Inteligência emocional [SERMO CLV]
INTELIGÊNCIA EMOCIONAL
Prof. Dr. Antônio Mesquita Galvão
Por que te preocupas com tantas coisas?
Inteligência emocional é um conceito empregado em psicologia e também na filosofia clínica que descreve a capacidade de reconhecer os próprios sentimentos e os dos outros, assim como a capacidade de lidar com eles, incentivando a busca de soluções dos conflitos. O ponto alto da IE é a motivação e a comunicação. Este tema que ora debatemoss, tem nuanças técnicas, comportamentais e espirituais. Para a comunicação é preciso saber ouvir.
Quem não ouve, mal fala, mal vê (Parmênides).
Charles Darwin referiu-se à importância da expressão emocional para a sobrevivência e adaptação do indivíduo em seu meio-ambiente. Embora as definições tradicionais de inteligência enfatizem os aspectos cognitivos, como memória e resolução de problemas, vários pesquisadores de renome no campo da inteligência estão a reconhecer a importância de aspectos não-cognitivos.
Em 1920 o psicometrista e psicólogo educacionao Robert. Thorndike († 1990), na Universidade de Colúmbia, usou o termo “inteligência social” para descrever a capacidade de compreender e motivar os outros. Em 1983 Howard Gardner em sua teoria das inteligências múltiplas introduziu a ideia de incluir na psicologia os conceitos de inteligência intrapessoal (capacidade de compreender a si mesmo e de apreciar os próprios sentimentos, medos e motivações) quanto de inteligência interpessoal (capacidade de compreender as intenções, motivações e desejos dos outros).
O primeiro uso do termo “inteligência emocional”, IE, é geralmente atribuído a Wayne Payne, citado em sua tese de doutorado, em 1985. O termo, entretanto, havia aparecido anteriormente em textos de Hanskare Leuner (1966). Outro mestre do comportamento, Stanley Greenspan também apresentou em 1989 um modelo de IE, seguido por outras celebridades do mundo do comportamento.
A publicação de “The Bell Curve” (1994) pelo psicólogo e professor da Universidade de Harvard, Richard Hermstein e pelo cientista político Charles Murray lançou controvérsias em torno do QI. Segundo os autores, a tendência era que a sociedade moderna se estratificasse pela definição de inteligência, não pelo poder aquisitivo ou por classes. Esse assunto hoje saiu um pouco de cartaz.
Por QI (Quociente de inteligência) se entendia (ou se entende) uma medida obtida por meio de testes intelectuais desenvolvidos para avaliar as capacidades cognitivas (inteligência) de um indivíduo em comparação ao seu grupo etário. A medida do QI é normalizada para que o seu valor médio seja de 100 e que tenha um determinado desvio-padrão de 15, para mais ou para menos. Os testes servem para determinar a “idade mental” da pessoa, que será cotejada com a idade cronológica, na fórmula abaixo:
Idade Mental
QI= x 100
Idade cronológica
A classificação, originalmente proposta por David Wechsler é a seguinte:
 QI acima de 127: Superdotação
 121 - 127: Inteligência superior
 111 - 120: Inteligência acima da média
 91 - 110: Inteligência média
 81 - 90: Embotamento ligeiro
 66 - 80: Limítrofe
 51 - 65: Debilidade ligeira
 36 - 50: Debilidade moderada
 20 - 35: Debilidade severa
 QI abaixo de 20: Debilidade profunda
Os especialistas dividiram a IE em quatro domínios:
1. Percepção das emoções – inclui habilidades envolvidas na
identificação de sentimentos por estímulos, como a voz ou a
expressão facial, por exemplo. A pessoa que possui essa
habilidade identifica a variação e mudança no estado
emocional de outra;
2. Uso das emoções – implica na capacidade de empregar as
informações emocionais para facilitar o pensamento e o
raciocínio;
3. Entender emoções – é a habilidade de captar variações
emocionais nem sempre evidentes;
4. Controle (e transformação) da emoção – constitui o aspecto
mais facilmente reconhecido da IE – e a aptidão para lidar
com os próprios sentimentos.
