PSICOLOGIA: A HISTÓRIA ATRAVÉS DOS TEMPOS
Desde os primórdios o ser humano apresenta uma complexidade de comportamento, emoções e sentimentos. Estudá-lo, portanto, não compete apenas a uma única ciência, mas a várias. A Psicologia é uma delas.
Dessa forma, pretende-se descrever a história da Psicologia através dos tempos, tomando como base o artigo intitulado “Um pouco sobre a história da psicologia”, de Anna Paula Rodrigues Mariano – psicóloga e psicoterapeuta existencial.
Esse texto traz um questionamento sobre como surgiu a psicologia, em que o conceito desta, simplesmente como estudo da alma, era insuficiente, uma vez que o termo alma possui várias possibilidades de compreensão. Para esclarecer tamanha dimensão, a autora divide esse artigo nos seguintes tópicos: “O significado da alma nos pensamentos mítico e pré-socrático”, “O conceito de alma em Sócrates, Platão e Aristóteles”, “A idéia de alma na Antiguidade e na Idade Média” e “A alma no Renascimento e na Idade Moderna”.
No pensamento mítico, a Antropologia presta a sua contribuição. Ela aponta que nos séculos X a VIII a.C. existe uma sensibilidade da realidade, pela qual as vozes dos poetas fazem a história, “os fenômenos são explicados, as relações sociais justificadas através dos mitos”. Aqui, atribui-se o significado de alma a partir das “concepções de homem e de seu destino”. Inclusive, a origem do significado de “psicologia” vem da mitologia grega – Psyché = alma.
A partir dos séculos VII e VI a.C., o pensamento humano é marcado pela racionalidade. São defensores dessa abordagem os pré-socráticos: Tales (625-558 a.C.), Pitágoras (580-497 A.C.), Heráclito (540-470 a.C.), Parmênides (530-460 a.C.), entre outros. Para eles, há uma origem para tudo. Por exemplo, se o indivíduo é capaz de pensar, logicamente existe a razão.
Por volta do século V a.C., a racionalidade dá lugar à subjetividade. Os fenômenos, idéias e grandes realizações passam a ser relativos. Nesse período, aparecem os sofistas* : Protágoras (485-410 a.C.) ‘O homem é a medida de todas as coisas, das que são e das que não são’; Górgias (487-380 a.C.) ‘Nada existe; ainda que houvesse ser, seria incognoscível**; ainda que houvesse e fosse cognoscível , seria incomunicável a outrem’.
Após o período acima citado, chegam as contribuições de Sócrates, Platão e Aristóteles. O primeiro (470-399 a.C.), traz outra visão para o significado da alma, na qual o homem passa a ser o próprio objeto de estudo. Para ele, valores como justiça, caráter, etc. compõem a essência humana, pois através do autoconhecimento, o indivíduo reconhece a própria ignorância e buscará os meios necessários para aprimorar o próprio conhecimento. Isso “irá garantir a sua firmeza moral”.
Ao contrário de Sócrates, Platão (428-347 a.C.), separa alma e corpo, porque a considera como soberana e inteligente, antes mesmo de aprisionar-se dentro do corpo.
Na concepção de Aristóteles (384-322 a.C.), a alma é a essência do corpo, ou seja, “a harmonia das funções vitais”.
Na Antiguidade, mais precisamente no período compreendido entre os séculos III a.C. e III d.C., o povo romano se apodera da cultura grega – conhecido como período helenístico. A partir daí, surgem alguns sistemas filosóficos: estoicismo (Zenão de Cítio/ indiferença e desprezo pelos males físicos e morais, prevalecendo a “firmeza da alma”); epicurismo (Epícuro/ preocupação com o prazer); ceticismo (duvidar de tudo, “é impossível encontrar o conhecimento”); neoplatonismo (Plotino*** / “os neoplatônicos rejeitavam o conceito do mal, e acreditavam apenas em graus de imperfeição, na carência da prática do bem” in http://www.infoescola.com/filosofia/neoplatonismo/) e Cristianismo (os cristãos acreditam na ressurreição e na vida eterna).
Na idade Média, entre os séculos V e XIV, houve o domínio da Igreja Católica. Foi um período conturbado, pois se pretendia “enfraquecer o paganismo romano, contrapor-se ao pensamento grego e impor-se ao mundo judeu”. Dessa época, no que se refere ao significado da alma, destacam-se Santo Agostinho e São Tomás de Aquino.
