A MAGIA DAS FLORES

 

Ao passar por um jardim florido na Rua Independência, ouvi alguns murmúrios. Parei e olhei para os lados, pois, além de mim, não havia mais nenhuma pessoa no local. Por um momento, senti-me ameaçada, mas logo me dei conta que as vozes eram suaves, dóceis e infantis. Recuperei a calma e uma grande dúvida surgiu. “Estou sonhando ou acabei de chegar ao paraíso?” O ar era puro como o ar campestre e agia sobre mim como um bálsamo. A manhã era envolvente e ensolarada. Todavia, os sons eram reais; portanto, eu estava viva e algo extraordinário estava acontecendo. Por alguns segundos, o ar parou e, ao voltar a mover-se, deu vida às flores, as quais passaram a circular com charme e simpatia pelos caminhos do jardim e fixando-se em outros canteiros. Um delicado Amor-perfeito aproximou-se das Azáleas, pediu licença e integrou-se ao grupo. A seguir, o mesmo ocorreu com outras espécies. O jardim era um imenso lençol matizado que exalava um gostoso e sedutor aroma. De repente, o belíssimo céu azul foi coberto por uma neblina densa e forte. Era impossível visualizar alguma imagem. Enquanto buscava uma explicação para o fenômeno, ouvi o canto de pássaros e, à medida que essa sinfonia se intensificava, raios solares reapareceram. Meu fascínio foi quebrado por um Crisântemo que alertava as demais Flores para que fossem cuidadosas, pois, certamente, em pouco tempo, começariam a passar aqueles seres que não sabem admirá-las com os olhos e as arrancam de seus galhos. Suavemente, passei a andar na calçada. Nisso, uma vozinha falou: “– Leve-me contigo?” Era um Cravo Vermelho que desabrochava. Passei-lhe a mão com delicadeza e expliquei-lhe que, se assim fizesse, ele viveria menos tempo e, por serem os Cravos Vermelhos a minha flor predileta, eu não gostaria de abreviar a sua existência. Enquanto falávamos, o desfile floral continuou. Andavam de lado a outro com elegância e leveza. Os canteiros, antes de uma só cor, passaram a ser multicoloridos e com várias espécies. De repente, um “Psiu”, olhei para o meu lado esquerdo e vi uma Onze Hora rosa a acenar-me. Despedi-me do Cravo Vermelho e fui até ela. Ao saudá-la, notei que estava um pouco desgostosa e aflita; então, perguntei-lhe o porquê de sua tristeza e ela, bastante tímida e receosa, respondeu-me: “- Estou decepcionada com algumas espécies florais. Eu acreditava que éramos diferentes e que, entre nós, não havia superiores; entretanto, algumas olham com superioridade e com arrogância às flores mais simples e comuns. Observe-nos e verás que estamos a repetir os mesmos comportamentos e gestos dos homens”. O vento começou a soprar, abaixei-me e peguei a pequenina Onze Horas nas mãos, acariciei-a e, quanto mais me afastava do local, meus pensamentos iam sendo envolvidos por intensos raios luminosos e pelo agradabilíssimo perfume das flores.

Ilda Maria Costa Brasil
Enviado por Ilda Maria Costa Brasil em 07/11/2023
Código do texto: T7926751
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