O Tinteiro e a Folha de Papel
Era uma vez um tinteiro azul com detalhes dourados, elegante e sedutor, que ansiava pelo toque firme numa folha de papel em branco. Sua tinta escorria com ansiedade pelos poros, desejando encontrar a superfície perfeita para se expressar, até que um dia, esse tinteiro finalmente se encontrou com sua alma gêmea: uma folha de papel lisa e delicada, pronta para receber suas carícias, sobre a escrivaninha, no escritório de um poeta.
Lá estava ela, branca e impecável, por sua vez, aspirando ser tocada por um tinteiro à sua altura. Eles conversavam sobre poesia, sobre as palavras e suas nuances, sobre as rimas e sobre a beleza dos versos.
A folha de papel falava ao tinteiro que prezava pela classificação de rimas quanto à fonética e, emocionada, detalhou sobre as rimas perfeita e a imperfeita; e prosseguiu com suas explicações acerca da rima assonante, bem como da aliterante. A folha se mostrou tão culta que deixou o tinteiro ainda mais empolgado. Tanta foi a empolgação que ele não hesitou em compartilhar com ela seu parco conhecimento sobre a classificação da rima quanto ao seu valor, fazendo interessante explanação sobre rima rica, rima pobre e rima preciosa.
A folha de papel ficou tão à vontade em sua prosa com o tinteiro, que aduziu os conhecimentos que adquirira com o poeta sobre a classificação de rimas quanto à acentuação e deu alguns exemplos de rima aguda, rima grave e rima esdrúxula. Sorridente, o tinteiro interagia, complementando o assunto abordado inicialmente pela folha de papel, fazendo alusões à classificação de rimas quanto à posição na estrofe e isso enchia o coração dela de alegria, pois amava que lhe dissertassem sobre as rimas paralelas, interpoladas, encadeadas e mistas, e fazendo ainda, uma breve ressalva na qual afirmou não ter muito interesse em versos brancos.
Horas se passaram com eles falando sobre poesia, depois sobre amor, natureza, sobre a beleza das flores e a grandiosidade do céu. E assim começou um romance quente e intenso entre os dois.
A folha branca e macia deitou-se na superfície da mesa bem adornada do poeta e o tinteiro foi para cima dela. Com sua ponta rígida, deslizou suavemente sobre ela, que absorvia cada palavra que ele escrevia, com gosto. Enquanto o tinteiro deslizava pelas linhas, preenchendo cada espaço vazio com sua tinta, a folha de papel se enchia de palavras escritas em um fluxo harmonioso. O prazer era tão intenso que, sem aviso prévio, o tinteiro jorrou toda sua tinta na folha de papel em um momento de êxtase. Assim, a folha de papel, que perdera sua brancura, agora com a tinta em si, começou a sonhar com a possibilidade de uma gravidez.
Se passaram semanas, até que finalmente a folha de papel deu à luz um lindo poema. Uma criação completamente nova, uma beleza poética que não teria existido sem o amor e a paixão ardente entre o tinteiro e a folha de papel:
União Renascente
O poeta fez dos versos o parto
Fruto d’amor entre o tinteiro e a folha
De tinta e papel, um poema envolto
Com convicção foi feita essa escolha
A atração uniu um ao outro - amante
Escrevendo emoções em cada linha
Tão forte que o tinteiro vibrante
Ejaculou, em orgasmo, cada letrinha
E a folha acolheu aquela semente
Concebendo em momento de alcandôr
Um poema novo, alvo e inocente
Escrito com tinta por desejo ardor
O fruto dessa união renascente
Que de tão linda fez-se um fulgor!
Com o nascimento do poema, o tinteiro e a folha de papel se sentiram completos. Eles sabiam que essa criação poética era apenas o começo de um amor eterno. Os dois vivem a se encontrar, compartilhando seu amor, exprimindo sua paixão pela poesia e pela arte da escrita. Cada vez que se encontram, uma nova obra de arte é criada. O tinteiro e a folha de papel vivem felizes, deixando um legado literário para as futuras gerações. Inspiração, não falta!
O poeta ficou maravilhado com o poema do tinteiro e a folha de papel, pois tal criação é prova que a poesia é energia e vibra, pulsa viva, gerada por um amor, por um desejo, por uma paixão ardente entre seres tão improváveis. Ele sabe que os versos, uma vez nascidos, eternizam o que conta cada história.