NÃO TE "ESPANTAS"?

Toda a nossa Ciência, comparada com a realidade, é primitiva e infantil...

Einstein

Ao tomar conhecimento da morte de Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, lembrou-me de palavras como Fascínio, Surpresa, Espanto e Encantamento. Esta inteligência astronômica sabe nos conduzir pelos meandros da Ciência sem ceder aos demônios “tecnicisteiros”. Ele, no dizer de Antônio Geraldo da Cunha, desperta a nossa curiosidade para os insondáveis “mundos” que nos cercam. Em 1971, Antônio Houaiss, escreveu, no Jornal do Brasil, o seguinte sobre o então jovem gênio da Astronomia: “Ouçamos o convite do sábio brasileiro: fitar o céu aceso, principalmente em fevereiro e março, quando SÍrius e Capela estão mais cintilantes”.

Ignoro suas convicções religiosas, mas “ronaldomourãonear” é, acima de tudo, saber que Ciência e Racionalidade nos obrigam a refletir, profundamente, no Criador. O Pluriverso, ainda que imperfeito, assimétrico e acidental, sugere, sim, um Decifrador. Bernard Fontenelle acerta: “Toda a filosofia baseia-se em apenas duas coisas: curiosidade e visão limitada... O problema é que queremos saber mais do que podemos ver”. Não pode existir desespero pelo fato de não dominarmos a totalidade dos mistérios. Se houver um “Código Oculto”, em parte, sua elegância e sua estética não estão reveladas neste Espetáculo de estruturas inimagináveis?

Quantos planetas, girando ao redor de astros como o sol, podem existir? Amigo, só em nossa galáxia, algo em torno de 4,4 bilhões, para ficarmos com aqueles nos quais a vida pode brotar. Pasme, o mais próximo se encontra a doze anos-luz de distância. Que tal uma voltinha pelos 110 mil anos-luz de diâmetro de nossa galáxia espiral? Estrelas conhecidas por G e K são apenas 20% de todas as que compõem a Via Láctea. Há em torno de 1,1 bilhão de planetas habitáveis. Se extrapolarmos, como diz Salvador Nogueira, para o total de galáxias existentes no universo observável, - estima-se, grosseiramente, em cem bilhões -, temos aí 2,3 trilhões de biosferas no Cosmos.

Este pequenino quadro nos sacode, mexe com nossa imaginação e nos incita posições que vão deste o ceticismo empedernido à “religiose”. Para uns, tudo nada mais é que acidente sem propósitos. Para outros, prova da magnitude de Deus e provocações para questionarmos sobre quem somos, sobre o mundo em que vivemos e no próprio significado de nossa existência. De minha parte, descontextualizo a afirmação de outro gênio, Marcelo Gleiser, em seu “Criação Imperfeita”: Sermos meramente humanos não pode ser toda a história.

Escrevinhei esta reflexão como singela homenagem ao senhor, mestre Ronaldo Mourão – portal de um jardim das maravilhas -, que nos ajuda a desbravar a mais antiga das Ciências (a Astronomia). Encerro, destarte, com Drummond: Rogério Mourão foi descobridor à custa de muita e ordenada pesquisa. Ele não necessita de prosa ou verso, ou versiprosa, para que visualizemos sua estrela oculta: ela está luzindo com apenas ser enunciada, e daqui lhe confesso a minha inveja: ah, que sei apenas escrever a palavra estrela, e jamais descobrirei uma...