Contato Alienígena - Um cenário hipotético
Assim que a tecnologia dos radiotelescópios tornou-se madura, entre as décadas de cinquenta e sessenta do século passado, os astrônomos e outros cientistas começaram a executar programas de busca por possíveis sinais inteligentes oriundos de outras estrelas no nosso entorno galáctico. Na década seguinte, ao lançar as sondas Voyager para explorar o sistema solar exterior a NASA incluiu nestas naves um disco com informações sobre a humanidade e nosso planeta de origem, endereçado a qualquer raça alienígena que possa um dia encontrá-las.
Mais recentemente, os avanços da astronomia permitiram a descoberta de milhares de planetas extra-solares, provando que a possibilidade de existência de outros mundos como a Terra em outros sistemas estelares é um fato, e que a busca anterior por sinais de rádio não era totalmente desprovida de sentido. Portanto, ela atualmente é efetuada com maior intensidade do que nunca, e a procura agora é pela confirmação destes planetas similares ao nosso, capazes de abrigar a vida e quem sabe alguma civilização alienígena. Este é hoje um dos principais motivos para o desenvolvimento das novas gerações de grandes telescópios e satélites de observação astronômica.
Vemos, portanto, que a busca por outras raças e civilizações possivelmente existentes em outros mundos no espaço não é mais apenas um tema de ficção científica, os trabalhos da ciência oficial neste sentido já estão em pleno andamento há algumas décadas. E embora tenham começado de forma incipiente, os esforços da comunidade científica nesta área estão se intensificando e ficando cada vez mais sistemáticos. Os pesquisadores da área estão certos de que o primeiro sinal de vida inteligente fora da Terra pode ser descoberto a qualquer momento, muito embora esta busca possa também ainda levar séculos. O que praticamente nenhum cientista considera agora é a possibilidade de estarmos sozinhos no universo.
Estes fatos colocam a interessante questão de como um eventual contato direto da humanidade com outra raça inteligente oriunda de algum outro sistema solar poderia afetar as nossas próprias condições sociais, econômicas, históricas, etc... . Alguns anseiam por este contato quase com fervor religioso, imaginando que eventuais alienígenas seriam como anjos divinos e trariam a paz e a felicidade universais para os seres humanos. Já outros têm medo, e imaginam se seres inteligentes de outros planetas não nos veriam como rivais no domínio dos recursos da galáxia, como possíveis trabalhadores escravos ou até mesmo como fonte de alimento.
Na prática não há como saber de antemão como a evolução da vida fora de nosso planeta teria atuado na formação da fisiologia e da psicologia de outras raças inteligentes além da nossa, e por isso é impossível adivinhar de antemão como seria sua índole. Alguns consideram que esta falta de conhecimento justificaria um maior cuidado na busca de sinais inteligentes vindos do espaço, e mesmo em nossas atividades cotidianas, já que transmissões de rádio, televisão e radar emitidas da Terra podem revelar nossa existência e localização a seres alienígenas que estiverem observando o espaço sabe-se lá com que objetivo.
A grande maioria dos cientistas, contudo, acredita que não haveria risco caso recebêssemos a visita de seres inteligentes extraterrestres, basicamente por dois motivos:
O primeiro deles é que, dada a natureza dos fenômenos físicos conhecidos, qualquer raça inteligente que esteja trilhando o caminho da evolução tecnológica iria alcançar primeiro a capacidade de auto-destruição, através da energia nuclear, da manipulação biológica ou mesmo por excesso de poluição de seu ambiente, e só bem depois atingiria a capacidade de viagem inter-estelar que a permitiria vir até o nosso mundo. Se a índole desta raça não fosse suficientemente pacífica e cooperativa, eles destruiriam a si próprios muito antes de poderem vir nos causar qualquer mal.
O segundo motivo é que, pelo que se conhece hoje, as viagens inter-estelares teriam um custo energético extremamente elevado, e simplesmente não há objetivos que justifiquem um tamanho dispêndio de energia que não sejam o contato pacífico com outra civilização para aprendizado mútuo. Qualquer objetivo imaginável que justificasse a agressão de nossa espécie por outra vinda do espaço (exploração dos recursos naturais de nosso planeta, eliminação de uma raça potencialmente rival, etc...) trariam benefícios muito menores que o custo da viagem em si e, portanto, esta não se justificaria.
