Devir Animal
Estou com fome.
Preciso comer algo, mas não quero repetir. Tudo o que resta já não basta. Louca satisfação já houve com detritos abandonados. Hoje, é pouco. É quase nada.
Lembro dos gostos e do ranço. Quero explosão de sabores.
Minha barriga dói.
Sinto a areia esfregando no umbigo e ouço ecos ocos. Preciso de espaço - o aperto já não é mais suportável.
Quanto cabe em mim?
Sair sempre dói. Cada vez mais. Seus tentáculos protegem, mas… São suficientes? Basta uma ponta e tudo se rasga.
Lá está, você vê?
Pequena novamente? Será?
Ah, vou ficar aqui mesmo, não vou sair.
Eu sei, eu sei… Está roncando.
Sim, sim. Eu sei!
Estão dormentes.
Ou saio, ou paraliso.
Mas, já não estou em movimento? Pra que ir?
Entendi…
Mas, você vai ficar?
Tá bom. Eu vou.
Calma!
Droga, enroscou.
Pronto, não tem ninguém lá. É agora.
É só um pouco maior, mas é suficiente.
Continuar procurando? Mas… E se eu me cortar? E se me morderem? E se me comerem?
Está me machucando. Eu… Eu preciso ir.
Eu consigo caber lá dentro. Se caibo aqui…
O problema é a troca. É o movimento do entre. Nem aqui e nem lá. Nas extremidades, estou seguro. No meio, totalmente vulnerável.
O resto? O que fica pra fora?
Não quero ficar olhando por tanto tempo. Quero entrar.
Estou indo, tá bom?