Desafios ao paradigma mecanicista da consciência:
1) Introdução:
O estudo da consciência nas últimas décadas passou a ter destaque em diversas áreas de pesquisa científica, como a psicologia, a medicina e a informática. No entanto, ainda não se possui sequer uma definição amplamente aceita para o próprio termo consciência, e isso indica que apesar de todo o progresso ocorrido nas ciências em geral na segunda metade do século passado e neste princípio de século 21, o conhecimento humano ainda não avançou de forma consistente nesta área.
Por outro lado, o mesmo tema permeia nossa cultura há milênios, sendo uma das principais preocupações da filosofia e das religiões, afetando portanto profundamente nossa cultura, nossa sociedade e mesmo nossos sentimentos individuais. Isto denota a importância da questão: A abordagem apoiada exclusivamente no conhecimento científico atual academicamente reconhecido será suficiente para esclarecer os pontos mais importantes sobre a consciência, como sua origem e forma de funcionamento? Será que este estranho fenômeno que é a nossa mente pode afinal ser explicado por processos puramente físico-químicos, que são o escopo do conhecimento técnico-científico atual, ou existirá a possibilidade de que a consciência tenha uma origem extra-física e consequentemente sua compreensão demandará a extensão do conhecimento humano para áreas que hoje talvez sequer conseguíssemos imaginar?
O primeiro ponto a se levantar sobre este questão é: Porque pensar sobre a possibilidade da existência da consciência extra-física afinal de contas, se ela em princípio é negada pela ciência oficial? O paradigma científico atual, chamado de mecanicista, é de que a consciência seria apenas uma consequência da estrutura e da atividade eletroquímica do cérebro, e só. Psiquiatras e neurocientistas podem listar miríades de observações relativas aos efeitos sobre os atributos da consciência, como a memória e as emoções, causados por drogas e traumatismos que atuam no cérebro ou o atingem. Estas observações parecem confirmar o paradigma mecanicista da consciência de forma bem convincente, tendo inclusive sido criados tratamentos médicos que podem cuidar de várias desordens da consciência (doenças e distúrbios mentais) com relativo sucesso. Então, porque buscar um outro paradigma se este parece suficiente?
Um das razões já foi citada no primeiro parágrafo deste trabalho, e é o fato de que apesar do grande acúmulo de observações e experiências ainda não se conseguiu montar uma teoria consistente sobre os mecanismos fundamentais de funcionamento da consciência. A mente ainda é uma caixa-preta para os cientistas, que podem medir o que entra e sai dela e criar diagramas de correlação entre estímulos e resultados, mas não explicar como estes resultados são realmente obtidos. Uma leitura muito esclarecedora nesta área é o livro “A mente desconhecida”, do jornalista John Hogan. Recomenda-se a leitura deste livro para os que quiserem mais detalhes sobre este ponto específico.
Já neste artigo serão analisadas outras razões, que provêm de várias observações surgidas de diversas fontes, as quais descrevem fenômenos que, se comprovados, não se encaixariam no paradigma mecanicista da consciência citado acima, o que exigiria sua revisão ou abandono. Considerações sobre estas observações serão o tema central deste texto.
Existem também questões culturais, metafísicas e assemelhadas permeando esta questão, mas enquanto elas não forem corroboradas por algum tipo de observação ou experiência prática não podem ser utilizadas como argumento, e atrapalham muito mais do que ajudam o raciocínio. Geralmente é necessário até um certo grau de esforço para filtrar a influência destas idéias na argumentação tanto dos crentes quanto dos céticos na existência da consciência extra-física, pois conceitos (e preconceitos) religiosos e filosóficos aparecem com frequência na argumentação de ambos os lados, as vezes de forma disfarçada, outras vezes de forma bem explícita e apaixonada. Uma análise isenta deve tomar o cuidado de fugir deste tipo de argumento o máximo possível.
2) Indícios instigantes:
Focando sobre a observação dos fenômenos que indicam que o paradigma mecanicista puro pode não ser suficiente para explicar a consciência, pode-se dividi-los em quatro categorias diferentes. Esta sistematização é muito útil, pois a partir dela é mais fácil interpretar as descrições dos fenômenos e identificar as características distintivas de cada um. Assim o raciocínio fica mais organizado, e é mais fácil evitar confusões. Estas categorias são listadas seguir:
i- Casos de consciências cambiantes:
Nesta categoria estão os casos em que a um único indivíduo (e consequentemente um único cérebro) apresenta características de consciências distintas, alternadamente. As situações podem variar desde a psicografia dos médiuns espíritas, em que a consciência normal do indivíduo está presente, mas sua caligrafia segue os padrões de outra pessoa (nestes casos supostamente já falecida), até a desordem de múltiplas personalidades, na qual a consciência normal do indivíduo pode ser completamente obliterada por outra (ou outras). Este último fenômeno é tão intrigante que até pouco tempo a Sociedade de Psicologia e Psiquiatria Americana não o reconhecia como real. Ele sozinho é um forte desafio ao paradigma mecanicista, pois nestes casos um mesmo cérebro, sem sofrer nenhuma alteração física relevante, pode exibir uma ou várias consciências totalmente distintas, com diferentes memórias, níveis de inteligência, características de linguagem vocal e corporal, etc... . E estas consciências podem se alternar de um instante para o outro, tornando muito difícil imaginar como mudanças tão drásticas poderiam ser associadas a qualquer variação do estado físico-químico do cérebro, que dificilmente ocorreriam tão rapidamente.
