Brasil, Avenida

Uma história é uma história.

Daquelas que, quando crianças, sentávamo-nos em roda em volta dos mais velhos, à espera de uma dose de sua sabedoria empírica, mas agraciada por quase científica concretização.

O fenômeno Avenida Brasil apresentou por 8 meses, 179 capítulos e congeladas inesquecíveis, uma história fantástica. Trouxe o nosso primitivo à tona. Expôs nossas feridas. Fez-nos cócegas no pé.

O rolo compressor de fatos arrebatadores, expressões faciais cativantes e reviravoltas assustadoras nos presenteou com interpretações de arrepiar. Cenas hilárias. Atitudes revoltantes.

Há muito tempo ouvir uma história não era tão interessante e envolvente quanto foi sentar-se à roda com os amiguinhos de twitter e ouvir o sábio João Emanuel Carneiro contar a sua. Como, infelizmente, a telenovela formou uma massa de críticos de cinema sem diploma, foi difícil tal história agradar todo mundo.

Nem todos gostaram de não ter havido beijo gay, porque isso era muito aguardado em telenovelas. Alguns torceram o nariz para o casamento triplo criminoso que fechou o núcleo cômico mais incompreendido, engraçado de tão trágico, deste gênero. Finalmente, para os amantes de vilãs implacáveis e sanguinárias, ver a feroz megera destruidora de lares evoluir para uma mulher íntegra, foi um balde de água fria.

Mas estas são as expectativas frustradas de telespectadores a cerca dos clichês que uma novela deve ter. Então que fique claro: não foi exibida uma novela como as outras. Foi contada uma bela história, que transcendeu sua natureza midiática. Era novela, mas poderia ser filme, livro, história de avô. E elas não são feitas pra nos agradar. São feitas para ser ouvidas.

Então nossa expectativa não devia partir das premissas de telenovelas. Estávamos diante de algo completamente novo. Erramos, também, enquanto ouvintes, ao interpretar que era uma história de vingança. Era uma história de amor. Por isso a vilã evoluiu como pessoa, e também sua rival, antes rancorosa. Para que todos nós também possamos evoluir como pessoas.

Um livro não tem o final que a gente quer. Nem filme. Uma história é uma história. E essa foi a que o João Emanuel Carneiro contou. "Perdão" era o tema. Aplaudi.

@lucasmiolla

Lucas Miolla é publicitário, diretor de arte e redator. Viu em Avenida Brasil, novo significado para o gênero “telenovela”.

Lucas Miolla
Enviado por Lucas Miolla em 20/10/2012
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