Comentários sobre o Fim do Mundo
Você já deve ter sentido várias vezes a sensação de que o tempo custa a passar quando nada tem a fazer ou às vezes já disse para si mesmo "oh, o tempo está passando tão rápido" justamente em situações que urgem um maior tempo para se concretizarem, como, por exemplo, você quer chegar ao aeroporto mas no trajeto fica preso em um enorme engarrafamento. Esse é o nosso tempo interior, o nosso relógio subjetivo que nos angustia até ao pânico. Ora, o que tem a ver isso com o tempo já previsto para que o mundo tenha um fim?
Se você acha que esse tempo previsto pelos cientistas na obra de Barrow e Silk é infinitamente grande(e é mesmo), coloque-se na situação de quem está esperando esse tempo passar e nunca vê o seu fim, caso pudesse viver tanto. Mas mesmo em situações ordinárias você já deve também ter dito para si mesmo "O ano de 2011 passou tão rápido!" Imagine se você pudesse viver aqueles 10-100 anos que culminam literalmente com o fim do universo, ou melhor, este estará reduzido somente à energia esparsa. É provável que você tivesse a mesma sensação que sentiu em relação ao ano de 2011 ou mesmo em relação a qualquer outro tempo finito de nossa vida.
Agora para você ter uma idéia do que representa realmente esses 10-100 anos(é o número um seguido de cem zeros) basta relembrar a idade atual do universo que é de cerca de 10 a 15 bilhões de anos a partir da suposta explosão que deu origem ao universo, o Big Bang. Podemos representar esse número por 10-10 anos(é 1 seguido de dez zeros). Agora faça a comparação e veja que a atual idade do universo é uma ínfima parte de sua vida total.
Mas vamos baixar mais essas ordens de grandeza, pois se tratam de valores literalmente astronômicos. Vamos regredir até os primeiros hominídeos. Parece que eles apareceram há cerca de 2 milhões de anos. Mas isto é uma ínfima fração da idade do sistema solar ou da idade da terra que é de cerca de 4 a 5 bilhões de anos; e o homo sapiens parece que data de apenas a 100 mil anos. Ora, esses números que indicam a nossa existência são mesmo ridículos em relação a eternidade de 10-10anos e quanto ao de 10-100 anos é melhor nem comentar!
Agora vamos avançar um pouco para dentro de nossa galáxia, a Via Lactea(esta galáxia tem cerca 200 bilhões de estrelas, incluindo nosso sol que está num dos braços espiralados e distante do centro da mesma de 30.000 anos-luz; seu diâmetro maior é de cerca de 100.000 anos luz) e para muito bem perto de nós. É para a estrela Alfa Centauri (a estrela alfa da constelação do Centauro), a estrela mais próxima de nós, depois do sol. Essa estrela está apenas a 3,4 ano-luz da terra ( um ano-luz é o espaço percorrido pela luz em um ano com a velocidade de 300.000km/s e é igual aproximadamente a 9,5 trilhões de quilômetros). Segundo os cálculos do cientista Isaac Asimov, se partíssemos em uma nave em direção a essa estrela, só passaríamos ao seu redor daqui a 1 milhão de anos, devido as pequenas velocidades de nossas naves( cerca de 50.000km/h). Portanto a nossa poderosa tecnologia atual põe um limite ao nosso sonho de sairmos de nosso sistema solar em direção a outros sistemas, hoje. Você vê mesmo onde nós estamos metidos!
Então para chegar hoje próximo a estrela alfa do Centauro teríamos que ter saído da terra em um foguete ainda na era dos hominídeos.
Segundo alguns futurólogos a humanidade, do jeito que vai, não chegará daqui a um milhão de anos. A meu ver, este é um número astronômico para a nossa existência atual. Não precisamos nem chegar ao ponto da extinção do sistema solar para que isso se concretize. Basta ver o atual crescimento populacional, a demanda crescente por alimentos, a degradação do meio ambiente, as guerras, as pestes, a fome e a pobreza que se alastra no mundo sub-desenvolvido, para que aquela profecia dos futurólogos venha acontecer mesmo antes de um milhão de anos. Podemos sair da terra para algum outro planeta semelhante ao nosso e pertencente a outro sistema solar ainda não conhecido ? Parece pouco provável.
Como vimos, a velocidade máxima de nossas naves espaciais atuais não permitiria que chegássemos com vida (mesmo procriando durante a viagem) à estrela mais próxima de nós e que parece não ter um sistema solar. Daí para diante, nem pensar! Entretanto, se nossa tecnologia obedecer ao avanço exponencial que tem experimentado neste século, não vai demorar muito para que possamos viajar com velocidades cada vez maiores e, nos séculos vindouros, chegarmos a velocidades próximas a da luz. Mas aqui tem o problema. A teoria da relatividade põe também um limite à velocidade de partículas e corpos materiais quando a velocidade destes chega a se aproximar a da luz. É que nesta progressão a massa dos corpos tende a crescer com o aumento da velocidade e quando esta se aproxima da velocidade da luz essa massa vai se tornando cada vez maior até que não há mais força possível que possa acelerar o corpo que se tornaria extremamente pesado; e quando a velocidade do corpo chegasse igualar a velocidade da luz, a massa do mesmo se tornaria infinita...Então mesmo que fosse possível viajar com a velocidade da luz, ainda assim mesmo levaríamos mais de três anos para passar próximo a estrela alfa do Centauro e sem esperança de encontrar um possível planeta semelhante ao nosso para morar. Daí para diante o tempo de viajem para outra estrela cresce assustadoramente e vai além de nossa atual possibilidade de sobrevivência; e, segundo as observações mais atuais feitas pelo telescópio espacial Hubble, parece que nada existe em outras estrelas mais próximas e o tempo de viajem para mais além chega a centenas de anos-luz, isto é, com nossas naves viajando já quase com a velocidade da luz e sem encontrar ainda um sistema hospitaleiro. Sair da galáxia ? Só em ficção...É bom lembrar que ainda estamos dentro da Via Láctea!
