Uma especulação sobre a possível origem híbrida do homem

Um especialista em hibridização percebeu certos indícios do fenômeno na espécie humana. Hibridização consiste no cruzamento de duas espécies distintas; o fenômeno, bastante conhecido, acarreta algumas anomalias reprodutivas devidas fundamentalmente a diferenças cromossômicas. Também são esperados problemas com os espermatozóides, em decorrência de sua condição haploide (têm só n cromossomos).

Um indivíduo comum recebe a metade do material genético de cada um de seus progenitores, distribuído em n cromossomos, cada parte, totalizando assim 2n cromossomos, constituídos em dois pares de cada um deles, ou seja: duas cópias do material genético que define o indivíduo. Uma falha em uma das cópias pode ser sanada pela instrução correta na outra cópia.

A espécie humana possui 23 pares de cromossomos, outras possuem outros números, variados: 15, 31, 87... a distribuição do material genético pelos cromossomos em cada espécie é fixa, mas aleatória entre elas. Assim, um híbrido também possui a metade do material genético de cada um de seus progenitores, no entanto, esse material fica distribuído em partes desiguais, conforme o número de cromossomos na espécie original. Então, o híbrido terá n cromossomos oriundos do pai, e um número diferente desse, m cromossomos, advindos da mãe.

Na primeira geração, esse fato não constitui problema. Como qualquer outro indivíduo, o híbrido possui duas cópias de cada instrução genética necessária para sua construção, ainda que distribuídas em diferentes números de pacotes. O problema começa a se evidenciar na reprodução desse indivíduo, pelas razões abaixo.

As células de um indivídiuo comum possuem 2n cromossomos, exceto as células reprodutivas: espermatozoides e óvulos sofrem uma divisão adicional de seus cromossomos, ficando com apenas a metade deles, que se juntará à outra metade advinda do outro progenitor para a construção do novo indivíduo.

Esse processo de separação dos dois conjuntos de cromossomos ocorre em um tipo de divisão celular chamada meiose; o material genético se divide ao meio, ficando cada parte em uma célula. Note que essa divisão deve ser equitativa: cada célula resultante dela deve receber uma cópia de cada instrução genética para a construção do indivíduo, a divisão não pode ser feita a esmo. De fato, nessa fase, cada par de cromossomos homólogos, contendo as cópias para as mesmas instruções, se emparelham, ficam lado a lado, até que cada um deles é puxado para um lado, de modo a ser reunido um conjunto completo de instruções para a construção de um indvíduo em cada uma das células reprodutivas.

Os cromossomos no indivíduo híbrido, no entanto, não estão distribuídos em duas cópias homólogas (contendo o mesmo material genético, cada). Como vimos acima, o híbrido possui um diferente número de cromossomos oriundo de cada progenitor, de acordo com sua espécie. Durante a meiose, portanto, o emparelhamento dos cromossomos não ocorre a contento, de modo que as células resultantes dessa divisão tendem a receber um material genético incompleto, ou excessivo. Se o número de cromossomos das espécies originais for muito diferente, a imensa maioria das células reprodutivas receberá material incompleto, razão suficiente para inviabilizá-la. Um espermatozóide tem, ele mesmo, sua especificação definida em seu material genético. A falta de especificações para a construção de seu próprio equipamento vital o inviabiliza.

Mais especificamente, considere uma espécie com 20 cromossomos, outra com 30. O emparelhamento dessas estuturas será difícil e falho, dado que não são homólogos. Mesmo assim, ocorrido esse emparelhamento capenga, sobram 10 cromossomos que serão distribuídos aleatoriamente entre as células resultantes. Note que apesar desse material excessivo e desordenado decorrente dos 10 cromossomos não emparelhados, faltará material genético na imensa maioria das células.

Por essa razão os híbridos costumam ter grandes problemas de fertilidade.