Outros fenômenos que podem ser classificados nesta categoria são a incorporação mediúnica de entidades e a possessão (demoníaca), descritos com frequência por grupos religiosos. Mas é preciso cuidado ao tentar analisá-los, pois suas descrições estão via de regra totalmente mescladas com conceitos religiosos, o que torna muito difícil identificar o que seria real, imaginário, confusão com outros fenômenos de natureza diferente ou simples fraude.
ii- Testemunhos de indivíduos que sofreram experiências de consciência deslocada:
Estas observações referem-se às descrições de pacientes de experiências de quase-morte sobre lembranças que possuem do período em que deveriam estar totalmente inconscientes, bem como aos casos de indivíduos que afirmam ter passado (ou poder passar) por experiências semelhantes durante o sono ou através de algo que chamam de “transe”, voluntário ou induzido. Todas as narrativas disponíveis a respeito destes dois últimos casos parecem muito suspeitas e/ou imprecisas, e separadamente elas provavelmente não devam se levadas em consideração. Mas os casos de pacientes que passaram por experiências de quase-morte são instigantes, pois estão disponíveis os testemunhos de médicos e enfermeiros que conversaram com eles logo após o retorno à consciência normal, o que permite levantar elementos verificáveis em suas histórias.
As principais características deste tipo de relato são o ponto de vista do observador, deslocado com relação ao possível ponto de visada do paciente e permitindo que ele observe e posteriormente descreva detalhes que não poderia perceber da posição em que se encontrava seu corpo físico, e a descrição de sensações e visualizações (paz, visão em túnel, entes queridos, etc...) que embora não sejam idênticas em todos os casos em geral possuem muitos elementos comuns, mesmo quando feitas por pessoas de crenças muito diferentes entre si.
iii- Lembranças espontâneas de memórias extra-individuais:
Nesta categoria estão os casos de indivíduos, quase sempre crianças, que ao menos temporariamente são capazes de ter espontaneamente lembranças que não são suas, como se fossem de uma vida anterior. Estas lembranças podem tanto ser factuais, quando o indivíduo lembra de eventos, locais e pessoas dos quais nunca teve conhecimento, quanto físicas, quando o indivíduo apresenta a capacidade de executar tarefas que nunca teve a oportunidade de aprender, como tocar instrumentos musicais ou desenhar com estilos específicos.
Uma característica dos casos de lembranças factuais é que os indivíduos sempre se referem às elas como sendo suas próprias, e não de outras pessoas. Este tipo de caso tem sido objeto de estudo de pesquisadores como o Dr. Ian Stevenson e outros, que afirmam que além das lembranças os indivíduos apresentam com freqüência marcas de nascença relacionadas a eventos desta outra vida. A conclusão é que tais casos seriam prova da reencarnação da consciência em corpos distintos. Aparentemente estes estudos tem seguido o máximo rigor científico possível.
Já os casos de memórias físicas são bastante interessantes porque dificilmente são apresentados como indicações de consciência extra-física, o que os deixa isentos de contaminação ideológica. Geralmente, ao serem percebidos eles são classificados como casos de inteligência super-dotada, que é quando um indivíduo mostra a capacidade de aprendizado em uma ou mais áreas com facilidade muito acima da média. Mas nos verdadeiros casos de memórias físicas não houve oportunidade real de estudo daquela atividade específica, e portanto o indivíduo teria adquirido o conhecimento de outra forma que não o aprendizado.
vi- Recuperação induzida de lembranças remotas ou extra-individuais:
Estes são os casos em que indivíduos conseguiriam recuperar informações detalhadas da memória através de estados alterados da consciência, causados pela ação de drogas, traumas, meditação ou sugestão (hipnose). Os casos mais extremos dizem respeito ao fenômeno da regressão induzida, atualmente bastante utilizado em tratamentos psiquiátricos, mas existem várias gradações que vão do uso da hipnose por parte de testemunhas de processos penais à indução de lembranças antigas por estimulação elétrica do hipocampo em cirurgias de crânio aberto. Em todos os casos o inusitado é o nível de detalhe aparente das lembranças, tão elevado que coloca em dúvida o modelo mecanicista, que não tem uma explicação satisfatória para o mecanismo de armazenamento de volumes tão grandes de informação.
