"5 POR INFINITUS" - A SAGA ASTRAL
"5 POR INFINITUS" - A SAGA ASTRAL
Provavelmente quem tem pouco mais de 70 anos -- e falo de homens, "clube do Bolinha" -- não chegou a conhecer os "gibis", as revistas em quadrinhos de "Flash Gordon" (1934) porque elas foram lançadas entre 1930 e 1950, portanto, quando os atuais "setentões" nem tinham vindo ao Mundo ainda. As aventuras de "Flash Gordon" se passavam nos espaços siderais e, claro, havia lá foguetes e gente "muito estranha", além do insano Imperador Ming, provavelmente paródia a algum "mandarim" oriental que já incomodava o poderoso Estados Unidos.
Os super-heróis americanos serviam de "marionetes" para criticar regimes e países tido como comunistas. Porém, "Flash Gordon" se prestaria para enaltecer (pós-Júlio Verne) -- há quase cem anos no longínquo Passado -- a corrida espacial que a Rússia iniciaria em 1950 e pouco com um cachorro e um pobre símio e que a nação do "Tio Sam" levaria avante. Com êxito retumbante e com a conquista da então inacessível Lua ou, quem sabe, como farsa cheia de falhas.
"Flash Gordon" -- que nunca li -- abordaria a invasão de asteróides e planetas como "necessidade de defesa" ou sob o discurso de "fazer a guerra para manter a paz", ótica que sustentou quase todas as séries televisivas dos anos 60, cruzando até 1980, com "Perdidos no Espaço", "Star Trek" e "Star Wars", entre outras mais.
Quando STEBAN MAROTTO criou o seu belo e único "CINCO POR INFINITUS", em 1970, partiu de outro conceito, o de "turistas do Espaço", o de viajar para conhecer a Galáxia. Embora seus 5 tripulantes -- me parece que havia uma mulher entre eles -- tivessem armas "de choque elétrico" (ou raio laser), novidade absoluta, raramente as usavam. O dr. Infinitus, quase nunca visto nas estórias, representava o mecenas, o que "pagava as contas" daquelas aventuras. No último volume da série ele "se despede" da nave e de seus tripulantes, findando numa ilha (ou algo assim).
Explorar o Espaço sem limites foi a "ordem do dia" e o tema que alimentou as 15 revistas, que agora dizem ter sido 20, aliás 21. (*1) Um número extra, "secreto", foi revelado quando o site "Pipoca e Nanquim" publicou no Brasil o "livrão" (ao estilo dos de "Flash Gordon", claro) reunindo a saga inteira em surpreendentes 532 páginas. Me gabo de ter boa memória... pois bem, nela seriam 15 apenas, dos quais me faltou 1 exemplar. Ao encerrá-la, a EBAL nos brindou com 1 mini nave em cartolina colorida. As revistas tinham cor verde-escura, algumas pendiam para o azul marinho... falo das capas ! O tamanho era enorme, à la "Flash Gordon" mas na vertical, porque Alex Raymond fazia as suas revistas na horizontal, uma esquisitice.
Esteban Marotto -- que desenhou até faroeste, poucos sabem disso -- INOVOU de forma absoluta, revolucionou os Quadrinhos e "inventou" naves espaciais que só seriam "realidade" uns 30 anos depois nas telas dos cinemas com Star Wars". Aliás, ele foi convidado (segundo o videoclip) para desenhar as naves do referido filme, embora tenha recusado a proposta.
As estórias do Marotto eram de cunho psicológico, outra novidade, boa parte delas se passava NA MENTE dos astronautas, devido à influência de sóis alienígenas, de plantas nas quais tocavam ou de líquidos que bebiam acidentalmente nas explorações. Pura ILUSÃO... pronto, "já dei spoiler" ! O que deslumbra nelas são as imagens, os RECURSOS GRÁFICOS absolutamente inéditos que a mente prodigiosa de Esteban Marotto criou.
Algum "São Tomé" diria que boa parte do que fez já constava das pranchetas de "Flash Gordon" (de novo ?!) ou certamente das estórias do magnífico "Tarzan", do insuperável Burne Hogarth ou de Russ Manning, adiante... a diferença está na CRIATIVIDADE ÍMPAR das páginas de Marotto. Se a série "Lança de Prata" da inesquecível EBAL nos trouxe um "Tarzan" de "encher os olhos" (e as páginas de cada HQ), Esteban Marotto não ficou atrás. O primeiro superclose da retina de um personagem, usando meia página, vi nele, nos apresentando nova imagem "dentro" da íris, no fundo dela.
Desenhos com micropontos -- novidade "uptodate" nas Artes Gráficas -- ou feitos apenas com riscos horizontais (tipo "persiana") foram primazia do espanhol, com um bom-gosto inigualável, muito próximo dos traços do "Príncipe Valente" (Prince Valiant) do Hal Foster ou das HQs de Guido Crepax e Hugo Pratt, as "bandes dessinèes". Me parece que em algumas páginas Marotto usou pedaços de tecido ou de outros materiais, COLANDO-OS no papel recém-desenhado.
É indiscutível que tanto "TINTIN" de "Hergé" (1929) quanto "ASTERIX" de René Goscinny e Albert Uderzo (1959) ou mesmo o "cowboy italiano TEX Willer" (de Bonelli & Gallepini, 1948) influenciaram um bocado de artistas. Vou além... quem conheceu os "gibis" da Disney feitos por franceses e italianos, "Tio Patinhas & Pato Donald" à frente -- lá em Roma com o título de "PATOLINO" -- viu o avanço que seus traços tradicionais "sofreram" nas terras "da pizza e da Torre Eiffel". Pois bem, "5 por Infinitus" supera todos e essa supercoletânea de 532 pags (de 2018 ou 19, suponho) tardiamente trazida ao Brasil vem provar que Marotto ultrapassou a todos. "Perdeu" apenas para o "caipirismo" dos que ousaram "traduzir" o charmoso "Cinco por Infinitus" do antigo título, para um tosco "Infinito", que o Autor relevou, muito constrangido com certeza.
VEJAM o vídeoclip inteiro de lançamento da obra há 5 anos (link abaixo), revejam, COPIEM as imagens se possível e se deliciem com o melhor momento da HQ mundial moderna... no século passado pelo menos.
'NATO" AZEVEDO (em 31 de julho de 2024, 8,30hs.)
OBS: (*1) admito que possa ter comprado o grupo inicial da série e que, adiante, a EBAL a teria "completado", chegando aos tais 20 números. Do que me lembro, foram somente 15, mais o brinde da mininave.
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(abaixo, link do vídeo... veja e divulgue, a obra merece tal gentileza.)
https://youtu.be/kg8BEXsdfYw?si=NtgKZIQuOJIVAXEw