As Gotas Quânticas do Tempo 2
As Gotas Quânticas do Tempo 2
Antinomias
Apesar do curto tempo de nossas vidas, alguém já observou, sequer, algum movimento aparente das estrelas? Se pudéssemos viajar a velocidade da luz, veríamos em um segundo a Lua passar ao nosso lado, e o Sol se aproximando vertiginosamente da nossa proa; mas em cerca de oito minutos ele também já o veríamos à nossa retaguarda. A partir daí, estaríamos pendurados num vazio assombroso, as estrelas distantes nos pareceriam imóveis, e, talvez só a estrela Alfa Centauri que está cerca de 3,4 anos-luz (um ano-luz tem cerca de 9,5 trilhões de quilômetros) da Terra nos pareceria se mover um pouco, ou talvez não.
As distâncias dentro do nosso Universo são inimagináveis. Para o leitor ter uma idéia, a nossa galáxia, a Via Láctea, tem uma diâmetro maior 100 mil anos-luz, e contêm cerca de 200 a 300 bilhões de estrelas que variam de tamanho até atingir dimensões colossais (as gigantes vermelhas) em relação ao nosso Sol que é uma estrela de tamanho médio. A Via Láctea faz parte de um grupo de galáxias chamado Grupo Local no qual se destacam a Grande Nuvem de Magalhães, e a Galáxia de Andrômeda. Para a nossa escala de tempo de vida esta galáxia está a uma distância inimaginável, cerca 2.900.000 anos-luz da Terra e é maior que a Via-Láctea. Por enquanto vamos voltar a Alfa Centauri. Segundo os cálculos de Isaac Asimov (1920-1992; escreveu mais de 450 livros e cerca de 90.000 cartas sobre quase tudo; escritor e bioquímico, é considerado um dos grandes da ficção científica), levaríamos cerca de um milhão de anos para passar perto dessa estrela, levando em conta a velocidade máxima (cerca de 27.000 km/h) que chegamos atingir atualmente com os nossos satélites que orbitam em torno da Terra. Isto significa que para chegar lá teríamos que partir da Terra quando ainda éramos hominídeos, isto é, quando tínhamos acabado de descer das árvores, segundo a Teoria da Evolução. Ora, isso tudo só para vencer esses poucos mais de três anos-luz que nos separam dessa estrela. Recentemente o telescópio Hubble descobriu um planeta que orbita uma estrela que está cerca de 900 anos-luz. Os mesmos cálculos dão 27.000.000 de anos para chegar lá. Mesmo se voássemos à velocidade próxima a da luz (300.000km/s), estaríamos confinados num círculo de mais ou menos 100 anos-luz. O que você conclui, ainda que parcialmente?
E além da galáxia de Andrômeda? Segundo observações do telescópio espacial Hubble já foram observadas cerca de 100 bilhões de galáxias até aproximadamente 12 bilhões de anos-luz. Mais próximos estaríamos no início do tempo segundo o modelo convencional do Big-Bang, isto é, cerca de 13,5 bilhões de anos-luz.
Lembre-se que no modelo convencional da origem do Universo, o Big Bang, o espaço, a matéria e o tempo surgem a partir da grande explosão. Ainda não faz duas ou três décadas que os físicos diziam que não fazia sentido perguntar o que existia antes. Já com a teoria das cordas o tempo não teve princípio nem fim. Bem, se é assim, é bom enquadrar essas concepções naquilo que os filósofos consideram como antinomias do pensamento humano. Veja bem:
´As antinomias são os dilemas insolúveis originados de uma ciência que busca transcender a experiência. Assim, por exemplo, quando o conhecimento procura saber se, no espaço, o mundo é finito ou infinito, o pensamento repele qualquer dessas suposições: para além de qualquer limite somos levados a conceber algo mais remoto e assim indefinidamente; e todavia o infinito é inconcebível. Ou então: O mundo teve um começo no tempo? Não podemos conceber a idéia de eternidade; mas não podemos, igualmente, conceber algum ponto de partida no passado, sem compreender, incontinenti, que antes desse ponto já existia alguma coisa. Teve o encadeamento de causas que a ciência estuda, um começo, uma Primeira Causa? Sim, pois não se pode conceber uma cadeia infinita; e também não porque uma primeira causa não causada é igualmente inconcebível´ ( História da Filosofia, Will James Durante, 1885-1981, 7a edição traduzida do original Norte-Americano, The Story of Philosophy, Companhia Editora Nacional, SP, impresso nos Estados Unidos do Brasil, 1948).