No caso do tratamento psiquiátrico através da técnica da regressão induzida (principalmente por meio da hipnose) são comuns os casos em que o paciente narra detalhes do que seriam vidas anteriores, em uma recriação do fenômeno da memória extra-individual espontânea, o que novamente indicaria a existência da reencarnação da consciência.
Além destes quatro grupos de fenômenos existem outros que podem eventualmente envolver aspectos não físicos do universo e da mente, embora não estejam de forma geral associados diretamente à consciência extra-física. São os vários fenômenos classificados como para-normais, como a telepatia, telecinesia, precognição, etc... . Em princípio estes fenômenos poderiam existir mesmo se a mente realmente fosse apenas uma consequência da atividade das células cerebrais, pois esta própria atividade poderia ativar forças ainda desconhecidas que seriam as responsáveis por eles. Esta é uma hipótese que não pode ser descartada à priori. Assim, em muitos casos deve-se tomar cuidado para não confundir possíveis manifestações destes últimos fenômenos com uma das quatro categorias listadas anteriormente, ou seja, qualquer análise sobre indicações de existência da consciência extra-física deve considerar a possibilidade de que os fenômenos de uma das quatro categorias citadas sejam na verdade explicáveis por outros tipos de fenômenos para-normais, e tentar verificar também esta hipótese.
3) Uma revisão mais detalhada dos indícios:
As informações disponíveis na mídia em geral até o momento sobre cada uma das quatro categorias de fenômenos listadas acima podem ser resumidas nos pontos mostrados separadamente a seguir. Obviamente os conceitos e idéias discutidos ainda são parciais, e sujeitos a revisões em função de novos dados que surgem continuamente:
i- Consciências cambiantes:
Este é o primeiro tipo de fenômeno que desafia diretamente o paradigma mecanicista da consciência. Por este paradigma, se características que normalmente são profundamente associadas à consciência pudessem ser alteradas de forma drástica e imediata, o cérebro também deveria ter a capacidade se sofrer alterações com a mesma extensão e no mesmo ritmo, e não se tem idéia de como isso poderia ser possível.
Pegue-se para começar a caligrafia. É consenso que as características da escrita de um indivíduo estão estreitamente ligadas aos atributos de sua consciência específica, de tal forma que exames caligráficos são aceitos universalmente como prova em tribunais. Em alguns países (como a França por exemplo) a avaliação da caligrafia de uma pessoa é inclusive considerada uma forma válida para a avaliação da sua personalidade, complementando ou mesmo substituindo os testes psicotécnicos. No entanto, entre os médiuns espíritas é bastante comum o fenômeno da psicografia, onde um indivíduo consegue escrever com a caligrafia não apenas de uma outra pessoa mas de muitas outras, geralmente consideradas já falecidas, em intervalos de apenas alguns minutos. E a qualidade da reprodução da escrita é tão perfeita que cartas psicografadas já foram até aceitas como provas jurídicas em tribunais, após passar por exames grafotécnicos!
Entretanto, embora a psicografia seja normalmente associada à comunicação com “espíritos desencarnados”, não se consegue encontrar referência sistemática e confiável a casos em que estes espíritos teriam comunicado informações que já não fossem conhecidas de alguma das pessoas envolvidas no fenômeno.
Geralmente são os próprios parentes da pessoa falecida, que procuraram o médium, a confirmarem a veracidade das informações transmitidas por psicografia, mostrando que estas informações já estavam disponíveis em sua memória consciente. Isto indica que o conteúdo das mensagens muito provavelmente vem da própria mente dos parentes (por telepatia?), junto com as informações sobre os detalhes de sua caligrafia. Isto parece acontecer de forma inconsciente para o médium. Esta é a chamada hipótese super-psi para os fenômenos espíritas e afins, que os desqualifica como prova conclusiva da existência de espíritos (ou seja, de consciências não-físicas) mas não altera o fato de que a caligrafia do médium foi profundamente modificada sem que seu cérebro o fosse. Isto em princípio é contrário aos fundamentos da neurociência, já que esta explica a caligrafia individual como conseqüência da formação de sinapses cerebrais durante o processo de aprendizado da escrita.
Um fenômeno que aparenta ser similar mas que envolveria outros aspectos que não a caligrafia, como a voz, a forma de falar e a expressão corporal, pode ser observado nos terreiros de umbanda ou candomblé, quando um espírito ou orixá incorpora no sacerdote ou em outra pessoa do culto. O mesmo fenômeno seria a causa dos casos de possessão demoníaca nas igrejas cristãs. No entanto, todos estes fenômenos ocorrem em ambientes religiosos e portanto são muito difíceis de analisar de forma isenta. Não se pode garantir que existam informações suficientes sobre eles para assegurar que tudo não passe de encenação ou histeria.
