Porque não acredito em Astrologia

PORQUE NÃO ACREDITO EM ASTROLOGIA

Miguel Carqueija


Sempre que me perguntam qual o meu signo, respondo: — Não tenho signo. — E como em geral as pessoas não entendem esse tipo de resposta (que é a única aceitável para tal pergunta), sou obrigado a explicar: — Ninguém tem signos, pois eles não existem.
O que os astrólogos chamam de “signos” são apenas constelações da faixa zodiacal. E as constelações são simplesmente grupos aparentes de estrelas, isto é, grupos não reais, ou as áreas da abobada celeste — 88 ao todo — onde eles se localizam. Isto se deve à ilusão de ótica que o espaço profundo produz na vista humana, que nos faz enxergar as estrelas como pontos fixos, como que engastadas numa cúpula — a abóbada celeste. Na verdade, de duas estrelas que nos parecem estar lado a lado, uma pode estar a 50 anos-luz, a outra a 500. Em tais distâncias o olho perde o senso de profundidade. Além disso não vemos as estrelas como elas estão “agora”, mas através do tempo: se uma se situa a 200 anos-luz, isso quer dizer que a luz observada partiu de sua fonte há duzentos anos. A rigor ignoramos até se essa estrela ainda existe.
Reparem, outrossim, que os horoscopistas divergem entre si num detalhe tão importante como é a exata fronteira de um signo. Em determinado horóscopo, Touro, Áries ou Capricórnio podem começar ou acabar no dia 22, ou no 21, ou no 23. Já vi discrepâncias de até três dias, o que no crente dessa superstição pode provocar dúvidas atrozes: afinal eu sou Câncer ou Leão? Se nem sobre isso existe consenso, imaginem nas “previsões”, que variam de astrólogo para astrólogo. Essas previsões, aliás, são tão vagas — tipo “evite despesas exageradas” ou “cuidado com os falsos amigos” — que na prática servem para qualquer pessoa.
Em seu estupendo livro “E as luz se fez” (“O romance da Astronomia”) — editado no Brasil pela Melhoramentos — o alemão Rudolph Thiel menciona um fato importantíssimo e geralmente desconhecido: as constelações zodiacais já não se encontram nas posições pretendidas pelos astrólogos.
Logo no primeiro capítulo desta preciosa obra o autor explica a instabilidade do eixo da Terra, que ao longo de pouco mais de dois mil anos altera de uma casa a posição das constelações zodiacais. E assim se expressa, objetivamente: “Perguntamos: que resta, então, da influencia dos astros sobre os homens? Se as constelações trocaram as suas funções, se Câncer desempenha hoje as que outrora se atribuíam ao Leão, os signos do Zodíaco já não exercem efeito específico. Respondem os astrólogos: não depende das constelações e sim do setor do céu”.
“Mas, com isto, liquida-se de vez a ação dos astros sobre os humanos. O que resta é um efeito, sem causa identificável. (...) Eis o aspecto das coisas, do ponto de vista da ciência. Não a condene, portanto, quem esteja a par desse fato, se ela já não dá importância aos horóscopos.”
Muitos outros argumentos poderíamos evocar em apoio à nossa tese, como o fato evidente de que as estrelas são formadas pelo mesmo elemento básico (hidrogênio), o que seria um estorvo para influencias seletivas, mas fiquemos com este: que afinal, a crença astrológica é coisa para os homens que se afastaram de Deus e em consequência buscam o pobre substituto dos ídolos, no caso os astros, seres inanimados aos quais dirigem a confiança que deveriam ter no Criador.