Segundo Daniel Goleman, a IE pode ser categorizada em cinco habilidades:
1. Auto-Conhecimento Emocional – reconhecer as próprias
emoções e sentimentos quando ocorrem;
2. Controle Emocional – lidar com os próprios sentimentos,
adequando-os a cada situação vivida;
3. Auto Motivação – dirigir as emoções a serviço de um
objetivo ou realização pessoal;
4. Reconhecimento de emoções em outras pessoas –
reconhecer emoções no outro e empatia de sentimentos; e
5. Habilidade em relacionamentos inter-pessoais – interação
com outros indivíduos utilizando as competências sociais
conhecidas.
As três primeiras são habilidades intra-pessoais e as duas últimas, inter-pessoais. Tanto quanto as primeiras são esseciais ao auto-conhecimento, estas últimas são importantes em:
1. Organização de Grupos – habilidade essencial da liderança,
que envolve iniciativa e coordenação de esforços de um
grupo, bem como a habilidade de obter do grupo o
reconhecimento da liderança e uma cooperação espontânea;
2. Negociação de Soluções – característica do mediador,
prevenindo e resolvendo conflitos;
3. Empatia – é a capacidade de, ao identificar e compreender
os desejos e sentimentos dos indivíduos, reagir
adequadamente de forma a canalizá-los ao interesse comum;
4. Sensibilidade Social – é a capacidade de detectar e
identificar sentimentos e motivos das pessoas.
Na força emocioal do trabalho há que se dar valor à comunicação, à motivação e à liderança, o tripé que sustém e dinamiza as chamadas “relações humanas”. Esses fatores auxiliam as relações interpessoais além de incrementar a busca pela felicidade e a realização pessoal e coletiva das pessoas. Esse objetivo indica o top da IE.
O desenvolvimento do assunto, relacionado a partir de agora, é estritamemnte motivacional, havendo sido desenvolvido e apresentado em slides, para aulas e conferências.
Ser feliz e viver muito é uma opção pessoal – Trata-se da opção de vida de cada um e dimana de um processo mental bem elaborado;
O homem moderno sofre várias “epidemias”, entre elas a aterosclerose, a depressão e as neusorese. Segundo a OMS, o resultado dessas epidemias aponta para o infarto, os AVCs (acidentes cerebrais) e para as diverseas formas de câncer. Todos esses males tem as mesmas causas: depressão, pessimismo, falta de um sentido para a vida e perda da auto-estima.
Nessas águas, são causas de morte: a) as emoções negativas; b) a genética; c) o que comemos; d) o que bebemos; e) o que respiramos. Deste modo, saúde equivale ao bem-estar físico, mental, psíquico, familiiar, social, profissional, ambiental e espiritual.
Há alguns meses me procurou um cidadão, de quase oitenta anos, um psiquiatra pós-graduado, que queria umas aulas de grego. Ele descobriu que o lado espiritual do indivíduo, uma vez acionado, se tornava um ponderável instrumento para o bem-estar pessoal. Para isto ele decidiu – aos setenta e sete anos – estudar teologia, e para isto, a cadeira de grego era uma ferramenta para desenvolver aquele potencial. Interessante a busca de uma pessoa idosa, ao invés de se acomodar ou se dedicar ao ócio, aceitável na sua faixa etária.
Dizem que as doenças psíquicas, e entre elas o Mal de Alzhaimer, fazem ninho nos cérebros desativados e nos corações excessivamente preocupados. Os especialistas no-lo ensinam que há três pontos que devem ser tratados simultaneamente na terapia psíquica: o corpo, a mente e o espírito, cada um ao seu modo e com a abordagem específica. As pesquisas dessa área revelam que as doenças da alma, os problemas psíquicos, causam as enfermidades do corpo. Nesse terreno não é difícil identificar um “quarteto maléfico” que destroi o ser humanao: a) a raiva; b) a inveja; c) a vaidade; d) o ressentimento. Esses, além do Alzheimer, podem produzir o câncer, o Mal de Parkinson e outros males.
