ENERGIA VITAL

Na total escuridão da tuba uterina, o espermatozóide “nada” em direção ao óvulo, atraído pelos sinais químicos, intermitentes, como os de um farol.

O flagelo freneticamente agitado, consome a cada movimento a provisão de adenosina tri-fosfato (ATP), que foi acumulada na espermiogênese, para que as mitocôndrias transformassem a energia química em energia cinética.

A penetração, facilitada pelo cone protéico, desencadeou o estímulo que alterou a polaridade da membrana celular do óvulo e, em obediência à Teoria da Evolução, onde apenas o mais apto sobreviverá, os espermatozóides retardatários serão eliminados pelos fluidos uterinos, depois de mortos pela inanição decorrente do esgotamento das reservas alimentares.

No microcosmo celular, as cariotecas se desfazem e os cromossomas são liberados. Os lisossomos digerem os restos do espermatozóide e as fibras de actina do citoesqueleto do óvulo formam o fuso acromático, onde os cromossomas alelos formarão as duplas.

Uma vez pareados, realizam o “crossing over”, o maior artifício da natureza, para que cada ser seja único, genética e psicologicamente.

Nesse fenômeno os genes trocam sequências e a combinação resultante torna o ser diferente de todos outros que já existiram, existem ou existirão.

Refeita a carioteca, o ovo está pronto.

Lentamente, impelido pelo movimento ciliar da tuba uterina, o ovo recém formado é guiado para o fundo do útero onde o endométrio, escamoso, aguarda a nidação.

Agora pleno de energia vital esse ser unicelular toma sua primeira decisão.

Multiplicar-se.

Multiplicar-se milhões de vezes para formar um ser humano que, na idade adulta terá em torno de cem quatrilhões de células, iguais no genoma, mas com quase duzentas formas diferentes para atender funções específicas.

Imensos grupos de células iguais irão formar os tecidos, os órgãos, os aparelhos, os sistemas, obedecendo aos modelos e padronagens, definidos por ensaios, erros e acertos, em sucessivas gerações desde os primatas inferiores.

Todos os passos serão, outra vez, executados nos mínimos detalhes.

Os genes desfazem a forma espiralada e duplicam-se. Seguem-se indefinidamente, as fases prófase, metáfase, anáfase, telófase e as células filhas vão se aglomerando para que o embrião adquira a forma de amora.

Da mórula, o passo seguinte é a blástula para daí sugirem os folhetos embrionários no fenômeno chamado gastrulação.

Realizada a nidação, formam-se o saco amniótico e a placenta, ponte entre a gestante e o embrião, por onde transitarão os nutrientes, anticorpos, hormônios, gases O² e CO² e as toxinas resultantes do metabolismo do novo ser.

Desde o momento da fecundação até a morte celular total, o ser humano funciona como um gerador, transformando as energias que recebe numa energia de padrão próprio, único, cujas ondas se propagam em todas as direções tal qual a luz de uma vela.

Consideremos que um ser humano viva por sessenta anos, desde o momento da fecundação até a morte celular. A energia emanada de seu corpo tem sessenta anos luz de comprimento e permanecerá vagando no universo por tempo indeterminado, até que, como a luz das estrelas, seja captada por algo e transformada noutro tipo de energia, conforme preconiza a Lei de Lavoisier.

Pela teoria de Einstein, energia é matéria em movimento descrita pela fórmula E=MC², onde “M” é a matéria e “C” é a constante universal da velocidade da luz (+/- 300.000km/s) elevada ao quadrado. O mesmo Einstein define o universo como “uma esfera reversa”.

Então essa energia emanada pelo ser humano, quando chegar ao limite do universo, vai refletir e, no sentido contrário, fatalmente atingirá a Terra.

Os seres vivos, em menor ou maior escala, são suscetíveis às variações das cargas energéticas, podendo sofrer danos em suas estruturas, conforme pode ser observado nos casos de “Olhado” ou “Quebranto”.

Esse desequilíbrio energético, que pode levar o organismo à morte, é objeto de estudo desde a mais remota antiguidade pelos asiáticos, notadamente chineses e indianos, cujas práticas da medicina popular (não alopática) estão muito bem documentados nos textos do Do-in, do Feng Shui e da Acupuntura.

O legado mouro, quando do domínio na península Ibérica, foi trazido pela colonização luso-espanhola e aqui, no Novo Mundo, miscigenada com a cultura dos nativos e dos africanos trazidos para o trabalho nas lavouras, no fenômeno que Gaston Bachelard e Gilbert Durand chamam de “Bacia Semântica”.

A troca de energia entre os seres, largamente explorada em rituais religiosos, em sacrifícios, imposição das mãos, passes, benzeduras, bebidas, unguentos, banhos, defumações e correntes de orações, muitas vezes surtem o efeito desejado porque, também pela fé, esses atos liberam os estímulos cerebrais para a produção de hormônios ou o desencadeamento das ações do sistema imunológico do indivíduo afetado pelo mal.

Há pessoas que, por treinamento ou espontaneamente, são capazes de identificar o desequilíbrio energético em seres ou ambientes.

São os conhecidos “médiuns” que, supostamente, fazem a ponte entre os seres vivos e as diversas frequências energéticas em constante movimento pelo universo.

Não há prova científica desse poder de decodificação motivo pelo qual, há muito charlatanismo no campo das “Ciências Ocultas”, mas como disse Miguel Cervantes Saavedra (in Dom Quixote de La Mancha), “Yo no creo em las brujas, pero que las hay, las hay.”