Para quem pesquisar?
*Hildebrando Souza Menezes Filho
Essa talvez seja a pergunta mais revolucionária a se colocar pelos próprios cientistas e aos próprios cientistas. A questão é delicada e exige, além dos recursos financeiros, decisão política para oferecer à sociedade propostas concretas de melhoria da qualidade de vida.
Sobre esse assunto relaciona-se: Santos (2.000) (...) É muito comum chamar-se de “globalização” o crescimento da interdependência de todos os povos e países do mundo (...) com Buarque (1999:65)
(...) “O marxismo não precisa ser ressuscitado com a globalização, pois como sobrou apenas o capitalismo, ele ao mesmo tempo passou a dar um papel central ao marxismo. Mas o que eu creio que vai criar esse novo mundo será uma volta e, agora, possível, da idéia de que não é necessário ser uma grande nação. Essa história de ser grande potência que nós brasileiros ainda desejamos ser Primeiro Mundo, que é uma grande bobagem! O que nós temos que ser é um grande país! Um grande país é aquele que cuida de seu povo”.
Há uma frase muito comum na atualidade: “Lamento, mas não posso fazer nada ”. Esta é uma expressão que anda aflorando na mente da grande maioria da sociedade brasileira, inclusive da intelectualidade. Esta perda de auto-estima é observada como uma campanha sistemática que reforça sentimentos de apatia. A intenção, deliberada ou não, é tirar e denegrir qualquer força e liderança que possa se insurgir para defender o país.
Uma forma de defesa contra esse sentimento nocivo é iniciar a tomada de estratégias para combater a invasão cultural, a desmoralização da nacionalidade, o desmantelamento do sistema sindical, o domínio dos meios de comunicação e, principalmente, a ocupação econômica.
Uma exemplificação da veracidade dessa situação está na “lei de patentes” do governo brasileiro, que dá respaldo a que plantas da Amazônia sejam pesquisadas por organizações estrangeiras e registrada em estudos genéticos, transformando-as depois em perfumes, medicamentos e chás que são revendidos (importados) ao povo brasileiro com altas taxas embutidas em seus produtos. Há que se preservar a identidade nacional, não só de plantas e minérios, mas também da capacitação em assuntos culturais, artísticos, científicos e tecnológicos que possuem insofismável dimensão econômica.
As tecnologias de informação do conhecimento e de comunicação podem virar esse jogo, prestando enorme contribuição para a consolidação da identidade nacional, num número crescente de municípios brasileiros.
O que se pode perceber é que os interesses em C&T obedecem à ótica da tecnocracia centralizada e autoritária, onde conjuntos de pequenos sistemas que formam o Sistema Nacional de Desenvolvimento se degladiam por recursos e por espaço político.
A relação entre Estado/universidade/empresa/comunidade científica é marcada por uma série de interessantes características. O chamado setor produtivo empresarial não possui outro interesse além do lucro. Existem esforços isolados, conscientes, mas não um compromisso político institucional. Havia à época de FHC, também um alto grau de conformismo no meio científico, que era uma característica marcante dessa época de “pensamento único”, como nunca visto antes. O discurso vigente era o de manter a estabilidade da moeda, a qualquer custo, e a inflação sob controle como remédio para todos os males.
No governo Lula houve uma radical mudança nesse cenário. Saldaram-se os débitos com o FMI e formamos uma apreciável reserva monetária chegando a ajudar outros países emergentes.
A explicação para essa questão estava antes em que, segundo Herrera (1983:81-95), se “a comunidade científica empresta legitimidade e cientificidade à ação do Estado, este a
convoca a participar do processo decisório, sob controle”. Há ainda o receio de que essa participação recaia em prerrogativas meramente formais, que limitarão o seu papel na discussão e propostas de alternativas às grandes questões sociais.
No contexto resumido dos debates sobre ciência, tecnologia e desenvolvimento percebe-se uma segmentação priorizando o fator econômico como o gerador de desenvolvimento. É equivocado porque a ele se somam, de forma indissolúvel, os componentes político e social.
“(...) Torna-se, portanto, impossível tratar do tema C&T, necessidades sociais e desenvolvimento econômico sem levar em conta as propostas e perspectivas mais amplas da política nacional (...)”, da construção de um projeto nacional.
“(...) Por projeto nacional, compreende-se o projeto do grupo ou classe que tem o controle da situação, em determinado momento, do tipo de sociedade que se quer construir. Dele deriva -se uma demanda científica e tecnológica, a qual não se identifica com as necessidades das grandes camadas da população (...)”. (Herrera, 1983).
Neste contexto pode-se vislumbrar uma estratégica global de desenvolvimento que contemple o social, o econômico, o político, o agropecuário, industrial e outras áreas e setores. Uma concepção de política tecnológica e científica cuja premissa e motivação principal sejam a de que o beneficiário é o homem, e não o mercado.
Nossa próxima abordagem quer falar dos aspectos da participação popular nos processos decisórios. Até lá!
Hildebrando Souza Menezes Filho
* É aprendiz de poeta e mestre em desenvolvimento sustentável pela Universidade de Brasília.