De outro lado, e nos valemos de dados da Stanford University, há quatro fatores que ajudam a prolongar a vida humana:
 a assistência médica (10%);
 a genética (17%);
 o meio-ambiente (20%);
 o estilo de vida (53%).
O que é “estilo de vida”?
É a gestão do prazer e da felicidade. A maior parte das atividades para me-lhorar seu estilo de vida depende só de você, com o implemento de a) decisão; b) gerenciamento equilibrado das emoções. É um equivoco – como julgam muitos – pensar que o dinheiro interfere no estilo de vida e produz felicidade. Ele pode ge-rar uma certa melhoria de vida, uma euforia transitória, mas nunca a felicidade. Se dinheiro resolvesse problemas, rico não se suicidava.
Para essa construção vamos descobrir que estilo de vida é igual a saúde, igual a felicidade e igual a longevidade. A longevidade não será gratificante se não resultar em prazer de viver. Aqui quero usar uma sentença de Buda para ilustrar estas idéias:
O segredo da saúde, mental e corporal, está em não se lamentar pelo passa-do, não se preocupar com o futuro, nem se adiantar aos problemas, mas viver sabiamente o presente
Falando em felicidade, há seis fatores que afetam – positiva ou negativa-mente – a felicidade das pessoas:
 relação (aceitação) consigo mesmo
 relações familiares
 situação financeira
 trabalho (atividade constante)
 saúde.
Viver bem começa pela qualidade das nossas escolhas. Para ser feliz escolha viver sem medo ou remorsos. Nos danos que podem ser causados à nossa saúde mental está a falta do amor: amar e ser amado. Nisto fomos buscar uma frase inspirada de Madre Teresa de Calcutá, uma santa do século XX:
A maior enfermidade é não ser alguém para ninguém...
A IE é capaz de nos reunir em uma atividade social que demonstra que só quem se preocupa em fazer a felicidade do(s) outro(s) é capaz de alcançar a pró-pria felicidade. Nos “cursinhos para noivos” em que trabalhamos, minha mulher e eu, a gente abre o encontro, que trata da psicologia do casal, perguntando: “Quem quer ser feliz?” Em geral todos levantam a mão, bradando: eu, eu, eu! Depois dis-to nós mandamos que baixem as mãos, pois são todos egoístas, uma vez que “eu quero ser feliz!”. E ele, e ela , ali do lado, como é que fica? O segredo – explicamos – está em fazer ele ou ela feliz, e da sua felicidade tirar a nossa. Parece simples?... mas não é... e este equívoco é fonte de tantas relações que não vão adiante.
Nos séculos XVIII e XIX a motivação principal do trabalho era a satisfação do dever cumprido. O dinheiro, como fator de motivação, é mais recente, e surgiu após a mercantilização que veio da Revolução Industrial. Atualmente o dinheiro voltou ao segundo lugar. Hoje o que motiva as pessoas é a satisfação pessoal, o sentimento de pertença a um grupo especial, a segurança social, o atingimento de um determinado status, etc.
Trabalhar, embora às vezes penoso, não mata ninguém. O ócio, o desem-prego, o dolce far niente, matam muito mais... O trabalho não mata! O que mata é a raiva, a inveja, o despeito! Matam, igualmente a Televisão, a Internet e a sín-drome da comparação social que hoje é uma nova doença. O fator inveja faz a comparação entre o poder aquisitivo das pessoas. É isto que produz a sensação de infelicidade, de inferioridade. O invejoso morre mais ligeiro... O consumismo (e junto com ele o endividamento) – ao contrário do que muitos pensam – aumenta a insatisfação e a infelicidade.
