Herege: O Filme
ANTES DE COMEÇAR
Recomendo que aqueles que ainda não viram o filme o assistam, pois isso ajudará na compreensão do que discutirei a seguir.
SINOPSE
Duas jovens missionárias de uma determinada igreja, Paxton (Chloe East) e Barnes (Sophie Thatcher), buscam persuadir um homem a mudar de opinião filosófica, ideológica e religiosa, mas o cenário se torna bem mais arriscado do que elas haviam previsto.
UM POUCO DA HISTÓRIA
Residentes em uma comunidade desgastada pela indiferença e pelo ceticismo, as atrizes mencionadas na sinopse dedicam suas vidas à missão sagrada de atrair novos fiéis. Com sorrisos calorosos e corações cheios de esperança, elas enfrentam o desinteresse da população local, lutando contra a apatia que paira como uma sombra sobre suas tentativas. No entanto, a determinação das jovens religiosas é forte e elas não estão dispostas a desistir.
Certo dia, ao entardecer, elas decidem visitar uma cabana à beira da estrada onde habitava um senhor chamado Sr. Reed (Hugh Grant), uma figura de presença excêntrica, intrigante e altamente intelectual. O velho homem, com um olhar que mistura curiosidade e nostalgia, inicialmente parece receptivo às mensagens de fé que Paxton e Barnes compartilham. Contudo, conforme a conversa que detêm um forte caráter proselitista das intérpretes avançava, questões obscuras levantadas pelo Sr. Reed começaram a ecoar.
MINHA PERCEPÇÃO DO LONGA-METRAGEM
Não tenho dúvida de que nesses últimos anos o cinema, mundo afora, continua produzindo muitos filmes de terror do estilo trash. Por outro lado, obras magníficas têm sido lançadas. Respeitando as opiniões divergentes, a meu ver este é um deles e explico o porquê.
Depois de assistir ao filme, dei uma passeada pela internet para consultar o que os internautas estavam falando a respeito dele. Encontrei pessoas que o acham provocativo, desrespeitoso, superficial e bobinho; já outros o veem como intrigante e estimulador do raciocínio crítico. Além disso, esses mesmos indivíduos dos quais tenho prazer em fazer parte pensam que o diretor/escritor/roteirista não teve a intenção de ofender ninguém (apesar de saberem que isso ocorreria). Pelo contrário, fundamentados em fatos históricos e cotidianos, tiveram a intenção de mostrar aos espectadores que curtem o gênero suspense/horror, através de uma mídia audiovisual, que há outras formas de ver, pensar, viver e estar no mundo.
Isto é tão verdade que, ao assistir à película com um olhar clínico e crítico, qualquer cidadão pode comprovar que, entre os diálogos, o Sr. Reed (Hugh Grant) dá oportunidade para que as missionárias alienadas impulsivamente, inadvertidamente e indiscriminadamente pelas crenças religiosas possam rebater suas colocações céticas. Não de forma maldosamente ateísta, mas que, mesmo sem ser exposto claramente no filme, me pareceu ocultar sentimentos de um protagonista cheio de perrengues interiores que poderia ter suas dores aliviadas e estima elevada se descobrisse a tempo que essa “cosmovisão maléfica” segundo a visão das evangelizadoras, nada mais era do que um possível ‘despertar espiritual deísta do Sr. Reed.
A crença proselitista das evangelizadoras, a apostasia/heresia, o ceticismo e o existencialismo do Sr. Reed ficam evidentes no filme. Questionamentos e afirmações entre os personagens, cujas algumas eu parafraseio e outras não, cito como exemplo:
- “Tem interesse em aprender sobre nosso Salvador, Jesus Cristo?”; “Está pronto para ouvir sobre os planos que o Pai Celestial tem para você?”; “Devemos priorizar novos membros”; “Estávamos na região e decidimos dar uma passada, porque talvez você estivesse interessado em conhecer a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias”; “Sr., gostaríamos de dar este livreto para ajudar a entender a restauração.” E, por contraponto menciono alguns contra-argumentos do Sr. Reed: “Eu, na verdade, já tenho um, mas dois nunca são demais”; “Muita gente sai por aí se comportando como se soubessem tudo sobre Deus: o que pensa, sente, faz, vai ou não fazer”; “Vocês foram criadas desde crianças na igreja?”; “Há algo que quero que considerem e reflitam no âmbito de suas crenças. “Vocês acreditam em Deus porque alguém um dia transmitiu isso a vocês como uma verdade”; “Mesmo sem 'SABER', vocês continuam acreditando em algo só para se sentir melhor”; “Crença religiosa, fé exacerbada… é um negócio de foro íntimo e este é um evento que venho lutando contra há muito tempo”; “Toda seita, culto, credo, denominação… todos dizem ser a única doutrina verdadeira, mas nenhuma parece verdadeira sob análise minuciosa”; “Vocês sabem qual é a única religião verdadeira?”; “A coisa que eu mais queria era achar a única religião verdadeira, felizmente, eu a encontrei” – entre outros.
Bom, pautado no que expus até agora; fomentado pela nossa realidade histórica e cotidiana dos fatos e sustentado na exemplificação acima, em poucas palavras faço minha consideração final sobre esta obra cinematográfica:
A transmissão cultural é patente e ela tem seus benefícios e malefícios, apenas devemos incitar aquela que queremos que sobressaia. A religião com sua verdade revelada pela fé e as mais diversas linhas de pensamentos não são supremas.
Polaridade existe seja na esfera científica, religiosa, política ou filosófica. Cada pessoa é um ser uno e por assim ser, despertar espiritual/mudanças de paradigmas, de posições ideológicas deveriam ser respeitadas sem repudio e/ou preconceito as liberdades individuais alheias. Ninguém deveria ser propriedade/escravo do outro seja no campo físico/teórico/teológico. Seja numa ponta ou na outra tudo que é extremo não presta. Todavia, apesar de termos consciência disto — por vaidade, orgulho e egoísmo, nós, corpo social, por causa da religião, política e cultura malfazejas travestidas de bem parecemos não nos importar com a mudança desse panorama num futuro próximo ou longínquo. É o que penso.