Perspectivas do Homem

Tanto a filosofia quanto a ciência em geral, essencialmente buscam responder uma simples pergunta. Enquanto a ciência em geral se dedica à tarefa de responder à uma questão que perpetuamente assombra as nossas mentes que é "Como?", a filosofia por seu turno toma um sentido mais amplo dedicando-se a responder à questão que nos assola continuamente do "Por que?", e embora o porquê de perguntas possa parecer relativamente mais simples na verdade ele quase nos sem respostas. Assim, por exemplo, quando uma criança pergunta inocentemente "por que 'alguma coisa'" os sábios são reduzidos ao silêncio.

O homem é o único animal que incansavelmente interroga-se acerca de si mesmo. Assim, a filosofia se curva e gira em torna da pessoa do filósofo e a cada questão que ele levanta é inescapavelmente enredado com a pergunta sobre si mesmo questionando "Que é o homem?"

Em qualquer disciplina em que nos rotulamos filósofos, teólogos, antropólogos ou cientistas, cada um de nós é um ser humano que lida com a questão da auto-identidade e se faz a pergunta "que é o homem" no que nos diz respeito individualmente nos níveis mais profundos de nossa existência, porque essa é a questão realmente assustadora que nos fazemos: "quem sou eu?"

O homem como modelo definido

Vamos lembrar alguns modelos de homem concorrentes e que já foram aceitos. Num conceito puramente materialista "o homem não é nada" e Bertrand Russell elegantemente expressou isso dizendo que "o homem é um aglomerado acidental de átomos". No século 18 os 'iluminados' atribuíam ser o homem somente um engenhoso sistema portátil de encanamentos. Na Alemanha pré-Hitler houve uma desvalorização do 'Homo sapiens' nas brincadeiras pouca lisonjeiras difundindo que "o corpo do ser humano contém gordura suficiente para fazer 7 barras de sabão, ferro suficiente para fazer um prego de tamanho médio, fósforo suficiente para 2000 cabeças e enxofre suficiente para se livrar das próprias pulgas". Quando corpos humanos foram mais tarde transformados em sabão nos campos de extermínio, verificou-se que a piada foi trabalhada para a 'solução final'.

Desde 'Catch 22' de Joseph Heller o homem vem sendo também considerado como uma lixeira desde as entranhas, uma matéria que pode ser queimada ou enterrada como outros tipos de lixo. Afinal, considerado como um lixo de um aglomerado acidental de átomos, destinado, mais cedo ou mais tarde, à decadência e podridão.

Um conceito aparentemente endossado pela ciência sustenta que o homem é essencialmente uma máquina; uma incrivelmente sofisticada máquina sem dúvida, mas no final nada mais que uma espécie de mecanismo.

Um outro conceito sempre atual é o que afirma o homem ser essencialmente um animal. Entretanto quando o homem, um 'órfão cósmico' conforme descrito por Loren Eiseley, indaga "quem sou eu?" a ciência quer dar uma resposta definitiva, quer falando sobre cadeias genéticas, evoluções, mas a ciência em si, quando pressionada, admite que sua explicação é 'um conto de fadas' para logo a seguir acrescentar que a vida não estável etc.

As outras criaturas, no entanto, têm apenas instintos que fornecem para eles 'os buracos onde se esconderem'. Assim a raposa é somente uma raposa e um lobo é apenas um lobo, embora isso também seja uma ilusão para nós pois pensamos saber que são encadeamentos genéticos desde a ciência. Aprendemos a fazer perguntas, continuamos a perguntar diante das mudanças e por isso somos órfãos. Perguntamo-nos em que vamos nos transformar e o mundo parece não satisfazer em quaisquer respostas. Assim "o órfão chora, escondendo a cabeça mas com a pergunta em aberto: quem sou eu?"

Infelizmente, quando o homem é reduzido a um animal e nada mais que um animal, sua aura de nobreza desaparece e a bestialidade começa a empurrar a humanidade para o fundo, como retratado na arte contemporânea, na literatura e no drama. Robert Fitch diz que "o homem é uma besta e a única diferença entre o homem e os outros animais é que o homem é animal que sabe que vai morrer e ser for honesto consigo mesmo será um egoísta descarado", com essa valoração redutora sobre a vida humana sobram espaços apenas para as paixões, para a luxúria, para o ódio e para a ganância o que não é uma tragédia, porque não tem a dignifade de uma tragédia pois que assim o homem desempenha o seu papel que no final também é uma mentira.

Desse modo, o homem vem sendo reduzido pelas ciências, e desprezado em suas dimensões próprias como reflexão, para no mínimo um nada, no caminho de serviço ao lixo, mesmo como um complexo maquinário sincronizado ou um animal consciente em mutação, qual um órfão cósmico resta viver e morrer em melancólica solidão.

Contra todos estes pontos de vista sobra um olhar para o homem na perspectiva de um desenho antropológico bíblico no qual se pode supor que ele seja criatura de Deus.

- Vernon C. Grounds (traduzido, adaptado e condensado de "God's Perspective on Man" - Journal of the American Scientific Affiliation 28. 4 (Dec 1976 - 145-51) em língua portuguesa por Joseph Shafan)