Vidas passadas...
(Você acredita?)
 
" A vida humana só acontece uma vez e não podemos jamais verificar qual seria a boa ou a má decisão, porque, em todas as situações, só podemos decidir uma vez. Não nos é dada uma segunda, uma terceira, uma quarta vida para que possamos comparar decisões diferentes. 
                                                                    (A Insustentável Leveza do Ser - Milan Kundera)"
            Quem nunca esteve em algum lugar pela primeira vez, mas ao examinar a paisagem ficou com a nítida impressão de que já estivera ali antes? Seria essa impressão uma lembrança de vidas passadas? Muitas pessoas acreditam que sim. Doutrinas que pregam a pluralidade de vidas também lançam mão desse artifício para convencer e aliciar seguidores. Há uma tendência, generalizada, do ser humano em acreditar no improvável. Acho burrice alguém apostar em uma chance contra cinquenta milhões, mas toda semana pessoas, no País inteiro, se aglomeram em filas intermináveis, nas portas das lotéricas, para fazer suas apostas. A ilusão de que podemos ganhar na loteria nos da a esperança de alcançar a felicidade proporcionada pela riqueza, da mesma forma que a crença na imortalidade da alma ou na reencarnação do espirito, nos alivia o temor da morte. Não estou criticando os ensinamentos religiosos, tampouco estou negando a existência de Deus. Os ensinamentos são bons e necessários e as religiões só são maléficas quando usadas como instrumentos de dominação ou com fins de acumulação de riqueza.
            Acreditar em algo que nos traz alívio e felicidade desencadeia em nosso cérebro reações que podem operar verdadeiros milagres. Ele, o cérebro, é, sem sombra de dúvida, um órgão fascinante e ainda pouco conhecido, do qual só utilizamos uma pequena parte de seu potencial. Então, a reencarnação e as vidas passadas existem de fato? Claro que não! Isso é pura fantasia, criada para aliviar o medo da morte e explicar o inexplicável. À medida que conhecemos melhor nosso cérebro, o nível de consciência aumenta nos fazendo entender, cientificamente, coisas que antes eram creditadas ao sobrenatural. Sabemos, por exemplo, que nosso cérebro usa de muitos artifícios para nos proteger da dor e do sofrimento. Acredito que a própria Doença de Alzheimer seja uma invenção do cérebro para nos livrar da perversidade da lucidez, diante do fim inevitável. E as lembranças a que me referi no início deste artigo? Nosso nível de conhecimento científico nos proporcionou criar microchips inimagináveis a apenas algumas décadas. Entretanto, a descoberta mais fantástica está no conhecimento do Genoma. Nossos microchips, tão pequenos aos nossos olhos, são peças gigantescas quando comparadas ao "chip" criado pela natureza: — o gene. Um prodigioso cartão de memória, capaz de armazenar todas as informações necessárias à nossa existência, inclusive as tais lembranças de nossas "vidas passadas".