FOTOJORNALISMO: HISTÓRIA E CONCEITOS

A história da fotografia é marcada, inicialmente, pelo florescimento da câmera escura (dispositivo antecessor da câmera fotográfica) que consistia numa caixa fechada com um pequeno orifício para a passagem da luz. A imagem era representada de modo invertido na superfície oposta ao orifício. Evidentemente, tal imagem era de pouca qualidade técnica, sem muita nitidez. Esse foi o início preliminar da fotografia e do desenvolvimento das câmeras fotográficas.

Enquanto invento, são vários os nomes de destaque na fotografia. Joseph Nicéphore Niépce (primeira fotografia), Louis-Jacques Mande Daguerre (daguerreótipo), Josef Ptzval (desenvolvimento de uma lente, reduz o tempo de exposição), Willian Henry Fox Talbot (número indeterminado de cópias), George Eastman (criador da Kodak), entre outros.

Em 1826, Niépce conseguiu a primeira fotografia pela ação direta da luz após oito horas de exposição à luz. Tratava-se da vista descortinada da janela do sótão de sua casa. Mais tarde, em 1829, Daguerre associa-se a Niépce e descobre, por acaso, um agente revelador que, exposto em uma chapa revestida com prata e sensibilizada com iodeto de prata, trouxe à luz uma imagem, nascia assim o Daguerreótipo, difundido na Europa e nos Estados Unidos.

Com o daguerreótipo, apesar do seu tamanho e peso, já era possível realizar coberturas dos acontecimentos e fatos. Inicialmente, a fotografia não era bem vista pelos editores dos impressos. Consideravam a fotografia como uma espécie de um produto inferior, um acessório e não um elemento noticioso. Os editores desvalorizavam a seriedade da informação fotográfica.

Em 1904, com o surgimento do primeiro tablóide fotográfico, o Daily Mirror, a história começa a mudar. A fotografia deixa de ser secundarizada como ilustração e passa a ganhar a credibilidade noticiosa, tal como a escrita. Tais mudanças promoveram a competição na imprensa e o aumento da tiragem e circulação e, por conseqüência, no número de anunciantes e lucros. Como resultado, aumenta também a competição no campo do fotojornalismo e como a rapidez era uma exigência, surgia o conceito da única foto, exclusiva e em primeira mão: a doutrina do scoop.

São várias as mudanças quanto ao padrão das fotografias noticiosas. De início, a fotografia era mais valorizada pela sua nitidez do que pelo seu valor noticioso; quando o fotógrafo se preparava para fotografar pessoas, estas se arrumavam e posavam para o registro. O padrão e o contexto fotográfico se alteraram. Hoje, a imagem tem muito mais valor pelo que nela está contido, do que propriamente pela qualidade técnica; valoriza-se muito mais a imagem espontânea, sincera, natural do que aquela forçada, artificial e posada.

O desenvolvimento técnico, operacional e tecnológico também auxiliaram na consolidação do fotojornalismo. Câmeras mais leves, menores permitiram maior mobilidade. As lentes com maior luminosidade permitiram menor tempo de exposição e, por conseqüência, maior agilidade na divulgação de uma informação ou fato.

Surgem também os primeiros manuais com o objetivo de melhor orientar o repórter fotográfico na obtenção dos registros. Neles, eram encontradas algumas regras, norteando o profissional para os seguintes cuidados: composição fotográfica simples, enquadramento seletivo, assimetria dos motivos fotográficos (regras dos terços), um único centro de interesse, não inclusão de espaços mortos, plano de fundo livre, entre outros cuidados. A própria construção de uma gramática visual também ganha destaque, ao solicitar, sempre, para cada fato ou acontecimento, a exploração de três diferentes planos fotográficos: um plano geral para localizar a ação; vários planos médios para mostrar a ação; e, dois grandes planos para dramatizar ou emocionar o leitor.

É possível encontrar também as primeiras manipulações nas imagens fotográficas. Acentuando o contraste do assunto fotográfico e o fundo fotográfico, o reenquadramento da foto, buscando na própria foto, algum elemento ou informação que merecesse maior destaque, ampliando-a desta forma, tal trecho.

A Alemanha é o berço do fotojornalismo moderno. Após a guerra, nos anos 20 e 30 do século XX, surgem várias revistas ilustradas, com tiragens de mais de cinco milhões de exemplares e uma audiência estimada em mais de vinte milhões de pessoas. A articulação entre texto e imagem (fotográfica) já se apresenta com maior propriedade, e não de modo isolado como antes. Jorge Pedro de Souza (200) destaca cinco grandes motivos para o florescimento do fotojornalismo na Alemanha:

a) Aparição dos novos flashes e comercialização das câmeras 35mm

b) Novos repórteres fotográficos com melhor formação intelectual

c) Propostas experimentais, novas revistas e fotografia não posada

d) Inspiração no interesse humano (fotografia de pessoas públicas)

e) Ambiente cultural e suporte econômico

Com a chegada do Hitler ao poder em 1933, houve um colapso do fotojornalismo na Alemanha.

