Epitáfio, de Sérgio Brito dos Titãs

por Márcio Adriano Moraes

Musicalmente, a melodia suave e melancólica de “Epitáfio” reforça o tom de contemplação e arrependimento que a letra propõe. Os arranjos simples, com um piano marcante e uma levada calma, permitem que o ouvinte se conecte emocionalmente com a mensagem da música. A combinação entre letra e música cria um clima introspectivo, num mergulho contemplativo, como se estivéssemos falando a nós mesmos. Cada verso e cada acorde convidam à pausa e à meditação sobre o sentido da vida.

 

Quanto à letra, a canção “Epitáfio” associa-se diretamente ao conceito de carpe diem horaciano ao refletir sobre a necessidade de aproveitar o presente e viver plenamente antes que o tempo se esgote. Assim como Horácio, em sua célebre máxima “aproveite o dia”, exorta-nos a valorizar o momento presente e não deixar a vida escapar em arrependimentos, a letra da canção dos Titãs expressa o lamento por oportunidades perdidas e escolhas não feitas. A vida é breve e incerta, por isso devemos buscar o que realmente importa agora, antes que seja tarde demais.

 

Além disso, a canção pode ser lida num diálogo entre a busca epicurista pela tranquilidade e a estoica pela virtude. A melancolia do eu lírico, que percebe tardiamente que deveria ter apreciado mais os momentos simples, pode ser lida tanto como uma crítica à falta de ataraxia quanto como uma falta de apatheia. Se por um lado o epicurista valoriza os prazeres moderados e tranquilos, por outro o estoico busca uma vida regida pela razão e pela virtude, ambos propondo caminhos diferentes para evitar os arrependimentos expressos na canção.

 

A principal diferença, no entanto, está no papel do indivíduo na sociedade. Enquanto o epicurista, como Epicuro propôs, evitaria a vida pública para escapar das dores sociais; os estoicos, como Sêneca, abraçam essa vida, considerando-a uma oportunidade de exercer a virtude. Nesse sentido, o eu lírico de “Epitáfio”, ao lamentar a ausência de riscos e a falta de vivências plenas, parece mais próximo do pensamento estoico, que insiste na ação em prol da virtude, mesmo diante das dificuldades da vida.

 

Assim como as cartas filosóficas, “Epitáfio” nos convida a pensar sobre o sentido de nossas ações e como lidamos com o tempo que temos. Seja pelo caminho da tranquilidade epicurista ou pela virtude estoica, o importante é não desperdiçar o presente e viver com consciência, evitando os arrependimentos que o eu lírico alerta, para que não sejamos nós a escrever esse epitáfio em nossas lápides.

 

1714126.png1714130.png