Há duas maneiras de alguém ser rico: possuir muito ou se contentar com o que tem. Se eu me sinto feliz com o que tenho, então eu sou rico! A felicidade, e isto é um mistério da existência humana, é obtida e distribuída irregularmente entre as pessoas. O segredo está em aceitar a dose que nos foi concedida.
O sucesso de uma empresa não se mede pelo lucro do seu balanço, mas pe-lo índice de satisfação de patrões e empregados. Felicidade faz bem para o patrão e para o empregado, porque as pessoas realizadas são mais felizes e motivadas; e produzem mais. Não se mede a felicidade de uma família por seus bens ou títulos de escolaridade, mas pelo sentido de comunhão, de participação e de perdão que existe entre seus membros.
O enorme risco é se acostumar com a felicidade, banalizando-a. A inteligên-cia a serviço das emoções deve estar empenhada sempre em renovar os sentimen-tos e buscar atualizar, cada vez mais os caminhos de busca da felicidade. O pior cego é aquele que não enxerga a própria felicidade. Sobre felicidade, certa vez es-cutei uma criança, possivelmente um índigo (ou da geração Y) afirmando que feli-cidade é uma palavra que tem música.
O grande paradigma do século XX foi a busca do ter. Com isso ocorreu a perda da longevidade, que se corrompeu no meio de tantas preocupações materi-ais. Com o século XXI se inverteram aqueles paradigmas. Passou-se a perquirir novos valores, mais conscientes e gerador de melhores bases sócio-afetivas e só-cio-fraternas. Com a eleição do ser como objetivo de vida, as pessoas são mais fe-lizes, solidárias e longevas. Por uma questão de prioridade, saibamos que o mun-do não nos deve nada, pois existia antes de nascermos.
Diante de tantas ameaças, os jovens nos perguntam: é possível programar a felicidade? Eu me arrisco a dizer que sim, indicando como caminho a minimização dos aspectos negativos e deletérios da vida, focando mais o lado positivo dela... Essa busca em favor da vida deveria ser o único objetivo e compromisso do ser humano. A vida é bela para quem a faz bela. Pensar assim é usar a inteligência para gerenciar nosso lado emocional. Nunca se deve abrir mão de sonhar. Um so-nho que não se vive é como uma carta que não se lê. O estilo salutar de vida leva a uma vida qualidade, que vale a pena ser vivida. A essas técnicas se costuma chamar de “busca da cura interior”. Esta é uma área que recebe um enfoque pri-vilegiado por parte da “filosofia clínica”.
Quando eu toco nesse assunto, em determinados auditórios, algumas pes-soas meio desatentas perguntam: O que é cura interior? Existe isto? Lamentavel-mente, incapaz de diagnosticar a origem de seus males, muita gente não consegue identificar suas aflições e, desta forma, não tem como buscar essa cura interior.
Cura interior é a cura do nosso ser interior todo, espírito, alma. Trata-se de uma regeneração da mente, da parte afetiva do coração, das emoções, remorsos, lembranças desagradáveis, traumas, pesadelos, etc. Isto funciona como uma se-quência da IE. É o processo pelo qual, por meio da reflexão (a psicologia), da dis-ciplina interior (o budismo), da organização de nossos objetivos (a filosofia clínica), da oração a Deus, em nome de Jesus Cristo e pela meditação da Palavra (o cristi-anismo), somos libertos de sentimentos de ressentimento, rejeição, auto-piedade, depressão, culpa, medo, tristeza, ódio, complexo de inferioridade, auto-condenação, perda da auto-estima, mágoas, etc.