Já nos casos de distúrbios de múltipla personalidade a situação é diferente, pois o ambiente em que eles são analisados é o das clínicas e consultórios psiquiátricos, e isso torna a avaliação em princípio mais isenta. Neste transtorno mental a personalidade completa do indivíduo é substituída episodicamente por outra ou outras, como se o sujeito se tornasse uma pessoa completamente diferente. E isto pode acontecer imediatamente, sem que haja tempo para qualquer alteração mais extensa da estrutura cerebral.
Em alguns casos as personalidades desenvolvidas pelas pessoas que sofrem deste distúrbio não percebem ou sequer reconhecem a existência das outras. Já em outros casos elas convivem em relativa harmonia e podem até se manifestar ao mesmo tempo. As situações criadas podem ser muito estranhas, e não admira que a ciência oficial tenha demorado em aceitar a realidade do fenômeno. Mas hoje ele é reconhecido, e foi encaixado dentro da estrutura ideológica da psicanálise freudiana, para a qual os casos de personalidade dupla ou múltipla seriam decorrentes da submissão dos indivíduos afetados a situações fortemente traumáticas das quais eles não poderiam escapar, e suas mentes criariam as demais personalidades como uma forma de defesa contra o trauma. O exemplo sempre citado é o de crianças que sofrem abusos dos próprios pais.
É claro que esta explicação é apenas uma hipótese como qualquer outra, e nem mesmo tenta explicar o mecanismo do fenômeno. Na verdade muitos neurocientistas consideram a psicanálise freudiana em si como apenas uma pseudo-ciência. Mas até hoje não apareceu nenhuma explicação para este distúrbio oferecida pela própria neurociência. Talvez um programa de pesquisas com as mais modernas técnicas de investigação da atividade cerebral como a cintilografia e a tomografia computadorizada, aplicadas quando o paciente estiver apresentando diferentes consciências, pudesse mostrar alguma alteração no cérebro que fosse associada ao distúrbio. De quebra talvez fosse possível identificar a parte específica do cérebro responsável por cada consciência individual. Mas se nada for encontrado o paradigma mecanicista da consciência estaria em maus lençóis. Pode até ser sintomático que nenhum trabalho neste sentido tenha sido apresentado até hoje, em uma época onde está na moda utilizar estas técnicas avançadas para investigar até os mais insignificantes aspectos da relação mente-cérebro.
Infelizmente, contudo, ainda não se encontram facilmente descrições mais objetivas do distúrbio de múltiplas personalidades, feitas de forma absolutamente isenta. Talvez pelo fato do fenômeno não ter sido reconhecido como real por muito tempo, os psiquiatras que se especializaram nele parecem ser particularmente afeitos às teorias mais esotéricas, o que torna seus próprios testemunhos pouco confiáveis. Por exemplo, em um dos casos mais bem narrados que se pôde encontrar o psiquiatra, após descrever com minúcias e aparente isenção os sintomas e as características distintivas de cada uma das várias personalidades de uma paciente mulher, mencionou quase casualmente que foi obrigado a se afastar do caso porque estava sendo pessoalmente prejudicado pelo “vampirismo energético” que ela exercia sobre ele, absorvendo seu ânimo e disposição e deixando-o prostrado sempre que o abraçava, o que ela insistia em fazer com frequência. Segundo o médico, esta seria uma característica comum nos pacientes deste tipo de distúrbio. Aparentemente nem passou pela cabeça dele que a ocorrência real do tal “vampirismo energético” seria um fenômeno até mais surpreendente e exótico que o próprio distúrbio de múltiplas personalidades que ele estava descrevendo. Sendo assim fica difícil confiar no discernimento do tal psiquiatra e na sua objetividade com relação à descrição que estava fazendo.
Esta é portanto uma área que pode vir a apresentar resultados muito interessantes em pesquisas futuras, mas parece que ainda vai demorar algum tempo até que médicos e pesquisadores mais criteriosos se prontifiquem a analisar o fenômeno e levantem dados significativos.
ii- Consciências deslocadas:
Como já mencionado, todos os casos divulgados até o momento relativos a pessoas que alegavam conseguir deslocar a consciência do corpo através de transes ou durante o sono acabaram se mostrando muito frágeis. Estas pessoas costumam fazer narrações detalhadas de suas experiências, descrevendo ambientes e eventos que teriam visitado durante seu “deslocamento extra-corpóreo”, mas sempre que a experiência é controlada com cuidado estas descrições mostram-se muito pouco condizentes com a realidade. Um caso típico é aquele em que o pesquisador prepara uma lista de objetos em um cômodo adjacente àquele onde se encontra o sujeito, e ele deve se deslocar “em espírito” até lá e na volta fazer uma lista dos objetos encontrados. Estas listas sempre contém um número muito maior de incorreções do que de acertos.
