*O que Trava a Ciência no Brasil?"
Resumo: A quase falência de apoio do governo a pesquisa revela que o Brasil se atrasou muito em relação aos países desenvolvidos. Quase tudo o que temos de tecnologia vem de fora ´made in...´ E quando alguém apresenta uma ideia nova é tachado de ´doido´. Esta é uma resposta a pergunta da revista Galileu cujo comentário não cabe em seu site.
“O que trava a ciência no Brasil?”
A comparação com a Universidade de Harvard, na reportagem, não cabe. Esta universidade tem tradição de pesquisa desde 1636, isto é, no século XVII. Já o Brasil só veio a começar pesquisa a partir da criação do CNPq em poucas áreas da ciência. Em uma delas, a Física, só começou mesmo com a dedicação de poucos verdadeiros cientistas que foram para o exterior fazer doutorado e de lá voltaram para depois serem expulsos do país com o golpe militar de 1964, enquanto que os Estados Unidos, logo após a Segunda Guerra Mundial, trouxe da Alemanha cientistas de alto renome sem se preocupar se eram nazistas ou não; já aqui a ideologia falou alto, pois o governo militar expulsou seus poucos cientistas porque eram ´comunistas´, o que justificava a imposição americana de aniquilar qualquer viés de natureza comunista que se expandia na América do Sul; exemplos, além do nosso, são o golpe militar no Chile patrocinado pela Agência Central de Inteligência (CIA) dos Estados Unidos e os sucessivos governos militares da Argentina que perduraram por décadas sob o domínio da força e da tortura.
Outro fator que pesou muito no nosso desenvolvimento científico-tecnológico foi a influência de alguns supostos cientistas que viam a ciência como um departamento didático que davam prioridade a parte teórica, no caso da Física, como se a Natureza tivesse preferência por modalidades didáticas. Essa mentalidade foi difundida em todas as universidades brasileiras como um vírus que se entranhou na cultura acadêmica dos jovens que viam a parte teórica como a suprema realização de suas vidas, enquanto os poucos laboratórios comprados do exterior pelo governo brasileiro eram mal usados e se desatualizavam com o crescente desenvolvimento tecnológico de outros países cujos governos davam prioridade a ciência como um todo; exemplos não faltam:
Em 1973 fiz estágio no Kernforschunganlage JÜlich- Alemanha para trazer um laboratório de Física Básica para o Departamento de Física da Universidade Federal do Pará (UFPA) através do convênio entre o CNPq e o governo alemão. Depois de regressar de meu mestrado na COPPE-UFRJ providenciei junto a reitoria da UFPA a construção de um Laboratório de Física Experimental para pesquisa enquanto aguardava o regresso de três professores que faziam doutorado na Unicamp. Nesse ínterim fundei o Laboratório de Radiações da UFPA. Atualmente este laboratório foi desativado do seu objetivo junto com outros três que foram projetados para pesquisa experimental, tendo seus pesquisadores titulares desistido do empreendimento que fora feito, por falta crônica falta de verba alegada pelas autoridades universitárias, e também da falta de apoio dos docentes que se dedicavam a supostas pesquisas teóricas, desvirtuando a finalidade do referido laboratório que fora projetado para aquele fim. Mesmo com esses reveses consegui orientar duas teses de mestrado na minha área. Atualmente todo o equipamento trazido da Alemanha não existe mais ou virou sucata, e o laboratório de Física Experimental-Pesquisa virou um Colejão...
Quando fiz mestrado na COPPE notei que a maioria dos equipamentos vinha do exterior com a marca registrada ´made in...´ Nessa época estive na área de terraplanagem para a futura usina nuclear Angra- 1, cujo reator também fora adquirido, pois não tínhamos condições tecnológicas de construir o núcleo do reator e toda parafernália de equipamentos que exige uma central nuclear.
Na USP-SP, quase todo equipamento de pesquisa tinha o rótulo ´made in...` inclusive um acelerador de partículas adquirido nos Estados Unidos, o Péletron, pelo então Ministro da Educação, mas que , segundo se comentava já era sucata nesse referido país.
No Rio de Janeiro, na Ilha do Fundão, fora adquirido dos Estados Unidos e instalado um pequeno reator nuclear, o Argonauta, que servia para ´ensino e pesquisa`; segundo as mesmas vozes de então esse reator não tinha potência sequer para acender uma lâmpada de 60 watts.
Assim, em quase todas as universidades que visitei, no Sudeste, e no Sul, o cenário era o mesmo.
Então vamos continuar a comprar e importar nosso trem bala, a incessante e renovadora tecnologia de aparelhos celulares, os supercomputadores; os foguetes e satélites para nossa telecomunicação; o nosso futuro submarino nuclear; as centrais nucleares para gerar energia; as pesadas turbinas para as nossas hidrelétricas; a tecnologia para construir turbinas para aeronaves, e uma infinidade de outros equipamentos e acessórios de última geração para suportar todo esse empreendimento?
Leopoldino Ferreira