DIÁLOGO DOS BICHINHOS DA MAÇÃ
(Advertência: tendo em vista a dificuldade de tradução, adaptamos para a língua humana corrente no Brasil os nomes dos indivíduos aqui mencionados.)
Circulando por um dos túneis de passeio, no interior da maçã, Ezequiel e Benevides se encontraram: como há muito não se viam, pararam para conversar mais longamente. A certa altura a conversa teve o seguinte desenvolvimento:
BENEVIDES – Encontrei outro dia com o Professor Anacleto. Já ouviu falar dele?
EZEQUIEL — Já, sim. Mas aquilo é um maluco total. Não vá me dizer que você deu conversa a ele.
— Bem, quer dizer... não deixa de ser interessante... sabe, as ideias dele...
— É um agitador, no fundo. Você não acredita nele, não é?
— Eu... — Benevides parecia meio embaraçado. — Ora, afinal, será tão absurdo? É até fascinante a ideia do infinito biológico. Ele pode ser muito malhado, mas já tem muita gente que aceita a teoria...
— É claro. Sempre existem românticos bobocas, mas esse Anacleto o que quer é se promover às custas de vocês.
Ezequiel prosseguiu em tom objurgatório:
— Esse bisnau quer que a gente acredite na existência de vida fora da maçã. Ele que traga essa vida para nos mostrar. Todas as viagens de exploração resultaram sempre no retorno ao ponto de partida, sem que se vislumbrasse um meio de sair. Até porque a Maçã é circundada por um meio gasoso livre, impróprio à vida verminosa. Ou você não sabe que só pode existir vida num meio sólido alimentício?
— Mas, Ezequiel, o professor afirma que, para além do espaço gasoso...
— Ah, sim? A existência de outras maçãs? Aqueles círculos vislumbrados à distância? Não seja bobo. Só existe o nosso mundo. É um mundo tão grande e acolhedor, será que não basta?
— Não sei não. Quanto tempo irá durar esse nosso mundo?
— Durará eternamente. A verminosidade não precisa se preocupar pois a Maçã é sólida, grande, doce e estável. Que poderia abalar esse nosso belo mundo?
(imagem Wikipedia)