MADAME CURIE - A PRIMEIRA-DAMA DA CIÊNCIA

Todas as vezes em que se fala da colaboração inestimável das mulheres na produção do conhecimento científico, pensa-se de imediato em Marie Curie. Não que os trabalhos produzidos por outras cientistas tenham sido de menor importância. É que madame Curie representa um símbolo. Uma das pioneiras que na virada dos séculos XIX/XX abriu, com competência, caminho numa ciência que era eminentemente praticada por homens: a física.

Marie Curie nasceu como Maria Salomee Sklodowska, em Varsóvia, Polônia, em 7 de novembro de 1867. Seu pai era físico e a mãe, que cedo morreria, era diretora de um colégio. A educação de Marie Curie é uma história de determinação e triunfo sobre todos os tipos de adversidade. A Polônia não era uma nação independente e sim uma província da Rússia, que procurava apagar a cultura polonesa.

Em 1886, com 18 anos de idade, começou a trabalhar como governanta, parte de um trato que fez com sua irmã Bronia, para poder completar a educação delas em Paris.

Em 1891, mudou-se para a França, obtendo uma matrícula na Universidade de Paris. Viveu ali com poucos recursos, chegando, certa vez, a desmaiar de fome durante uma aula, o que não a impediu de se tornar a primeira mulher a obter um título em física pela Sorbonne. Formada – magna cum laude – em 1893, obteve um título de matemática, um ano depois.

Embora sua ambição original fosse a volta para a Polônia após completar os estudos, uma breve viagem para casa, em 1894, convenceu-a da inutilidade de uma repatriação com a finalidade de tentar melhorar seu país. Decidiu, então, ficar na França.

Na Universidade de Paris (Sorbonne), Marie trabalhou com alguns dos nomes mais conhecidos da física e da matemática daquele período. Foi nessa época que conheceu Pierre Curie, um químico já bem conceituado nos meios acadêmicos, com quem se casou. Optaram por realizar apenas a cerimônia civil, pois se consideravam anticlericais, e dispensaram também as alianças e o vestido de noiva. Em vez disso, como lua de mel, preferiram adquirir duas bicicletas para fazerem uma viagem pela região campestre francesa.

Após o casamento, viveram em Paris, na Rua de la Glacière, num apartamento pouco mobiliado, pois Marie não gostava de cuidar de casa.

A descoberta dos raios X por Wilhelm Rongten, em 1895, e a investigação das misteriosas propriedades do urânio, por Henri Becquerel logo depois, afetaram dramaticamente tanto a trajetória da física, quanto a vida de Marie Curie. Em 1897, escolheu os raios de Becquerel como tema de sua tese de doutorado. Iniciou a caracterização das propriedades do urânio, trabalhando com um eletrômetro, desenvolvido por Pierre e seu irmão Jacques para detectar radiações de minérios, como a pechblenda ( óxido de urânio). Tendo encontrado um teor de radiação que excedia o esperado para o urânio, ela se lançou num longo e exaustivo trabalho de purificação do material de que dispunha, até obter um metal que ainda não havia sido descoberto. Marie Curie batizou-o de polônio. Mas a dose de radiação emitida apontava para novos elementos, e prosseguindo suas pesquisas Marie chegou ao elemento rádio. O trabalho dos Curie para extrair o novo elemento rádio, tornou-se uma parte da lenda científica. Trabalhando dia e noite numa cabana cheia de goteiras, Marie escreveu mais tarde, que ela e Pierre estavam “extremamente prejudicados pelas condições inadequadas, pela falta de um lugar decente para trabalhar, pela falta de dinheiro e de pessoal”. Apesar disso, e do trabalho exaustivo, “caminhávamos para cima e para baixo falando sobre nosso trabalho, presente e futuro. Quando estávamos com frio, uma xícara de chá quente, tomado junto ao aquecedor, era suficiente para nos animar. Vivíamos numa preocupação tão completa quanto aquela de um sonho”.

Somente em 1902 Marie Curie conseguiu obter uma pequena quantidade de rádio, purificado a partir de muitas toneladas de pechblenda. Essa pequena amostra foi suficiente para que ela estudasse algumas de suas propriedades físico-químicas. Não tardou para que Marie e Pierre Curie recebessem, em 1903, o prêmio Nobel de física, que compartilharam com Henri Becquerel.

Marido e mulher ficaram famosos da noite para o dia, porém três anos mais tarde, em 1906, Pierre morreu num acidente na Pont Neuf, em Paris. Numa tarde chuvosa foi atropelado por um Percheron e teve seu crânio esmagado pela roda traseira da carroça, puxada pelo cavalo.

Profundamente sentida, Marie, apesar disso, ocupou o cargo de professor, antes pertencente a Pierre, na Sorbonne, tornando-se, também, a primeira mulher a lecionar na Universidade de Paris.

Ela continuou a trabalhar em processos de purificação do rádio até provar que se tratava de um elemento químico, ao contrário do que afirmavam alguns pesquisadores. Esses preciosos trabalhos foram recompensados com o segundo prêmio Nobel de sua carreira, só que dessa vez de química. Em 1912, recebeu um laboratório no Instituto Pasteur, em Paris. Dois anos depois, estourou a Primeira Guerra Mundial.

Durante a Guerra, que dizimou toda uma geração de jovens franceses, Marie Curie foi muito ativa, organizando o uso de raios X para intervenções médicas e cirúrgicas, instalando postos radiológicos móveis e permanentes e treinando técnicos. Depois da Guerra, fundou o Instituto do Rádio de Paris e obteve alta proeminência na ciência francesa.

Em 1922 tornou-se a primeira mulher eleita para a Academia Francesa de Medicina. E, no ano seguinte, recebeu do Parlamento francês uma pensão vitalícia.

Os perigos da radiação não eram conhecidos quando os Curie iniciaram suas pesquisas e, em meio à absoluta surpresa, não tiveram cuidado com os novos elementos que descobriram. Seus cadernos de notas de laboratório ainda hoje são altamente radioativos.

Em 4 de julho de 1934, Marie Curie morreu de leucemia, adquirida pela excessiva exposição à radiatividade.