A JUSTIÇA DE DEUS
A JUSTIÇA DE DEUS
Antônio Mesquita Galvão
Nossa justiça humana, muitas vezes, é “justa” demais. Quando não o contrário. Dividimos, de forma maniqueísta, os homens em bons e maus. Sem saber o que fazer, pedimos a Deus que intervenha, colocando ordem nas coisas, castigando depressa os que julgamos definitivamente perdidos. As leituras deste final de semana (Sb 12, 13-19; Rm 8, 26-27 e Mt 13, 24-43) revelam que a justiça de Deus é diferente da nossa. Para ele, ser justo é sinal de indulgência e mansidão.
A justificação do homem, ensina São Paulo, ocorre por uma iniciativa gratuita de Deus. Ela cresce proporcionalmente à nossa aceitação cotidiana da vida da graça. Esta não é só o fruto de nossos pobres esforços, mas da presença do Espírito Santo em nós, porque em nossa miséria, nada podemos e temos que pedir ajuda pela oração. Mas não sabemos rezar: “Não sabemos o que devemos pedir, nem orar como convém”. Se fosse suficiente recitar fórmulas decoradas, seria fácil. Jesus ensinou que não adianta desperdiçar palavras como fazem os pagãos. Importa, ao orar, abrir-se ao sopro renovador do Espírito para intuir o que Deus quer de nós. A partir dessa consciência, podemos abrir os olhos e enxergar o que há a nosso redor. O bem (o trigo) existe, mas a seu lado, notamos um mal (o joio), que cresce cada vez com mais força. Bem e mal, fazem parte da perspectiva humana, e por isso devem conviver até a colheita. A linha que separa o bem do mal é tão tênue que se torna quase imperceptível, em alguns casos.
É um engano dizer que o mal “está no mundo”. O mal está em nosso coração. Com mais ou menos vigilância, nós o controlamos ou o deixamos agir. Santo Agostinho, sobre esse dualismo, chega a dizer que “em mim habita um santo e um bandido”. Nas atuais circunstâncias, se descesse “fogo do céu” como pedem alguns “menos avisados”, se queimaria, por certo, trigo e joio. Até no mais perverso dos homens, há em seu coração, junto com o joio, alguma coisa de trigo. Por que queimá-lo? “Calma”, diz o Senhor!
Deus não ama somente os bons. Ama a todos; também os maus. E nós? Por acaso, sentimo-nos no grupo dos “justos”, como que “obrigados” a viver em um mundo perverso? Nunca nos ocorreu o desejo fundamentalista de ver, um dia, a força de Deus mandar pelos ares todos os ímpios, pecadores ou que não pensam como nós?
Escritor, Biblista e Moralista (PG em Teologia Moral)