No entanto, existe evidência anedótica (histórias que aparecem nos meios de comunicação, mas não são comprovadas por outras fontes independentes e confiáveis) de casos em que os sujeitos observaram eventos que envolviam forte carga emocional, como acidentes e catástrofes, e as descrições feitas teriam depois se mostrado bem próximas à realidade. Também são comentadas tentativas do uso deste tipo de fenômeno para espionagem, e podem ser encontradas afirmações de que isto funcionou ocasionalmente, mas novamente não há comprovação independente e confiável para nada disso.
Já os casos de experiência de quase-morte parecem muito mais convincentes. Com os avanços da medicina nos últimos anos a quantidade de pacientes que esteve clinicamente morta durante certo tempo e retornou à consciência normal cresceu bastante, e os testemunhos de deslocamento da consciência também aumentaram em número. Existem estudos como os da Dr. Susan Blackmore (antiga pesquisadora no campo da parapsicologia e hoje militante do campo cético) indicando que as lembranças dos pacientes se restringem aos períodos em que ainda havia alguma atividade, mesmo que mínima, no cérebro. Mas estes estudos não desqualificam estes casos porque mesmo que estejam certos exigiriam uma revisão dos conceitos sobre o funcionamento da atividade cerebral, já que com um nível de atividade muito baixa nem mesmo sonhos os pacientes deveriam ter, quanto mais lembranças do que se passou ao seu redor como eles descrevem. A pesquisadora também não tenta explicar o ponto de vista deslocado dos indivíduos, afirmando apenas que se tratam de distorções perceptivas, sem explicar como eles poderiam perceber eventos e objetos fora do seu alcance cognitivo.
Apesar de interessante, contudo, o estudo direto das experiências de quase-morte é bastante difícil, pois os casos em que os pacientes têm lembranças a relatar são raros, apenas um para muitas dezenas ou centenas de ocorrências de morte clínica. Assim, uma pesquisa sobre o tema deve envolver muitas equipes em muitos pontos de observação (UTI’s de hospitais, salas de cirurgia, etc...) durante um longo tempo para ter a chance de reunir um número significativo de casos.
Há três ou quatro anos surgiram notícias de que estaria sendo realizada em hospitais da Grã-Bretanha uma experiência na qual cartazes e desenhos estariam sendo colocados sobre armários e equipamentos de centros hospitalares, longe das vistas dos pacientes e mesmo dos médicos. Se pacientes que passassem por experiências de quase-morte pudessem descrever o conteúdo dos cartazes e desenhos seria uma prova muito forte de que sua consciência teria realmente saído de seus corpos e se deslocado para uma posição próxima do teto. Como o pessoal do hospital também não saberia o que estava nos cartazes e imagens, poderiam ser descartados fenômenos como telepatia e afins. Um ou dois anos atrás foi divulgado que uma pesquisa do mesmo tipo estava sendo preparada em hospitais dos EUA. Mas não havia informações sobre os resultados destas experiências, ou de possíveis relações entre elas. É uma área para se ficar atento, mas devido à raridade dos casos deve mesmo levar algum tempo até que estas pesquisas juntem informações suficientes para que se chegue a alguma conclusão.
iii- Memórias extra-individuais:
Os casos de crianças que alegam se lembrar de episódios de vidas anteriores tem sido bastante estudados já há algumas décadas, principalmente desde que os primeiros trabalhos do falecido psiquiatra canadense Ian Stevenson foram publicados. Eles ocorrem em todas as sociedades, sem distinção de religião ou nível de desenvolvimento econômico e cultural. A quantidade de casos registrada até hoje já é bem grande, e cresce continuamente. Existem alguns exemplos de adultos que alegam ter o mesmo tipo de lembranças, mas fora um caso famoso de algumas décadas atrás ocorrido com a britânica Dorothy Eady, os pesquisadores da área tendem a concordar que as situações envolvendo adultos sempre parecem mais casos de fraudes ou distúrbios psicológicos. E naquele caso específico da senhora inglesa as lembranças começaram também na infância, após um acidente.
O que melhor caracteriza os casos que podem ser considerados reais é o fato de que pessoas, locais e eventos recuperados das memórias dos sujeitos podem ser conferidos, e em muitos casos apresentam um grau de precisão bastante elevado. Não é incomum que as narrativas das crianças incluam informações que apenas a personalidade falecida poderia conhecer, o que torna pouco provável que se trate de casos de fenômenos para-normais como telepatia. As marcas de nascença que os pesquisadores afirmam encontrar com freqüência nestes casos e que também estariam relacionadas com eventos da vida anterior das crianças remetem à teoria estranhíssima e controversa (para dizer o mínimo) dos “Campos Morfogenéticos” do biólogo britânico Rupert Sheldrake.
