O Cachorro e o Cachorro-Quente
Mais difícil que entender a Mecânica Quântica e as teorias da Relatividade é entender certas pessoas que, provavelmente não tiveram um curso regular dessas matérias, falam e escrevem com tamanha desenvoltura sobre temos polêmicos e ditos misteriosos que estão no corpo dessas ciências. Só mesmo não tendo conhecimento de seu conteúdo matemático cujo formalismo ´enrola´ os estudantes de um curso de bacharel em Física e até Phd´s.!
Atualmente existe uma onda quântica que tem encorajado certos autores que se enquadram nos tipos referidos. Já existe uma farta literatura sobre os mistérios da mecânica quântica que têm dado aza a esses autores para vôos que vão além dos cânones das ciências como um todo. Neles estão aqueles que leram ou talvez tenham tido um breve ´curso´ dessas ciências na base do blá-blá´blá, que, na verdade emergem dos experimentos e das equações que regem os seus fenômenos correlatos. No entanto, tais ilações daqueles escritores populares vão muito além do que realmente acontece nesses experimentos ou dos pensamentos de seus criadores, tais como Niels Bohr, Werner Heisenberg, Max Born, Einstein, Wolfgang Pauli, Dirac, Max Planck, e outros afortunados, todos laureados com o Prêmio Nobel.
Também não vou repetir certos experimentos clássico tais como os da ´fenda dupla´ e do ´gato de Shrödinter´; mas vale ressaltar agora o que diz Roger Penrose da University of Oxford sobre um pouco dos procedimentos usados de um modo geral em Física:
´Em física nós usamos dois tipos muito diferentes de procedimentos. Para descrever o micromundo, usamos a mecânica quântica. É o que eu mostro como o nível quântico. Uma das coisas que as pessoas dizem a cerca da mecânica quântica é que ela é nebulosa e indeterminista, mas isto não é verdade. Desde que se permaneça no nível quântico, a teoria quântica é determinista e precisa. Na sua forma mais familiar, a mecânica quântica envolve o uso da conhecida equação de Schrödinger que governa o comportamento do estado físico de um sistema quântico – chamado de estado quântico – e ela é uma equação determinista. A indeterminação na mecânica quântica somente aparece quando se faz o que se chama “fazer uma medida” e que envolve a ampliação de um evento do nível quântico ao nível clássico.
No macromundo, nós usamos a física clássica, que é inteiramente determinista. Estas leis clássicas incluem as leis do movimento de Newton, as leis do campo eletromagnético de Maxwell, que incorpora a eletricidade, o magnetismo e a luz, e as teorias da relatividade de Einstein, a Teoria Especial que trata das grandes velocidades e a Teoria Geral que trata dos grandes campos gravitacionais. Estas leis se aplicam com muita precisão em larga escala´( Roger Penrose, The Large, The Small, and Human Mind, Cambridge University Press, 1997).
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Nível quântico (equação de Shrödinger), determinista
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↓ Teoria probabilística convencional. Não local
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Nível clássico (Newton, Maxwell, Einstein), determinista
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Também é digno de nota o pensamento de Einstein em sua introdução no livro de sua autoria, The Meaning of Relativity:
´ Estou convencido que os filósofos têm contribuído danosamente para o progresso do pensamento científico ao remover certos conceitos fundamentais do domínio do empiricismo, onde eles estão sob nosso controle, às intangíveis alturas do “ a priori´ ( Albert Einstein, The Meaning of the Relativity , Princeton,1955).
Aqui Einstein se referia, provavelmente, a Kant. Isso é verdade também no caso dos atuais escritores que se atêm a Escola de Copenhague, idealizado por Niels Bohr, que atribui ao observador papel relevante numa observação. Isto é polêmico pois exisstem procedimentos experimentais que provavelmente eliminam os conceitos fantasiosos que vêm dos experimentos da fenda dupla, do gato de Shrödinger, dos saltos quânticos(segundo algumas teorias atuais estes saltos quânticos transitam num espaço descontínuo, e, também num tempo descontínuo). Parece que a entropia que gera informação a partir do mundo quântico e dá irreversibilidade ao tempo rumo ao mundo macroscópico, descarta essa possibilidade de participação da consciência do observador em uma observação. Faltam, talvez, àqueles escritores um melhor conhecimento da Mecânica Estatística, e da Eletrodinâmica Quântica, e , mesmo, como mostra Penrose, do Eletromagnetismo e da Física Newtoniana.
Nestas alturas é bom lembrar que nossos movimentos e quase toda nossa tecnologia se encaixam do mundo Newtoniano, pois, mesmo as velocidades dos atuais satélites chegam somente a 0,04 por cento da velocidade da luz. É verdade também que muitas tecnologias atuais têm a contribuição da mecânica quântica, como, por exemplo, os componentes eletrônicos dos celulares, TVs, lasers, etc. E o GPS que faz correções relativísticas.
Contudo, fazer extrapolações em ciência é um pecado capital, e, ainda mais quando se aventura levar certa fenomenologia da mecânica quântica para fenômenos paranormais, reencarnação, esoterismo, etc. Também isto não significa que os que criticam essas heterodoxias sejam materialistas, ateus, etc.
Certa vez, alguém disse numa roda que discutia esses assuntos: ´Nessa onda quântica, essas pessoas confundem o cachorro com o cachorro- quente...`