Por isso, em geral se considera que o contato com outras espécies inteligentes de nossa galáxia seria um evento benéfico, pois poderíamos travar relações pacíficas com qualquer raça alienígena que viermos a encontrar e ele nos traria os benefícios dos conhecimentos acumulados desta raça, que seriam partilhados conosco. Isto, além da conscientização pela humanidade de nossa unidade enquanto espécie, o que poderia levar ao abandono das nossas disputas internas individuais e nacionais e a uma nova era de esforço conjunto e progresso para toda a raça humana.
Mas será mesmo que o contato com os seres de outra civilização alienígena, mesmo que absolutamente pacífica e cooperativa , seria sempre benéfico para nossa própria raça? Ou será que diferenças em aspectos biológicos e psicológicos entre nossa espécie e a dos visitantes não poderiam por si mesmo gerar situações que, no final, consideraríamos como prejudiciais, mesmo se jamais viesse a ocorrer nenhuma forma de conflito declarado? Esta é uma linha de raciocínio que não parece ser explorada com muita frequência, e para ilustrar onde ela pode nos levar vamos imaginar a sequência de eventos fictícios, mas perfeitamente possíveis, apresentada a seguir:
1) Em algum momento em um futuro não muito distante uma nave extraterrestre com visitantes alienígenas vem até a Terra, trazendo representantes de uma outra civilização. Eles vieram atraídos pelas luzes artificiais das nossas primeiras cidades a serem eletrificadas, que já são emitidas há mais de um século e que foram detectadas por uma de suas sondas de exploração espacial.
2) Descobre-se que eles fizeram uma viagem de 120 anos (terrestres), atravessando a distância de 60 anos luz que nos separa de seu planeta de origem. Para chegar aqui a nave teve que consumir todos os seus recursos e abandonar estruturas que não eram mais necessárias a fim de minimizar a massa propulsada, e portanto ela não possui mais a capacidade para empreender a viagem de retorno. Os visitantes vieram para ficar.
3) A grande nave, que agora orbita nosso planeta, abriga cerca de 5.000 membros de sua civilização, descendentes dos 500 viajantes originais que foram enviados para nos contatar e que estão já bem idosos ou mesmo falecidos. Os alienígenas são pequenas criaturas frágeis e de índole tímida e pacífica, que não nos oferecem nenhum perigo e trazem conhecimentos científicos e tecnológicos mais avançados que os nossos, os quais desejam partilhar livremente com a humanidade como um gesto de boa vontade.
4) A chegada dos alienígenas gera a imediata consciência de que não estamos sozinhos no universo e de que a raça humana é uma só espécie. As disputas internas em nosso planeta cessam, e a ONU decide distribuir os visitantes por vários países, para que toda a humanidade possa se beneficiar igualmente de seus conhecimentos. Com o tempo um governo mundial democrático é criado, em parte como consequência desta tomada de consciência coletiva por toda a humanidade.
Até aqui tudo bem, mas então:
5) Descobre-se que cada fêmea dos alienígenas tem 3 ou 4 filhotes por ano, durante um período de 10 à 15 anos, e que estes filhotes são criados em conjunto pela comunidade, inexistindo entre eles o conceito de “família”. Aos 12 anos os filhotes começam igualmente a se reproduzir, e a expectativa de vida dos alienígenas supera os 100 anos. Durante a viagem na grande nave até o nosso mundo eles controlaram o crescimento de sua população (por motivos óbvios, pois são inteligentes), mas não veem motivos para fazer isso na Terra, cheia de recursos disponíveis que sua tecnologia mais avançada ajuda a aproveitar com muito mais eficiência, em benefício dos humanos e de si próprios.
6) Quinze anos depois eles já são 200.000 mil, espalhados pelo planeta. Os benefícios de sua presença são óbvios, o nível de bem-estar geral da humanidade está subindo de forma consistente enquanto a tecnologia avançada deles permite interromper a destruição do meio ambiente e até mesmo a recuperação de grandes áreas já degradadas. E eles ganham, de uma humanidade sinceramente agradecida, o status de cidadãos da Terra, passando a ter o mesmo direito de voto que qualquer humano na eleição das administrações locais e do governo central planetário.