Os grandes males de nosso tempo têm origem a partir dos estereótipos que teimamos em adotar como modelo para nossa vida. A mídia, os modismos, a “cul-tura popular” tudo contribuiu para que a gente assuma o que os alemães cha-mam de zeitgeist, ou seja, o espírito do mundo, algo que se torna um padrão, a-firmado como valor só porque todos aderiram a ele. Quem julga as pessoas não tem tempo para amá-las. Não se confunda, porém, repreender, praticar a salutar “correção fraterna” com qualquer tipo de julgamento.
Muita gente tenta a solução desses males através das ciências humanas, e nem sempre encontra uma solução satisfatória. É aí que entra a necessidade de uma “cura interior”. Em muitos casos, a cura interior pode passar pelo ato de perdoar alguém. No entanto, há circunstâncias em que o ressentimento não é uma mágoa externa de raiva que busque vingança contra outra pessoa. Tratando-se de um sentimento que nos sufoca o coração, ele pode não estar vinculado ao ato de perdoar. Sem curarmos integralmente nossa alma de todas as feridas, con-trariedades e decepções que nos afetam, jamais criaremos espaços interiores onde se possa abrigar a felicidade.
A inteligência emocional, não nos torna doutos ou sabichões, mas faz de nós pessoas sábias que sabem desfrutar os bons momentos da vida, a que cha-mamos de felicidade
Nesse processo se ressalta a cura interior, que é a renovação de toda a nos-sa mente e de nosso coração enquanto sede dos afetos. Ora, se buscamos a cura interior é sinal que reconhecemos a existência de uma “doença interior”. Correto? Ninguém vai ao médico queixar-se de dores que não tem. Cura interior, nesse par-ticular, é a cura das feridas emocionais, e é o processo da conscientização da nos-sa situação. Sorrir é melhor que manter a “cara amarrada”. Em geral, ser feliz não é questão de destino, mas de escolha... Hoje eu tenho duas escolhas a cada ma-nhã: ficar de bom humor ou de mau humor. Meu dia deve ser repleto de pequenas e constantes alegrias! Nas pequenas emoções moram as grandes felicidades.
O segredo da saúde mental, objetivo máximo da IE, como disse Mark Twain, parafraseando Buda, está em não nos lamentarmos pelo passado, não nos preo-cuparmos muito com o futuro, nem nos adiantarmos aos problemas. O afobado começa a sofrer na véspera. Devemos viver séria e sabiamente o dia de hoje.
Jesus disse: “Por isso é que eu lhes digo: não fiquem preocupados com a vi-da, com o que comer; nem com o corpo, com o que vestir. Afinal, a vida não vale mais do que a comida? E o corpo não vale mais do que a roupa? Olhem os pássaros do céu: eles não semeiam, não colhem, nem ajuntam em arma-zéns. No entanto, o Pai que está no céu os alimenta. Será que vocês não va-lem mais do que os pássaros? Quem de vocês pode crescer um só centíme-tro, à custa de se preocupar com isso? E por que vocês ficam preocupados com a roupa? Olhem como crescem os lírios do campo: eles não trabalham nem fiam. Eu, porém, lhes digo: nem o rei Salomão, em toda a sua glória, jamais se vestiu como um deles” (Mt 6,25-29).
POR DENTRO DO CÉREBRO
Uma Entrevista com Paulo Niemeyer Filho, neurocirurgião, à revista PODER (maio 2010).
PODER: O que fazer para melhorar o cérebro?
Paulo Niemeyer:
Você tem de tratar do espírito. Precisa estar feliz, de bem com a vida, fazer exercício. Se está deprimido, com a auto-estima baixa, a primeira coisa que acontece é a memória ir embora; 90% das queixas de falta de memória são por depressão, desencanto, desestímulo. Para o cérebro funcionar melhor, você tem de ter motivação. Acordar de manhã e ter desejo de fazer alguma coisa, ter prazer no que está fazendo e ter a auto-estima no ponto.
PODER: Cabeça tem a ver com alma?
Paulo Niemeyer:
Eu acho que a alma está na cabeça. Quando um doente está com morte ce-rebral, você tem a impressão de que ele já está sem alma... Isso não dá para explicar, o coração está batendo, mas ele não está mais vivo.