Embora sejam classificados pelo nome de memórias extra-individuais, os sujeitos que as apresentam sempre se referem a elas como suas próprias memórias, embora elas evidentemente não sejam de suas vidas atuais. As pesquisas geralmente partem da iniciativa de parentes das crianças que alegam possuir estas lembranças de vidas anteriores, e que procuram os pesquisadores por já terem tomado conhecimento do assunto de alguma forma. Esta é uma maneira ruim de levantar evidências, pois nestas condições quando um caso chega até os pesquisadores geralmente é porque os parentes já conhecem a hipótese de que se trata de um caso de memória extra-individual, mais especificamente de reencarnação. Isto contamina a evidência, o que reduz a confiabilidade das conclusões.
De qualquer forma parece que as pesquisas efetuadas até agora não podem ser descartadas com facilidade, mesmo pelos críticos mais severos da idéia da reencarnação. Em um comentário típico defendido por um famoso cético são avaliados 12 casos apresentados pelo próprio Dr. Stevenson: dois são descartados porque os pais são crentes fervorosos na reencarnação podendo ter induzido memórias falsas nos filhos, e outros oito porque haviam possíveis embora improváveis canais de troca de informação entre a família da criança e indivíduos da região em que vivia a pessoa falecida da qual ela dizia ser a reencarnação. Já os dois últimos casos foram descartados simplesmente porque sendo apenas dois relatos bons em doze eles foram considerados estatisticamente pouco relevantes. Se isso é o melhor que um estudioso cético pode fazer, a evidência a favor do fenômeno deve ser realmente muito boa! Entretanto, a maior “falha” nos trabalhos acadêmicos de Stevenson, reconhecida até por ele mesmo, é a completa ausência de qualquer indicação sobre o mecanismo que permitiria a uma consciência individual passar de um corpo para o outro após a morte do primeiro. Contudo, existem outros fenômenos na natureza cujo mecanismo é desconhecido, como a expansão acelerada do universo ou a elevada velocidade de rotação das galáxias, e nem por isso as evidências destes fenômenos são desqualificadas como erros de observação ou de método. Esta “falha”, portanto, não invalida os estudos desta área tampouco.
Em alguns dos casos de memórias extra individuais factuais foram relatados episódios de xenoglossia, a capacidade dos indivíduos de falar línguas que nunca estudaram ou mesmo nunca tiveram contato. Isto parece ser uma ligação com os casos do fenômeno da memória extra-individual física.
Casos deste último tipo de fenômeno raramente são associados à reencarnação pelas pessoas que os relatam, geralmente parentes ou professores de crianças consideradas prodígio, muito orgulhosos com sua aparente super-aptidão para alguma atividade que exija treinamento específico. Isto evita a ideologização dos casos, mas também torna muito mais difícil a sua identificação. Hoje existem em vários países e inclusive no Brasil redes de identificação de crianças super-dotadas, mas os responsáveis por elas não estão procurando por evidências de nenhum tipo de fenômeno não-convencional. Então, é muito provável que a maioria dos casos de memória extra-individual física sejam mascarados pelo fato da criança imediatamente começar a estudar aquela atividade específica (música, artes plásticas, matemática, etc...), o que em muito pouco tempo torna praticamente impossível dizer se ela já trazia o conhecimento na mente ou apenas o aprendeu muito mais rapidamente que o normal.
Talvez se mostrasse interessante uma avaliação antecipada das crianças que são encaminhadas para orientação especial devido a serem consideradas super-dotadas por seus pais e professores, procurando identificar se elas possuem realmente inteligência ou aptidão superior, ou se apenas conseguem realizar alguma atividade para a qual não foram treinadas. Neste último caso poderiam ser feitas pesquisas mais específicas para tentar identificar a origem do conhecimento que elas possuem sem terem tido a chance de aprendê-lo.
iv- Lembranças remotas induzidas:
No caso dos dois últimos fenômenos mencionados anteriormente qualquer programa de investigação é bastante difícil, pois os casos realmente convincentes e interessantes são espontâneos e, portanto, não podem ser previstos. Os investigadores teriam que estar no local e no momento exato em que o caso é descoberto para evitar a contaminação, e isto é quase impossível. Já no caso de lembranças remotas induzidas é possível executar as experiências “em laboratório” e com hora marcada, tornando muito mais fácil o controle.
O estudo da memória em si já é de extremo interesse nas pesquisas sobre a consciência, pois apesar de todos os avanços da neurociência ainda não existe uma hipótese realmente convincente sobre seu princípio de funcionamento. No início desta ciência, mais de cem anos atrás, imaginou-se que a base da memória era a química cerebral ou seja, os neurônios acumulariam substâncias que codificariam as informações. Daí veio a idéia de que algum dia o conhecimento poderia ser “injetado na veia”, ao invés de aprendido nos livros ou em salas de aula. Com a descoberta do DNA e de sua capacidade de armazenar informações codificadas, por algum tempo julgou-se que esta molécula era a responsável pelo mecanismo da memória, sofrendo alterações dentro das células cerebrais que armazenariam as informações, e que seriam depois recuperadas de forma parecida com a síntese protéica. Hoje se sabe que o DNA não pode sofrer modificações desta natureza, nem as informações poderiam ser recuperadas com a rapidez necessária.
