Arte, vida e resistência: Reflexões a partir de Sociedade dos Poetas Mortos

É preciso coragem para fazer aquilo que te faz feliz, mesmo quando o mundo ao redor insiste em dizer o contrário.

Essa é uma das mais profundas lições que Sociedade dos Poetas Mortos (Dead Poets Society) nos deixa. Com a chegada de John Keating (interpretado por Robin Williams), um ex-aluno e agora professor de literatura, na rígida escola preparatória Welton Academy, a monotonia do ensino tradicional dá lugar a uma abordagem revolucionária, que desafia regras e convenções. Keating não apenas ensina poesia, ele revela aos seus alunos a força transformadora da arte, mostrando-lhes que ela é uma forma de enxergar a vida em sua plenitude.

Uma cena icônica resume essa filosofia: “Carpe Diem” – aproveite o dia. Keating incentiva os jovens a viverem intensamente, explorando suas paixões e descobrindo quem realmente são. Mais do que versos rimados, ele ensina que a poesia está na forma como escolhemos viver, na maneira como transformamos o ordinário em algo extraordinário.

Neil Perry e o impacto da arte na existência:

Entre os alunos inspirados pelo professor, Neil Perry se destaca como uma figura que representa o poder transformador da arte e os conflitos que ela pode trazer em um mundo dominado por expectativas e pressões sociais. Quando Neil descobre o teatro, ele encontra um sentido de liberdade e uma conexão com sua verdadeira essência. Atuando, ele não apenas interpreta personagens, mas encontra a si mesmo.

No entanto, essa paixão entra em choque com a visão rígida de seu pai, o Sr. Perry, que proíbe o filho de atuar e insiste que ele siga uma carreira tradicional, como a medicina. Para o Sr. Perry, a arte é uma distração, algo incapaz de oferecer estabilidade ou respeito social. Esse conflito representa uma dicotomia universal: o embate entre a individualidade e as normas impostas por uma sociedade que valoriza mais a segurança do que os sonhos.

Para Neil, viver sem a arte é como não viver. Quando ele é forçado a abrir mão do teatro, o vazio que sente torna-se insuportável. Seu desfecho trágico expõe a consequência de negar a um ser humano aquilo que o faz sentir-se vivo. A história de Neil é um lembrete cruel de como a falta de apoio à expressão individual pode levar à destruição emocional.

A arte como essência da humanidade:

A jornada de Neil nos leva a uma reflexão mais ampla: por que a arte é tão essencial para a existência humana? Desde os primórdios da humanidade, na Pré-História, a arte sempre esteve presente. As pinturas rupestres, por exemplo, são mais do que meras representações visuais. Elas simbolizam a necessidade humana de comunicar, de registrar sua presença no mundo e de expressar suas emoções e sua cultura. Mesmo em tempos em que a sobrevivência era a prioridade, o ser humano encontrou tempo e energia para criar – porque criar é viver.

A arte transcende barreiras culturais, linguísticas e temporais. É por meio dela que conectamos nosso mundo interior com o exterior. Seja a música que desperta memórias, um poema que traduz sentimentos inomináveis ou uma peça de teatro que nos faz enxergar nossa própria fragilidade, a arte nos toca porque reflete quem somos.

A arte como resistência e refúgio:

No caso de Neil, atuar era tanto um refúgio quanto uma forma de resistência. Refúgio, porque o palco era o único lugar onde ele podia ser genuinamente ele mesmo. Resistência, porque, ao atuar, ele desafiava as expectativas de seu pai e da sociedade ao seu redor. Esse poder de resistência é algo que a arte sempre carregou: ao longo da história, foi por meio da música, da literatura e das artes visuais que indivíduos e grupos desafiaram opressões, questionaram injustiças e reivindicaram suas vozes.

Ao mesmo tempo, a arte oferece consolo em momentos de dor e solidão. Mesmo aqueles que acreditam não “apreciar” arte dependem dela de alguma forma: na melodia que acalma, no filme que inspira, na arquitetura que encanta ou até nas histórias que nos fazem sonhar.

A arte nos faz humanos:

No fim das contas, Sociedade dos Poetas Mortos nos mostra que a arte não é apenas algo belo ou inspirador. Ela é um componente essencial da vida. Sem ela, perdemos a conexão com nossas emoções, com nossa criatividade e com nossa humanidade. Neil Perry, em sua breve e trágica jornada, nos ensina que viver sem paixão e sem expressão é não viver.

Como disse o professor Keating: “A poesia, a beleza, o romance, o amor… é para isso que vivemos.” Essa frase captura a essência do filme e da própria arte: ela nos lembra de que somos mais do que funções ou papéis impostos. Somos seres criativos, sensíveis e únicos, em busca constante de significado em um mundo tão vasto quanto imprevisível.

E, assim como Neil, somos convidados a nos perguntar: o que nos faz verdadeiramente vivos?