ENSAIO INTRODUTÓRIO - "PANIC" (THE SMITHS)
"Panic on the streets of London
Panic on the streets of Birmingham
I wonder to myself
Could life ever be sane again
On the Leeds side-streets that you slip down
I wonder to myself
Hopes may rise on the Grasmeres
But honey pie, you're not safe here
So you run down
To the safety of the town
But there's panic on the streets of Carlisle
Dublin, Dundee, Humberside
I wonder to myself
Burn down the disco
Hang the blessed d.j.
Because the music that they constantly play
It says nothing to me about my life
Hang the blessed d.j.
Because the music they constantly play
On the Leeds side-streets that you slip down
On the provincial towns that you jog'round
Hang the d.j., hang the d.j., hang the d.j.
Hang the d.j., hang the d.j., hang the d.j.
Hang the d.j., hang the d.j., hang the d.j.
Hang the d.j., hang the d.j.
Hang the d.j., hang the d.j."
O clipe da música Panic (The Smiths), permite uma panorâmica concisa mas abrangente da época em que foi lançado, 1986. A música do quarteto de Manchester, Inglaterra, foi um single que fez muito sucesso nas paradas. Banda herdeira do movimento punk que tinha irrompido alguns anos antes em terras londrinas, o The Smiths não resistiu à estafa existencial e á própria condição major, desmembrando-se tempos depois.
Como qualquer movimento juvenil, o punk trazia um idealismo quase de todo impraticável, tanto que foi defenestrado em poucos anos. Tinha forte teor político e fincava seus compromissos numa radicalização contra o mainstream imposto pelas gravadoras. O refrão do it yourself (“faça você mesmo”) que os punks proclamavam, permitiu um novo horizonte para milhares de bandas que pipocavam no mundo todo e que não enxergavam o óbvio, que sua música não precisava de grandes selos para serem produzidas e distribuídas. Com as novas tecnologias que surgiam, era possível fazer-se música de forma artesanal e mais barata, às margens da grande indústria cultural. O anarquismo enquanto visão política tornava-se também a prática laboral desses jovens.
A banda que melhor expressou essa nova onda é o Sex Pistols. Eles também representaram, figurativamente, o ocaso dessa agitação punk, quando implodiram, menos de dois anos após seu surgimento. As taxas altas de consumo de drogas pesadas (como heroína e cocaína), as divergências surgidas entre as lideranças e o aliciamento da grande indústria, faz com que haja um rompimento com o passado imediato, toda a revolução já tinha sido assimilada pelo engenho capitalista, que a tudo devora e consome. Tal como no movimento de uma década atrás, o sonho novamente acabara.
O desencanto dessa nova utopia que fugia registra o surgimento de bandas que, simbolicamente, representam esse período. Algumas dessas bandas são The Smiths, The Cure e U2.
As letras, o posicionamento político, a questão visual, a assimilação do videoclipe como depositário de novas idéias artísticas, tudo isso reverbera na nova música que se faz e que se ouve. Assim, figuras como Bono e Morrissey simbolizam os novos paradoxos que surgem no meio dessa crise existencial.
O clipe de Panic sintetiza todas essas possibilidades que são exploradas naquele período. Rodado em preto-e-branco, num ritmo frenético, revela todo o potencial de uma música orgânica, nervosa, urgente, crítica e desencantada.
A voz anasalada de Morrissey explicita essa observação down das ruas bretãs (mas que poderiam ser as ruas de qualquer metrópole do mundo). Ronald Reagan e Margareth Tatcher (a poderosa Primeira-Minsitra britânica), estavam cancelando todas as conquistas sociais e do mundo do trabalho, por conta da grave crise do petróleo da década de 1970. Milhares de jovens londrinos estão desempregados, à toa, sem perspectiva de vida. Ao mesmo tempo, as novas tecnologias que vão surgindo vão criando uma aura já antevista por George Orwell em seu 1984 (“O Grande Irmão”, que tudo olha e a tudo vê), e por Aldous Husley em A Revolução dos Bichos. Percebe-se no jovem protagonista do clipe o desconforto dessa câmera que flerta com ele, dialoga com ele, incomoda ele. A mão inquieta que atravessa todo o percurso fílmico, ora implora, ora oferece, ora aponta, ora “quer pegar” alguma coisa que não sabemos mas que podemos entender. Ela quer interferir nas realidades das ruas, dos distritos, do mundo, da vida. O travelling é descompassado, anárquico, indo em direções contrárias e conflitantes, misturando-se um ao outro pelo recursos da fusão.
As ruas do filme são vistas como são na realidade, sem subterfúgios, com suas mensagens pichadas nos muros, suas sujeiras à espera do recolhimento, e suas pessoas dispersas e distraídas.
A angústia hamletiana é inserida em destaque, às vezes em colorido flamejante, enquanto as crianças são zumbis, anexadas às imagens pelas infinitas possibilidades que agora são permitidas com os novos recursos técnicos e o manuseio mais simplificado das câmeras. E, num gesto de sublevação estética, enquanto Tatcher é queimada, a voz deprimida conclama “hang the dj”. Estaria o bardo propondo o enforcamento da “dona” da festa?
Uma nova cultura é possível, sim, pois surgem novos elementos tecnológicos que permitem uma nova postura política.
Fontes:
http://www.youtube.com/watch?v=9AlH2oYedfk&feature=related < ACESSO EM 24/04/2012>