo governo no serviço braçal que era a fonte de renda e principal meio de trabalho na província piauiense neste período.
No terceiro, no Piauí republicano passou a ocorrer uma movimentação cultural ao que diz respeito aos livros que na época predominava prontamente o gênero poético; tendo nesse mesmo período a revista Literatura que propunha a publicação de ideias de interesse cientifico passando assim a ser considerado um dos maiores e melhores meios de comunicação entre os letrados desse período, tem por validade a observação feita por Ferro (1996:86):
“Vários jornais circulavam no período, contribuindo para uma certa movimentação cultural. No que se refere a livros, a literatura se apresentava primordialmente no gênero poético. A revista Literatura foi muito importante como meio de veiculação das ideias dos literários da época.”
O poder político apresentava-se de forma perceptível na instrução publica; carregava uma forte ideologia sobre os professores onde a política perseguia de forma insistente e intensa á aqueles que aderiam às ideias republicanas. Muitas transferências e substituições de professores da época ocorriam marcadamente por motivos políticos. Contudo é valido ressaltar a autoridade que tinha o professor em relação aos seus alunos no período republicano, no qual a figura do educador é tida como símbolo de modelo expresso de sapiência e digno de respeito e obediência.
Neste mesmo contexto aponta-se a atenção para a forma de contratação de professores para a rede publica do período, que até o momento era realizada “rotineiramente” pela forma de “indicação” por uma pessoa de grande influencia e prestigio ou que fizesse parte do poder político. É interessante ressaltar que essa indicação para o cargo de educador não levava em consideração a formação ou a aptidão da pessoa que fosse assumir o cargo. Geralmente o indicado bem muito na maioria das vezes não possuía conhecimento cientifico e nem era qualificado para a profissão de docente, sendo que grande maioria mal sabia ler e escrever, ou seja, os professores contratados eram desqualificados para os cargos, pois eram letradamente ignorantes não se adequando ao verdadeiro perfil de docente. Ferro afirma textualmente:
A influencia política na contratação de professores da rede publica acontecia rotineiramente. A indicação era feita por uma pessoa de prestigio ou de poder político. Sem levar-se em conta a aptidão, o preparo ou a capacidade para o exercício da profissão (...) em algumas escolas os professores não tinham a menor competência para ensinar, “eram ignorantes, liam mal e escreviam pessimamente.”
Por conseguinte era “normal” ter na sociedade um profissional em cargos elitizados com baixo nível de instrução. Pessoas que mal sabiam ler e escrever e que por ventura ocupavam cargos que exigiam grande conhecimento cientifico e formação profissional. Destes pode-se citar pro exemplo os cargos de professores, promotores, governadores, advogados, etc. É salvo acrescentar que essas são características de uma sociedade pouco letrada (no caso, a situação da sociedade piauiense no período republicano). Considera Ferro, 1996, p. 90:
“Há alguns casos que mostram que numa sociedade pouco letrada, para o exercício da função de professor e até de outras funções elitizadas nem sempre se exigia maiores estudos (...). Foi o caso de Norberto Castro e Silva que apenas sabia ler, escrever e contar, por não ter podido continuar os estudos, tendo, entretanto, chegado a promotor publico, advogado provisório, professor publico (1893), inspetor de ensino (1894) e vice-governador do Estado.”
No ensino secundário envolvia os profissionais docentes a participarem do magistério como atividades complementares ou auxiliares. Tendo que os professores eram muito mal remunerados nesse período, com isso ao final das aulas tinham como pagamento peneiros de farinha já que a sociedade piauiense era precária o bastante para dispor a esse profissional o pagamento em dinheiro. Assim vários alunos tinham aulas particulares em suas próprias casas só que, eram aulas especificas de disciplinas afins com sua profissão principal ou nuclear. O ensino tido como responsabilidade da família era administrado em primeiras letras logo no ambiente domestico. Algumas famílias contratavam seus próprios professores e mesmo ensinavam seus filhos; geralmente a educação de primeiras letras era assistida pelos próprios pais, parentes, amigos ou professores contratados por grupos de família.