Adepto às idéias de Platão, Santo Agostinho (354-430), coloca a alma acima de qualquer realidade – seja no aspecto racional, científico ou moral – pois esta leva a Deus e à eternidade.
Na visão de São Tomás de Aquino (1225-1274), que compartilha o pensamento de Aristóteles, a alma é a ação de um corpo. Ela não se desintegra quando este morre. Sendo essência, a alma é o elo entre o homem e Deus, a ponte que conduz da mortalidade à imortalidade. Essa filosofia é a base norteadora do catolicismo.
No Renascimento, uma contribuição significativa foi a de René Descartes (1596-1650), “pois rompe com os dogmas teológicos e tradicionais ao introduzir a problemática do psiquismo no próprio centro de suas preocupações”. Para ele, corpo e mente passam a ser entendidos como “sendo uma relação de interação mútua”. A partir de seus estudos, a mente é vista conforme as funções que executa. Descartes representa “a passagem do Renascimento para o período moderno a ciência”.
Com a Idade Moderna (séc. XVII e XVIII), aparece o Iluminismo movido pelo “mais rigoroso racionalismo”. O homem se volta para o conhecimento da realidade que o cerca.
Assim, surge na Inglaterra o Empirismo, o qual pretendia “discutir o desenvolvimento da mente e o modo como esta adquire conhecimento”. Um representante dessa corrente filosófica foi John Locke (1632-1704). Para ele, é da experiência que provém o conhecimento. O Empirismo foi o responsável pela base teórico-metodológica que originou a Psicologia.
Ainda nesse período, outro empirista diverge da idéia de John Locke. Trata-se de Gottfried Leibniz (1646-1716) a postular uma nova forma de compreensão do homem: “para conhecer o que uma pessoa é, torna-se necessário sempre consultar o que ela pode ser no futuro, pois todo estado da pessoa é apontado na direção de possibilidades futuras”.
Finalmente, surge, no início do século XIX, a Psicologia como ciência. E, a partir desta, “diferentes posturas de investigação científica”. Seguem alguns exemplos: “Psicologia Behaviorista (derivada de uma corrente positivista e que definirá o homem e seus processos psíquicos como um ser primordialmente governado por estímulos do meio), a Psicologia Humanista (derivada da Fenomenologia e do Existencialismo, e que definirá o homem como um ser intencional, dono de seus atos e de sua consciência), a Psicologia Cognitiva (derivada em parte de uma filosofia pragmática, considera o homem em uma perspectiva interacionista, fruto da constante relação homem-meio, sendo este homem considerado como um sistema aberto e em sucessivas reestruturações); a corrente sócio-histórica da Psicologia (derivada do materialismo dialético, considera também o homem numa perspectiva interacionista, privilegiando a mediação do meio), Gestalt (que com certa influência fenomenológica, explora a atenção, a percepção e a tomada de consciência pelo organismo como um todo), Psicanálise, que embora não tenha nascido no seio da Psicologia, caminha junto com ela na sua preocupação com o homem interior”.
A autora conclui afirmando que, mesmo havendo “diferentes vertentes da Psicologia”, todas buscam – de acordo com a especificidade de cada uma – compreender e analisar o homem nos aspectos afetivo, cognitivo, social, entre outros.
* Adeptos a sofismas. Trata-se de pessoa com grande habilidade de argumentação, que cobra altas taxas dos estudantes (espectador, discípulo) a fim de repassar-lhes um conhecimento de cunho não científico.
** Algo ou alguma coisa fácil de conhecer.
*** Contrariamente aos ensinamentos cristãos, não era necessário transpor as fronteiras da morte, caminhar para estágios de uma vida na espiritualidade, a fim de se conquistar uma alma perfeita e feliz. Estas virtudes podiam ser obtidas através do exercício constante da meditação filosófica.
REFERÊNCIAS
MARIANO, Anna Paula Rodrigues. Um pouco sobre a história da psicologia. In: http://www.espacocuidar.com.br/psicologia/artigos/um-pouco-sobre-a-historia-da-psicologia. Acesso em 12/03/11.
PLOTINO. Disponível em: http://www.infoescola.com/filosofia/neoplatonismo. Acesso em 12/03/11.