Para sairmos da Via Láctea precisaríamos viajar milhares de anos-luz dentro da mesma até atingir uma de suas fronteiras. Para além, veríamos, entre outras, a galáxia de Andrômeda que está a cerca de 2,5 milhões de anos luz dentro do espaço...e mais outras e muitos milhões de anos, depois veríamos nossa galáxia se reduzir a um ponto no universo, e também a Andrômeda e milhões e bilhões de outras galáxias se reduzindo cada uma a um ponto; Por que isto ? Porque existe a grande probabilidade de nos perdermos no espaço...
Bem, essa imagem toda não é ficção. O telescópio espacial Hubble e os grandes observatórios terrestres já vão até bilhões de anos dentro do espaço e fizeram um mapa das galáxias observadas no qual as mesmas aparecem como pontos tais como as estrelas do céu que vemos a olho-nu e que pertencem a nossa galáxia. Relembramos: cada galáxia tem bilhões de estrelas, tal como a nossa. Diante de toda essa grandeza, vemos hoje que é impossível o homem sair do nosso sistema solar para outro. Mas temos a nossa disposição os outros planetas do sistema solar, entre eles, Marte. É possível que a tecnologia futura mude todo esse cenário real que temos a enfrentar. Por outro lado essa mesma tecnologia poderá vencer a fronteira da velocidade Einsteiniana, indo além da velocidade da luz. Só outra teoria radical poderia tornar isso possível porque quase toda a teoria da relatividade já foi submetida ao rigor da prova experimental, tendo passado em todas as provas.
Voltando agora ao tema do artigo, isto é, sobre o fim do mundo, podemos afirmar com certo grau de precisão que as previsões científicas vão muito além das que têm origem em pessoas que viveram em épocas passadas e que têm alcançado muita notoriedade atualmente. As previsões científicas atuais sobre o fim do universo vão para um futuro inimaginavelmente distante, enquanto que as que nascem de visões subjetivas e muitas vezes duvidosas não chegam sequer a 500 anos e estão permeadas de incertezas e codificações obscuras que deixam ao alvitre de qualquer pessoa interpretá-las a sua maneira. Portanto o fim do mundo pregado por esses visionários não tem nada a ver com a evolução e o destino final do universo já previsto pelos físicos e que se baseia em observações de outros sistemas estelares, como, por exemplo, a explosão de estrelas no final de sua fase evolutiva(as gigantes vermelhas), de outras que se contraem sob o intenso campo gravitacional formando as estrelas de nêutrons, os buracos negros, as estrelas anãs brancas, os quasares, os pulsares, etc. Se nesses sistemas que nascem, evoluem e depois se extinguem existissem planetas semelhantes ao nosso e com vida, é claro todo esse processo significaria o "fim do mundo" para seus eventuais habitantes.
Então o que se deveria fazer para evitar esse cataclismo final ? Temos três alternativas para um futuro ainda bem remoto ( talvez daqui a cinco bilhões de anos ou mais): (1) sair do nosso sistema solar. Se fosse hoje, isto seria uma impossibilidade tecnológica e de sobrevivência como já mostrei; (2) colonizar outros planetas do nosso próprio sistema antes que fossemos ejetados do sistema devido a passagem de uma estrela; (3) e, finalmente, ficar por aqui mesmo, por enquanto...
Essa última opção serve bem para o nosso status atual. A meu ver, essa última opção implica em conservar ao máximo o meio ambiente, incluindo quase todas as formas de vida existentes na terra; não degradar o meio ambiente com produtos tóxicos de qualquer natureza; aumentar a qualidade de vida de todos os seres humanos, acabando com a fome, as doenças, o analfabetismo, as guerras e toda espécie de preconceitos; garantir a qualquer Estado os direitos humanos de seus cidadãos, sem a tal autodeterminação dos povos que só tem incentivado a tara dos ditadores sanguinários(já neste final de século eles começam a ser julgados nos tribunais internacionais); garantir uma democracia responsável, injetando mecanismos nas constituições de cada Estado que permitam execrar a tempo os maus governantes; punir exemplarmente os corruptos e corruptores de todas as matizes com o fim de garantir a sobrevivência da democracia; e, finalmente, entre outras coisas mais, garantir a segurança dos cidadãos e a paz mundial. Utopia ?
Utopia ou não, só assim poderemos sobreviver por mais tempo neste planeta, e, como conseqüência tirar a razão daqueles que profetizam o fim do mundo, porque, do contrário estaremos dando razão para eles e desse modo essa previsão pode acontecer muito antes do destino final da terra e do universo.
Pense bem! Até onde podemos ver, só temos este planeta azul perdido na eternidade do espaço-tempo, embora o telescópio Hubble já tenha verificado a existência de quase mil exoplanetas, sem condições de abrigar a vida como conhecemos. Entretanto as últimas previsões astronômicas dão conta da existência de milhões de planetas só na nossa galáxia. Talvez dentre estes existam planetas semelhantes ao nosso com a possibilidade abrigar vida inteligente.