Nas décadas de 60 e 70 avançaram os conceitos relativos às redes neurais, que podem ser simuladas em computador e parecem corresponder ao funcionamento sináptico do cérebro. Embora esta idéia tenha sido apresentada já em 1894, apenas 60 anos depois passou-se a acreditar que a memória é armazenada nos potenciais elétricos das sinapses entre os neurônios, e este é o paradigma atual. O prêmio Nobel dado ao Dr. Eric Kandel em 2000 por seus estudos com a lesma-do-mar, que mostraram a existência de substâncias que afetam a formação das sinapses e que podem passar de um estado instável para outro estável e assim converteriam a memória de curta duração em memória de longa duração, é um bom exemplo da crença neste paradigma. Mas os estudos das redes neurais está meio “empacado” já há vários anos. Em computadores elas mostraram possuir limitações que não foram previstas no início dos estudos, e as promessas de que através delas rapidamente se chegaria a uma verdadeira inteligência artificial mostraram estar incorretas e parecem ter sido abandonadas. Não se tem idéia de como as redes neurais poderiam funcionar melhor no cérebro que nos computadores, embora o cérebro esteja realmente cheio de ligações entre os neurônios. Além disso, o comportamento das lesmas estudadas por Kandel é melhor descrito como um reflexo condicionado e não como uma memória, e não se tem certeza da real relação entre as duas coisas. Assim, qualquer estudo da memória que possa dar alguma contribuição para a sua compreensão certamente será muito bem vindo.
Um estudo detalhado da capacidade de retenção e principalmente de recuperação das informações da memória através de estados alterados da consciência por meio de testes controlados poderia lançar muita luz sobre este assunto. Um protocolo típico incluiria a apresentação de algumas imagens aos voluntários por pequeno período de tempo, e depois de alguns dias, semanas ou meses eles seriam chamados de volta ao laboratório, receberiam drogas ou seriam hipnotizados, e tentariam descrever os detalhes dos quadros que haviam visto. Os resultados poderiam mostrar até que ponto as drogas e as técnicas de hipnotismo realmente permitem acessar informações corretas da memória, a duração das lembranças, se elas são falsas, implantadas pelo hipnotizador, ou ainda pura fantasia. Possivelmente a acuidade e velocidade de registro das lembranças também poderiam ser avaliadas por meio deste tipo de teste, o que poderia corroborar ou descartar as próprias hipóteses físicas sobre a memória.
Nos casos de memória induzida mais interessantes o que se observa é o acesso do indivíduo a lembranças que no estado normal de consciência ele não pode acessar. Isto já foi observado em diversas circunstâncias, como mencionado ao listarem-se as categorias de fenômenos que não se encaixam no paradigma mecanicista do cérebro. Mas os resultados mais surpreendentes tem sido os obtidos pelo uso das técnicas de sugestão e hipnose. Em algum momento entre o final do século XIX e o início do século XX foi percebido que pessoas submetidas à hipnose podiam relembrar em detalhes fatos que em condições normais não conseguiriam. Mais recentemente as técnicas de hipnose começaram a ser utilizadas por profissionais das áreas de medicina e psiquiatria em tratamentos clínicos, passando a ser consideradas “mais profissionais”. Mesmo que ainda controverso, o acesso expandido à memória passou a ser mais explorado para diversas aplicações, inclusive o tratamento de problemas psicológicos presumivelmente relacionados a traumas antigos, normalmente ocorridos durante a infância. Com a regressão da memória avançando cada vez mais para trás na vida dos pacientes os psicólogos e psiquiatras acabaram sendo meio que surpreendidos com relatos que não se referiam à vida atual dos pacientes, mas seriam lembranças de suas vidas anteriores.
Assim como no caso de memórias extra-individuais espontâneas, estes relatos incluíam elementos verificáveis, e logo surgiram trabalhos em que se reportavam o descobrimento de fatos antigos através de lembranças de pacientes induzidos à regressão de memória, e que podiam ser comprovados por documentos ou descobertas posteriores ao registro dos relatos. São citados também casos de xenoglossia que ocorrem durante as seções de regressão.