Nos EUA, o fotojornalismo se firmava como um elemento integrante na nova imprensa, sobretudo nos jornais impressos. Destacam-se alguns fatores:

a) Atração e popularidade da fotografia (cultura visual)

b) Desenvolvimento do fotodocumentarismo social

c) As imagens serviam de “porta de entrada” aos textos

d) Fotojornalismo autoral

e) Mudanças no design do jornal (diagramação), as fotos ficam maiores

f) Privilegia as fotos de ação única (momento decisivo)

g) Fotografia é compreendida com um campo jornalístico em função da cobertura de guerras (Guerra Civil da Espanha e Segunda Guerra Mundial)

h) Introdução de novas tecnologias: câmeras menores, teleobjetivas, filmes mais sensíveis e flashes eletrônicos.

Primeira Revolução no Fotojornalismo – Pós Guerra

a) Nota-se uma crescente industrialização e massificação do produto fotojornalistico;

b) Fundação de agências fotográficas e inauguração de serviços fotográficos nas agências noticiosas. A Reuters inclui as fotos em seus serviços em 1946;

c) Final dos anos 50 – início da crise das revistas ilustradas em função do desvio da verba publicitária para a televisão;

d) Expansão de outras revistas como: as eróticas, de moda, decoração, entre outros temas;

Segunda Revolução no Fotojornalismo

a) Fotojornalismo: captura de acontecimento sensacional, “sensacionalismo” das fotografias e “industrialização” da atividade (prática) pouco espaço para discussão e reflexão das fotos;

b) Guerra do Vietnã – menos censura. As fotos eram publicadas na imprensa, explorando a sensibilidade e a emoção (foto-choque) do leitor;

c) Final dos anos 1970, revistas começam a publicar com mais regularidade fotografias coloridas. Grandes empresas também utilizam as fotografias em relatórios (aumento o campo de trabalho dos fotógrafos);

d) A imprensa deixa de seguir os conflitos globais bélicos e passa a privilegia tantas outros imagens-choque;

e) Segmentação do mercado de comunicação social e aumenta a atenção ao design gráfico;

f) Outros domínios da fotografia: mercado artístico e no ensino superior;

g) Aumenta o interesse pelo estudo teórico da fotografia, surgindo novas edições de livros sobre fotografia;

h) A partir dos anos 1980 os fotógrafos passam a usar sistematicamente o computador para a edição das imagens (reenquadrar, escurecer, clarear)

Terceira Revolução no Fotojornalismo

a) Possibilidades de manipulação e edição de imagens – impacto no âmbito fotográfico e sua relação com o real;

b) Rapidez na transmissão e veiculação de imagens;

c) Se surgem novos campos para os (foto)jornalistas outras portas se fecham, cenários bélicos e conflitantes pensam no poder das imagens em suas estratégias;

d) Novas propostas de diagramação – fotografia tendem a assumir um caráter ilustrativo;

e) Industrialização na produção fotográfica (rotina) – satisfação das necessidades editoriais;

f) Exigi-se polivalência dos profissionais – perde-se a especificidade;

g) Novas tecnologias fazem convergir a captação de imagens, tanto para revistas, jornais, tv e internet – perde-se novamente a especificidade;

Conceitos

Falar de fotojornalismo é ter clara consciência da junção de duas importantes estruturas ou suportes: o texto e a imagem. O fotojornalismo não significa apenas imagem, nem tão pouco, apenas texto. Seu campo é vasto e abrangente, basta pensar nesta situação: será que imagem fotográfica publicada em meios impressos trata-se de fotojornalismo? Qual(is) o(s) critério(s) para definir tal(is) conceituação(ões)?

Numa rápida acepção, diria que o que define se tal imagem conceitua uma imagem fotojornalística é a sua finalidade de informar. O fotojornalista deve produzir uma imagem pensando-a como meio ou mecanismo de informação. Não apenas pela foto, mas também com ela.

A atividade fotojornalística permite, ao menos, um desdobramento. Trata-se do fotodocumentarismo. Apesar de ambas utilizarem o mesmo meio de produção, suporte, e intenção, outras características distinguem-se claramente uma atividade da outra. A linguagem, os temas, o tempo de pesquisa sobre o assunto, o tempo de produção das imagens, a proposta conceitual e autoral, enfim, são inúmeras as diferenças do fotodocumentarismo para o fotojornalismo.

No fotojornalismo, normalmente, trata-se de pautas quentes, factuais. Nela, o repórter fotográfico deve dialogar rapidamente entre texto e imagem para fazer a cobertura. Além disso, deve-se seguir rigorosamente a pauta, não é possível criar ou inventar a notícia. Não há espaço para um planejamento prévio, ele deve ter que tomar as decisões técnicas, estéticas e noticiosas rapidamente. Cada pauta exige do repórter fotográfico diferentes decisões. Deve ser ágil no manuseio do equipamento e atento aos acontecimentos em seu entorno. Qualquer desatenção se traduz em fracasso na produção da imagem noticiosa.

Já no fotodocumentarismo, o fotodocumentarista tem maior liberdade, maior poder autoral. É ele que define sua pauta, sua imagem, o que será informada por meio das suas fotos. Normalmente, suas fotos seguem uma grande temática, explorando cada situação, desdobrando-se em novas possibilidades. Como não segue uma rotina de redação, seus trabalhos tratam de temas frios, não-factuais, ou seja, estão mais abertos a possibilidades criativas e informativas.

Em suma, as duas atividades necessitam contar uma história por meio das imagens, através das suas fotos. Nisso não há diferença.