PODER: O que se pode fazer para se prevenir de doenças neurológicas?
Paulo Niemeyer:
Todo adulto deve incluir no check-up uma investigação cerebral. Vou dar um exemplo: os aneurismas cerebrais têm uma mortalidade de 50% quando rompem, não importa o tratamento. Dos 50% que não morrem, 30% vão ter uma sequela grave: ficar sem falar ou ter uma paralisia. Só 20% ficam bem. Agora, se você encontra o aneurisma num check-up, antes dele sangrar, tem o risco do tratamento, que é de 2 a 3%. É uma doença muito grave, que pode ser prevenida com um check-up.
PODER: Você acha que a vida moderna atrapalha?
Paulo Niemeyer:
Não, eu acho a vida moderna uma maravilha. A vida na Idade Média era um horror. As pessoas morriam de doenças que hoje são banais de ser tratadas. O sofrimento era muito maior. As pessoas morriam em casa com dor. Hoje existem remédios fortíssimos, ninguém mais tem dor...
PODER: Existe algum inimigo do bom funcionamento do cérebro?
Paulo Niemeyer:
O exagero. Na bebida, nas drogas, na comida. O cérebro tem de ser bem tra-tado como o corpo. Uma coisa depende da outra. É muito difícil um cérebro muito bem num corpo muito maltratado, e vice-versa.
PODER: Qual a evolução que você imagina para a neurocirurgia?
Paulo Niemeyer:
Até agora a gente trata das deformidades que a doença causa, mas acho que vamos entrar numa fase de reparação do funcionamento cerebral, cirurgia genética, que serão cirurgias com introdução de cateter, colocação de partí-culas de nanotecnologia, em que você vai entrar na célula, com partículas que carregam dentro delas um remédio que vai matar aquela célula doente. Daqui a 50 anos ninguém mais vai precisar abrir a cabeça.
PODER: Você acha que nós somos a última geração que vai envelhecer?
Paulo Niemeyer:
Acho que vamos morrer igual, mas vamos envelhecer menos. As pessoas i-rão bem até morrer. É isso que a gente espera. Ninguém quer a decadência da velhice. Se você puder ir bem de saúde, de aspecto, até o dia da morte, será uma maravilha.
PODER: Hoje a gente lida com o tempo de uma forma completamente diferente.
Você acha que isso muda o funcionamento cerebral das pessoas?
Paulo Niemeyer:
O cérebro vai se adaptando aos estímulos que recebe, e às necessidades. Você vê pais reclamando que os filhos não saem da internet, mas eles têm de fazer isso porque o cérebro hoje vai funcionar nessa rapidez. Ele tem de entrar nesse clique, porque senão vai ficar para trás. Isso faz parte do mun-do em que a gente vive e o cérebro vai correndo atrás, se adaptando.
PODER: Você acredita em Deus?
Paulo Niemeyer:
Geralmente depois de dez horas de cirurgia, aquele estresse, aquela adrena-lina toda, quando acabamos de operar, vai até a família e diz:
"Ele está salvo!” Aí, a família olha pra você e diz: "Graças a Deus!".
Então, a gente acredita que não fomos apenas nós.
Este artigo é resumo de uma conferência ministrada em uma entidade de profissionais da saúde (Porto Alegre), em outubro de 2011. O autor é Filósofo e Doutor em Teologia Moral e Especialista em Bioética. Publicou mais de cem livros em vários países, entre eles “O amor não passará jamais, Ed. Vozes (Brasil e países de língua francesa). Prega retiros de espiritualidade e coordena cursos e workshops na área do comportamento, teologia, his-tória antiga e filosofia. Possui um QI de 123 pontos, avaliado em 1989 pelo laboratório de Recursos Humanos da Caixa Econômica Federal, de onde é aposentado.