Não entre em DEBATES sem antes escolher a cadeira certa, Mas cuidado com a brinCADEIRA! Pode machucar!
No salão vasto, o eco das palavras ressoava como ventos errantes. Na entrada, um letreiro um tanto enigmático cintilava à meia-luz: “É brinCADEIRA... Não entre em debates sem antes escolher a cadeira ideal e depois relaxe”. Quem entrava, não sabia ao certo o que esperar. Seria um jogo? Uma piada? Ou algo mais profundo, algo que tocasse as fibras da existência sem aviso prévio?
Joaquim, um homem acostumado a confrontos verbais, sentia-se atraído por aquele lugar. Ele era um debatedor nato, sua língua, uma espada afiada. Ele já havia enfrentado muitas batalhas verbais, sempre com a certeza de que estava certo, ou ao menos, de que poderia convencer os outros de sua certeza. Mas naquele salão, ele hesitou. Um frio subiu-lhe pela espinha, algo dentro dele sussurrava que aquele lugar não era como os outros.
No centro do salão, um círculo de cadeiras. Não havia duas iguais. Cadeiras de todos os tipos: grandes, pequenas, estofadas, de madeira simples, com encostos altos ou sem nenhum. Era como se cada uma contivesse uma personalidade, um destino.
Joaquim aproximou-se de uma cadeira de couro, grande e imponente. Parecia a escolha certa, afinal, ele gostava de se impor. Mas antes que pudesse se sentar, uma mulher de cabelos grisalhos apareceu ao seu lado, com um sorriso misterioso no rosto. “Escolha com cuidado,” disse ela, com uma voz suave. “A cadeira que escolher vai definir o rumo do seu debate. Mas, acima de tudo, relaxe.”
Joaquim hesitou novamente. Ele olhou ao redor, tentando entender o enigma. Havia algo de inquietante naquela recomendação. Afinal, quem relaxa em meio a debates? No entanto, decidido a jogar o jogo, ele optou por uma cadeira mais discreta, de madeira simples e confortável. Sentou-se, respirou fundo e, surpreendentemente, sentiu uma onda de tranquilidade tomar conta dele. Pela primeira vez, não havia pressa, não havia necessidade de vencer.
O debate começou. Ao seu redor, outros participantes também tomavam seus lugares. Alguns escolheram cadeiras ornamentadas, outros preferiram as mais robustas, e logo ficou claro que as cadeiras influenciavam a postura de cada um. Quem sentava nas cadeiras mais imponentes falava com arrogância, como se carregasse o peso do mundo nas costas. Os que se acomodaram em cadeiras desconfortáveis logo se mostraram inquietos, impacientes, atropelando as falas alheias. Mas Joaquim, em sua cadeira modesta, percebeu algo novo: a clareza. Ele não precisava gritar para ser ouvido. As palavras fluíam com naturalidade, e as respostas que recebia não eram combativas, mas sim reflexivas.
Conforme o debate avançava, uma sensação estranha tomou conta do salão. Era como se as cadeiras moldassem as ideias de seus ocupantes, não apenas suas posturas. O confronto de egos foi perdendo força, substituído por trocas mais profundas, mais calmas. Quem relaxava em sua cadeira parecia alcançar uma visão além do óbvio.
No final da noite, Joaquim se levantou com um sorriso que ele mesmo não esperava. Nunca sentira uma paz tão grande após um debate. Não houvera vencedores, nem perdedores, apenas uma troca verdadeira de ideias.
Antes de sair, a mulher de cabelos grisalhos o encontrou novamente. “Viu? É uma brinCADEIRA, mas uma que pode ser séria.” Ela piscou para ele. “Depois, não diga que eu não avisei.”
Joaquim saiu do salão e olhou uma última vez para o letreiro. Agora ele via o que antes não havia reparado. As palavras brilhavam mais intensamente. Pareciam ecoar na mente dele como um alerta para o futuro: “Parece até brinCADEIRA de políticos…”.
Ele riu sozinho, mas uma parte dele sabia que havia algo de profundamente verdadeiro naquele aviso.