Nas gerações seguintes, após retrocruzamentos subsequentes dos híbridos, pode ocorrer uma estabilização. Dessa maneira, uma espécie pode incorporar material genético e características de outra espécie. A redução na fertilidade tende a perdurar mesmo depois da estabilização do número de cromossomos, em decorrência da incorporação “errônea” do material genético introduzido da outra espécie (alocado, aleatoriamente, em cromossomo “impróprio”).

Tendo encontrado indícios de introgressão na espécie humana (infertilidade de nossos espermatozoides), o especialista em hibridização tratou de procurar o candidato à hibridização. Surpreendente e ironicamente, encontrou o porco! (Aqui no Brasil, onde a palavra “porco” tem significado próprio, a hipótese é ainda mais contundente). Acredito que certas preferências médicas pelo porco tenham chamado a atenção para essa espécie, (a mim essas preferências intrigam bastante).

Em seguida ele listou as características humanas, comparando-as com a de outros primatas, especialmente chimpanzés e gorilas, nossos parentes mais próximos. Constatou que um vasto conjunto de nossas características destoantes, diferentes das de outros primatas, se assemelha a características do porco, corroborando a hipótese de uma antiga introgressão dessa espécie, acarretando, segundo o autor, a distinção entre nós e os chimpazés que nos tornaram humanos.

A característica mais evidente dessa introgressão seria a nossa inexplicável falta de pelos. Oautorr apresenta uma longa lista de características internas, expressas no formato análogo de nossos órgãos e os dos porcos, as mesmas características que levaram essa espécie a se tornar a preferida dos médicos para estudos sobre transplantes.

Certas considerações genéticas justificam a IMPOSSIBILIDADE de constatação do evento, diluído ao longo de inúmeras gerações, através de análises genéticas, como o teste de DNA. O teste seria inútil para afirmar, ou negar, a hipótese.

A lista de características apresentadas pelo autor me impressionou.

A desconfiança na hipótese decorre da possibilidade de hibridização entre duas espécies tão distantes. Suspeito que a cópula entre indivíduos de espécies diferentes seja frequente, especialmente quando faltam machos, localmente, de uma dada espécie. Fêmeas no cio, creio, aceitam machos de outras espécies, na ausência dos da própria. Mas esses cruzamentos tendem a resultar em nada: costuma haver fortes barreiras pós-copulatórias à formação de híbridos de espécies tão longamente separadas. (Embora o autor alegue documentada a presença de genes de mamíferos e de aves no ornitorrinco).

O autor apresentou boas justificativas para a hipótese da hibridização. Listou bom número de características morfo-fisiológicas justificando a escolha do porco como candidato a híbrido. Acrescentou umas poucas características bioquímicas.

Talvez a busca de características celulares acrescente mais indícios à lista apresentada. A descoberta de características homólogas às duas espécies, inexplicáveis de outra maneira, fortaleceria francamente a hipótese. Posso apostar que a lista de características corroboradoras da hipótese aumentará com a contribuição de especialistas de outras áreas.

Espera-se encontrar peculiaridades em todas as espécies; se fôssemos iguais aos cimpanzés em tudo, seríamos um deles. Mas cada uma dessas idiossincrasias deve sugerir um bicho diferente; seria esperado que uma pecularidade humana, diferente dos primatas, se pareça com característica do camelo, por exemplo, outra do leão, outra, ainda do rato, e assim por diante. Mas se um vasto conjunto de peculiaridades idiossincráticas de uma dada espécie se assemelham às de uma única outra, isso merece explicação.

Considero interessante e divertidíssima a análise das reações causadas por hipóteses surpreendentes nas pessoas. Conservadores tendem a negar a hipótese desde o início; outros a aceitam. Um contingente surpreendentemente pequeno tenta analisar a hipótese de maneira racional. Nossas opiniões estão sujeitas a fortíssimos preconceitos.

Os que lerem o texto devem lembrar que toda moeda tem dois lados e não foi visto o outro; haverá objeções a cada uma das alegações.

A comunicação do autor se encontra em:

http://www.macroevolution.net/human-origins.html#.UuOSr9dTuZd