DIMINUIR O DESPERDÍCIO: PONTO FOCAL DO SETOR FLORESTAL

Não fossem os desperdícios e a falta de uma maior agressividade no sentido de modificar o perfil dos produtos de exportação agregando valor aos mesmos, o Setor de Base Florestal brasileiro seria talvez mais importante que o complexo soja. Várias são as fases onde ocorrem desperdícios; até mesmo durante a armazenagem e na indústria da construção civil ele existe. Os mais importantes, todavia, em nosso entendimento ocorrem durante a exploração florestal em florestas naturais não manejadas ou com manejo equivocada e nas serrarias.

Dados apresentados em trabalho efetuado no Projeto Piloto de Manejo Florestal (IMAZON/WWF), em Paragominas, Pará, indicam que na exploração de florestas naturais de forma convencional, sem manejo, os desperdícios com erro na altura do corte de derrubada e no desponte somados às rachaduras e as toras não encontradas pela equipe de arraste chegam a 26% se comparados a uma área manejada. Isto se torna mais complexo quando o próprio governo já chegou a estimar que apenas 5% das toras extraídas anualmente das florestas nativas brasileiras procedem de boas práticas de manejo florestal aprovadas por algum tipo de avaliação externa.

O pior é que além do desperdício no campo existe desperdício também na indústria; principalmente na indústria de serrados. Grande parte de nossas serrarias apresentam níveis de desperdício no processamento da tora, da ordem de 40 a 60%. Nos países mais avançados o rendimento das serrarias não é menor que 70%. Há informações de que na Amazônia em geral o processamento de toras é ineficiente, com um aproveitamento, após o desdobramento, de apenas 35% do estoque removido.

Levantamento efetuado em 52 empresas madeireiras da Amazônia, mostrou que os rendimentos médios totais foram mais altos para as laminadoras (39%), seguindo-se as serrarias que produzem para o mercado doméstico (36%) e as de exportação (32%). O processamento para o mercado externo reduziu o rendimento da empresa madeireira, uma vez que as exigências de qualidade desse mercado permitem apenas defeitos pequenos na madeira processada. A degradação durante o armazenamento causou perdas substanciais de volume da tora. Na indústria de laminação, danos causados por insetos resultaram na perda de 8% do volume total da tora. Nas serrarias, as perdas por ataques de insetos variaram de 0% a 13% dependendo da espécie. A variação na espessura da madeira processada, resultante da utilização de equipamentos de processamento inadequados ou gastos, causou perdas de mais de 8% do volume durante o processamento. O rendimento das empresas madeireiras foi maior (em até 10% do volume total da tora) para aquelas que usavam sobras de madeira ou de laminados para fabricar produtos secundários.

Na busca de diminuição do desperdício, a utilização de planos de manejo, de baixo impacto, para exploração sustentada de madeira em florestas naturais e a melhoria da qualidade de nossas serrarias já seriam suficientes para evitar a maior parte de nossos desperdícios.

A situação é tão gritante que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente - IBAMA, em novembro de 2003, estabeleceu dois programas de capacitação para evitar o desperdício de madeira e reduzir a pressão sobre as florestas. Os programas destinavam-se a treinar 420 técnicos de estados, municípios, empresas sindicato para prestarem assessoria a empresários que produzem piso, molduras, brinquedos e outros produtos a partir de pedaços de madeira e empresários que porventura quisessem utilizar o briquete de serragem em suas caldeiras e centrais termoelétricas.

Em relação à agregação de valor há necessidade de investimento em modernização tecnológica e em design. Uma das formas de agregação de valor bastante interessante é o reprocessamento da madeira serrada. De acordo com um estudo setorial realizado pela ABIMCI, em relação a produtos de madeira sólida, essa é uma tendência que a maioria das empresas brasileiras está buscando. No mesmo relatório, consta que as principais espécies utilizadas na fabricação dos produtos de maior valor agregado - PMVA (“blocks”, “blanks”, molduras, painel colado lateral, pisos, pré-cortados, portas, componentes estruturais e outros) são o pínus e algumas espécies nativas.

Por fim, não é possível a continuidade da exploração de matéria-prima de madeiras da Amazônia, com um mínimo de agregação de valor como se faz atualmente.

Moacir José Sales Medrado; Pesquisador em Agrofloresta; Diretor Geral da MCA - Medrado e Consultores Agroflorestais Associadas Ltda.