Artefato

Era uma vez Metáfora.

Menina esperta!

Corrida, estava sempre a perambular por aí.

Era muito boa com as palavras, 

Ardilosa, dizia tudo em bons tons

E boa crítica. Elogiava e desdenhava com calmaria.

Adorava deixar todos com a pulga atrás das orelhas.

Eu não falava. Era mudo.

Tudo que queria dizer

Dizia por Metáfora, e ela bem sabia dizer.

Havia um garoto, tosco

Seco, sem carisma.

Estava sempre a replicar por aí

O que Metáfora dizia, em outras palavras.

Literal era chato.

Ô menino levado!

- tem que ser claro - ele dizia

Mas que confusão! Como se sem ele o entendimento fosse confuso...

Literal era fanático.

Literal perseguia Metáfora.

Metáfora dizia que um cego não vê onde anda, mas conhece o caminho que toma.

Literal dizia que viver não é caminhar. Esse só pela manhã. Saúde.

Metáfora dizia ter arte.

Literal dizia ter fato.

Tudo que quis dizer, eu disse por Metáfora.

Literal mente, às vezes.

Eu queria que Literal tivesse arte.

As coisas como realmente são

Podem ser chatas.

Metáfora usa um jogo de palavras tão bonito.

Consegue cumprimentar o burro sem relinchar.

Queria que todos pudessem ser assim. 

No fim, ambos diziam a mesma coisa

De entendimentos diferentes.

Mas metáfora atravessava...

Eu que sempre disse por ela

Essa é a primeira vez que não falo por Metáfora. Ela anda em crise.

Metáfora eufórica mente, também.