O macaco aquático
Algumas conjeturas permanecem durante décadas em um limbo de obscuridade, simplesmente, em decorrência de sua própria estranheza. Foi assim, por exemplo, com a ideia da deriva continental, proposta e fortemente sustentada no início do século XX, mas só aceita uns setenta anos depois, tendo sido caricaturada e ridicularizada por uma multidão de tolos durante todo esse tempo.
Uma estranha teoria contemporânea, uma ideia quase tao herética quanto a da deriva continental, postula a existência de uma etapa aquática, ou semi aquática, na evolução humana. A ideia do "macaco aquático" consiste na sugestão de que, em certa época, nossos ancestrais levaram uma vida semi aquática. Não se trata de algo tão radical quanto a vida de um golfinho, mas algo parcial, como talvez o modo de vida dos hipopótamos.
Creio que apresentada dessa forma, como uma sugestão de uma etapa semi aquática na evolução humana, a ideia seja relativamente digerível. Sob o rótulo usual "macaco aquático", no entanto, a ideia pode soar inverossímil e até caricata. Os tolos costumam se impressionar muitíssimo com a sonoridade das palavras.
A ideia foi sugerida para explicar algumas características estranhíssimas de nossa espécie, das quais a mais óbvia talvez seja a ausência de pelos. Embora estejamos acostumados a ser pelados, um breve exame dos mamíferos revela o quão estranha é tal característica, compartilhada apenas por dois grupos de mamíferos: os subterrâneos e os aquáticos. Raríssimos outros mamíferos não têm pelos. Também temos outras características normalmente identificadas como "adaptações para a vida aquática", como as glândulas sebáceas, para a impermeabilização da pele; a gordura em torno do corpo, desenhada para impedir a perda de calor na água, e outras.
Gostaria de acrescentar mais uma característica a esse conjunto.
Quando vemos alguma coisa e a achamos bonita tendemos a acreditar que a referida coisa eh mesmo bonita, e então dizemos: esta coisa eh bonita, quando deveríamos dizer apenas: eu acho essa coisa bonita. A diferença consiste em assinalar uma beleza absoluta, própria da coisa observada, ou uma Beleza "em nossos olhos", de modo que a coisa seria bela vista por nos, não absolutamente.
Assim, quando vemos uma paisagem marinha nos deliciamos e nos sentimos atraídos por ela. Costumamos imaginar que as paisagens aquáticas, as marinhas em especial, sejam, frequentemente, lindas paisagens. E, de fato, normalmente o são, aos nossos olhos.
Contrastando com as paisagens aquáticas, os desertos áridos nos deprimem. A monotonia de uma paisagem árida, seca, morta, nos oprime, nos desagrada. Tendemos a achar paisagens assim feias, e, em consequência, a nos afastar de tais localidades.
Penso que, tanto a beleza que nos atrai, quanto a feiura que nos repele, nos casos acima, não decorrem de algo absoluto. Penso não haver uma beleza absoluta nas paisagens aquáticas, mas acredito que nossos olhos, moldados pela evolução para nos guiar ate os ambientes aquáticos, nos evoca sentimentos felizes, maravilhosos, juntamente com a apreciação estética das paisagens marinhas. Esse encantamento que sentimos quando nos deparamos com as paisagens marinhas, que os atrai para elas, eh o mesmo que teria levado nossos ancestrais para as águas, para a proximidade de mares e lagos, e que nos impediria de nos afastar de tais locais.
Do mesmo modo, a repulsa que sentimos à aridez nos empurraria para os locais mais úmidos. Penso que aos olhos de um camelo, as paisagens desérticas constituem o mais belo cenário que conseguem perceber, verdadeiro paraíso, razão pela qual vivem nesse ambiente. Já um hipopótamo deve fugir desesperadamente de tal inferno, e se deliciar com a visão paradisíaca de um imenso lago, tao plácido quanto as areias.
Assim, creio que a beleza, o sentimento estético evocado pelo encanto das paisagens aquáticas esta intimamente ligada a esse passado evolutivo que moldou e foi moldado por nosso corpo e mente.
Ah, aqui encontram um vídeo bem interessante sobre o tema:
http://designinteligente.blogspot.com.br/2009/09/teoria-do-macaco-aquatico.html
Talvez ainda mais interessante que a propria teoria seja observar como as pessoas em geral, e como nós mesmos analisamos ideias novas e heréticas.