Aprender é ser capaz de reproduzir o que já foi feito com sucesso e evoluir é ser capaz de superar esse aprendizado, mas sempre como um objetivo a atingir e não apenas como um fim em si mesmo.
Cada teoria que desenvolvemos para explicar o mundo representa um acréscimo ao conjunto dos conhecimentos humanos e funciona como extensão do nosso cérebro.
Mexendo nos códigos genéticos da espécie humana, alteramos a evolução biológica. Desenvolvendo máquinas, aparelhos e outros artefatos, expandimos nosso poder de atuação em todos os campos de atividade possíveis; realizando abstrações, que são relações cada vez mais enredadas e conectadas a infinitos elementos de informação, estamos também nos expandindo.
Novos níveis de consciência vão surgindo a partir da evolução dos conceitos, dos valores, e das descobertas que fazemos. Através dessas extensões podemos atuar para além dos limites do nosso próprio cérebro, realizando conexões e estabelecendo relações que de outro modo jamais sonharíamos fazer.
A evolução do pensamento se processa da mesma forma que a evolução da tecnologia. Qualquer pessoa pode, através da prática organizada de um programa de educação física, ampliar consideravelmente seus poderes musculares. Mas essa ampliação nunca será mais que uma conquista individual,enquanto a receita do seu sucesso não for posta à disposição de alguém mais.
Como tornar essa ampliação em extensão é o grande desafio da educação. Se pensarmos bem, tudo que buscamos em nossos programas educativos é a aquisição dessa extensividade, que um dia foi produzida por alguém como ampliação de seus poderes particulares, e depois apropriada pela coletividade como cultura.
Em nosso sistema de aprendizagem, tudo que fazemos são tentativas de reproduzir um modelo que já foi testado e comprovou sua funcionalidade. E isso não é difícil, dado que os nossos gabaritos biológicos são idênticos. O problema acontece na hora da transferência, pois ela nunca ocorre de modo explícito. É impossível a um aluno operar no mesmo contexto do professor, já que seu modelo de mundo não integra as mesmas relações. Para que isso ocorresse, seria preciso que ele operasse com as mesmas condições sensoriais do professor para poder perceber o mundo da forma que ele o faz.
Nossas habilidades não são coisas que podemos explicar conscientemente. Quem é um craque no jogo de tênis, por exemplo, ou é muito hábil na leitura ou na escrita, ou um exímio orador, pode ter muita dificuldade para ensinar aos outros como consegue desenvolver essas habilidades tão bem. Nesse sentido, câmeras de vídeo ou de cinema, podem ser melhores professores da arte de um Pelé, de um Michael Jordan, de um Lee Iacocca, do que eles mesmos. Assim, a arte de modelar comportamentos eficazes assemelha-se à habilidade de um cartógrafo, capaz de reproduzir com fidelidade os caminhos de uma região desconhecida.
A rápida evolução do ser humano se deve à sua incrível capacidade de adaptação às mudanças ambientais. Essa capacidade é fruto da flexibilidade com que estabelecemos relações, a nível material e mental com o mundo em volta de nós.
É realmente um fenômeno extraordinário o fato de que, a cada vez que nos relacionamos, mudamos o elemento com o qual estabelecemos a relação e mudamos a nós mesmos como resultado dessa relação. E sempre que expandimos nossa consciência, modificamos a nossa visão do mundo, realizando em nós um fenômeno semelhante ao que ocorre nos insetos: reorganizamos nossas estruturas biológicas num nível mais elevado, dando um sentido à evolução da nossa espécie.
A expansão do nosso poder físico, entretanto, diferentemente dos animais, é uma coisa que ocorre para além dos limites do nosso corpo. Enquanto que nas demais espécies essa expansão ocorre por aumento da capacidade física, como conseqüência da reorganização genética que neles ocorre pela necessidade de adaptação, na espécie humana, esse poder se expande para fora do organismo. No campo da visão, nossa capacidade sensorial é expandida pelo uso de telescópios, lentes, raios x, lazers, etc., da mesma forma que a capacidade auditiva é aumentada através de amplificadores de som, caixas acústicas e nossa memória, através de livros, filmes, CDs, computadores, revistas e outros artefatos de armazenamento de informação.
Da mesma forma, uma multiplicidade de instrumentos e aparelhos, tais como motores, lâminas, chaves, engrenagens e máquinas de todos os tipos aumentam a força das nossas mãos, a velocidade de nossas pernas e o poder dos nossos músculos. Todas essas fábricas atuam como extensões do nosso corpo, incrementando extraordinariamente o nosso poder de execução, a capacidade de comunicação, a velocidade de locomoção, a habilidade de sedução através dos produtos de beleza e das griffes da moda; e a cada expansão desse poder, a cada descoberta de um novo produto, a cada nova invenção, capaz de levar a presença humana a territórios ainda inexplorados do universo real, ocorre, concomi-tante, uma expansão da consciência e um acréscimo de poder em nossa capacidade física.
Fisicamente, porém, sabemos que as nossas capacidades não podem ser expandidas além de certo limite. Ainda que não saibamos qual é esse limite, é lícito supor que há barreiras de impossibilidades que ao organismo humano talvez seja impossível de superar. Em sã consciência não podemos sonhar que um dia nossas pernas serão mais velozes do que as de um leopardo, que nossos ouvidos serão mais eficientes que os de um cão, que
nossos olhos terão mais alcance do que os de uma águia e as nossas mandíbulas terão mais força que as de um crocodilo. Até porque não precisamos disso.
Entretanto, leopardos, cães, águias e crocodilos não são capazes de expandir seus poderes para além de si mesmos, por isso continuarão a ser o que são por muito mais tempo, enquanto os seres humanos irão superando as barreiras de suas conformações biológicas a uma velocidade tal, que nos leva a formular uma inquietante pergunta: o que seremos daqui a cem ou duzentos anos?