Os relatos destas experiências devem ser analisados com muito cuidado. Existem indicações de que as circunstâncias em que se praticam as técnicas de regressão são propícias à implantação de memórias falsas, e psicólogos céticos informam ter obtido relatos com sérios erros, como visões do futuro, alegações de re-encarnação de pessoas ainda vivas e descrições incorretas de circunstâncias históricas. Tudo indica que junto com o que poderiam ser memórias reais de vidas anteriores estão mescladas memórias falsas induzidas, fantasias, distorções e talvez casos de telepatia ou telecognição. A crítica mais comum no entanto, que se refere à suposta tendência dos pacientes de se identificarem com personagens famosos de outras épocas, é totalmente improcedente, pois vários estudos mostram que estes casos são uma pequena minoria e muitas vezes não passaram pelos os controles típicos de verificação. E mesmo os céticos reconhecem que a regressão induzida da memória para fins terapêuticos (conhecida como terapia de vidas passadas) realmente tem efeitos permanentes em muitos casos, sejam as visões dos pacientes reais ou não. A informação disponível indica que a simples indução de memórias falsas, por outro lado, tende a perder o efeito ao longo do tempo, o que indicaria que os mecanismos envolvidos em cada tipo de fenômeno (lembrança real e induzida) são de fato diferentes. A persistência dos resultados positivos faz também com que a técnica continue sendo usada em larga escala, e assim os relatos de casos com elementos verificáveis aumenta constantemente.
Como já mencionado, este tipo de fenômeno é de grande interesse na pesquisa da consciência extra-física por ser reprodutível em laboratório. É possível que uma campanha de experimentos bem dirigida, focando nas circunstâncias verificáveis dos relatos e na indução de xenoglossia nos casos em que o sujeito relatar lembranças de vidas passadas em outros países, traga a comprovação definitiva da independência entre aspectos fundamentais da consciência e o cérebro físico. Podem ser encontradas declarações de psicólogos afirmando que isto já é realidade, mas como no caso das pesquisas do Dr. Ian Stevenson, mesmo que o fenômeno da regressão a vidas passadas venha a comprovar a existência da reencarnação em si, continuará faltando uma proposta para explicar o mecanismo de funcionamento de uma consciência independente da matéria.
4) Conclusão:
Juntando todas as informações que foram apresentadas de forma resumida acima, pode-se chegar à conclusão de que hipóteses alternativas para a origem e o funcionamento da mente e da consciência merecem ser analisadas, pelo menos até que se encontrem explicações mecanicistas para todos os fenômenos descritos, ou se demonstre cabalmente que eles não existem em absoluto. Mas na avaliação destas hipóteses deve-se levar também em conta todos os fenômenos que servem de base à própria hipótese mecanicista, pois eles são até melhor documentados que os das 4 categorias que foram descritas. Não se pode esquecer que a percepção dos sentidos, os sentimentos, os estados de ânimo, a capacidade de recuperação da memória e vários outros atributos da consciência são de fato afetados por fatores que interferem com o funcionamento do cérebro, como o uso de drogas e os traumas físicos, embora a extensão real desta influência seja passível de discussão (para alguns autores parece que os neurologistas tendem a forçar muitas de suas conclusões).
Uma hipótese alternativa ao paradigma mecanicista que já foi levantada e é defendida por uma corrente de pesquisadores é a de que o cérebro seria uma espécie de interface entre o corpo físico e uma eventual consciência extra-física, e que o estado normal de consciência seria o resultado da interação entra a consciência extra-física mais profunda (de natureza completamente desconhecida até o momento) e esta interface que trazemos dentro do crânio. Daí a grande influência do estado do cérebro sobre os mais diversos aspectos da consciência, mas também a possibilidade de que alguns aspectos dela se manifestem de forma independente dele e de seus estados. Isto explicaria todos os resultados obtidos pela neurociência, mas não excluiria os fenômenos que ela própria não conseguiu explicar.
Para tentar comprovar esta hipótese poderiam ser concebidos programas de pesquisa que estudassem o cérebro considerando-o como uma interface e não como a sede da consciência, procurando isolar os efeitos da atividade físico-química cerebral, que podem ser afetados por exemplo pelo uso de drogas, e os aspectos mais profundos da consciência, que permaneceriam inalterados. Os experimentos adequados ainda precisam ser concebidos, mas desde já é possível imaginar que algumas surpresas podem ser esperadas. Por exemplo, poderia ser constatado que os sentimentos são características exclusivas do cérebro físico, e a consciência pura não os possuiria, pelo menos não de forma integral. Isto é o que sugere a sensação de “paz” descrita pelos indivíduos que passaram pela experiência de quase-morte, esta paz poderia não ser nada além da ausência dos sentimentos que consideramos mais humanos.
Uma outra área de pesquisa seria tentar encontrar um suporte teórico para a própria existência da consciência extra-física. Os mais recentes conceitos sobre múltiplos universos paralelos apresentados pela física avançada e a cosmologia talvez permitam conceber uma outra “realidade” paralela, hoje desconhecida, onde a consciência extra-física poderia existir sem que fosse percebida em nossa própria realidade a não ser por suas fracas interações com nossos cérebros. Isso não deixaria de ser irônico, já que estas mesmas idéias sobre “multiversos” tornaram-se populares entre os físicos e cosmologistas justamente por apresentarem uma alternativa lógica às implicações meio místicas do princípio antrópico forte. Mas isto já é tema para um outro artigo.