7) Trinta anos depois eles são 2 milhões, e mostram gostar muito de viver em grandes manadas, com centenas ou mesmo milhares de indivíduos habitando espaços comuns. Devido a isso se habituam a construir prédios próprios para sua moradia, pois não gostam das subdivisões comuns na nossa arquitetura já que não se organizam em famílias nem dão valor à privacidade pessoal. O nível de vida no planeta é satisfatório para humanos e alienígenas e o bem-estar geral é crescente, então todos estão felizes e contentes com a convivência e a cooperação entre ambas as raças.
8) Quarenta e cinco anos depois já são 60 milhões, a população de um país médio. Com os avanços tecnológicos que eles trouxeram a humanidade, cuja população chegou aos 8 bilhões de indivíduos, vive confortavelmente sem prejudicar o meio ambiente terrestre. Surgem as primeiras cidades habitadas por populações majoritárias de alienígenas, com estrutura urbana e arquitetura apropriadas para sua fisiologia e forma de estrutura social.
9) Sessenta anos mais à frente já se chega à casa dos 1 bilhão de alienígenas e as regiões do planeta que eles ocupam mostram-se super-lotadas por multidões imensas deles, de tal forma que os humanos evitam ir até estas áreas. Por tenderem a votar sempre de forma muito homogênea eles começam a ter um peso político importante, elegendo vários representantes que defendem seus interesses no governo mundial. O planeta ainda tem espaço para que eles e os 9 bilhões de humanos vivam sem problemas, pois a tecnologia avançada que trouxeram permite o reaproveitamento dos recursos naturais e o uso de fontes de energia renováveis, então todos ainda estão muito satisfeitos. Na verdade a maioria dos humanos ainda nem mesmo viu um destes alienígenas de perto.
10) Setenta e cinco anos após sua chegada eles já são mais de 20 bilhões, dominaram todo o espaço político e estão construindo imensas megalópoles para viver da forma aglomerada que apreciam. A população humana, estabilizada em 10 bilhões, começa a se incomodar com a expansão aparentemente desenfreada da população de alienígenas, mas como agora é minoria não tem mais poder político para de impedir que eles continuem a aumentar rapidamente seu número. Além disso, o bem-estar de todos é evidente e poucos realmente percebem motivos para se preocupar.
11) Noventa anos após sua chegada os alienígenas já passaram muito da marca dos 50 bilhões. Sua população está perto de atingir o equilíbrio com os recursos naturais da Terra e eles começam a enviar naves para colonizar os demais planetas do sistema solar e explorar seus recursos. Os humanos tem acesso a tudo o que precisam para viver confortavelmente (a avançada tecnologia criada pelos alienígenas garante isso), mas sentem falta de espaço para circular livremente sem encontrar uma enorme multidão de alienígenas onde quer que vão, e começam a se concentrar em pequenas regiões de densidade demográfica alienígena baixa. Alguns grupos isolados de humanos assumem atitudes radicais e violentas contra o que agora consideram uma invasão ao nosso mundo, mas como pequena minoria não tem nenhuma chance de vitória e são derrotados. Estas ações criam uma animosidade dos alienígenas contra os humanos, levando-os a nos segregar e limitar nosso acesso à grande parte do território da Terra e aos outros planetas do sistema solar.
12) Após cento e cinqüenta anos da chegada dos visitantes não só a Terra mas também Marte e praticamente todo o sistema solar são habitados por duzentos bilhões de alienígenas, e eles começam a construir naves para enviar colonos a outros sistemas solares distantes onde novos mundos promissores para a colonização são descobertos. Uma outra raça diferente e ainda mais avançada de alienígenas, atraída pela intensa atividade de rádio e radar em nosso sistema, vem visitar a Terra para conhecer seus senhores, os alienígenas da primeira leva. E eles nem se interessam em contactar os humanos, que agora não passam de uma minoria exótica e pouco importante vivendo triste e ressentida em pequenos guetos isolados do planeta, enquanto as raças alienígenas progridem em sua expansão pela galáxia.
Este é apenas um dos cenários imagináveis, e muitos outros podem ser pensados se usarmos um pouco nossa criatividade. Mas já dá para ter uma ideia sobre as questões que a busca por inteligência alienígena coloca, e que devemos estar prontos para enfrentar a qualquer momento.