Análises de Poetrix

Uma vez apresentadas as definições de Poetrix e poetrixtas, através dos títulos “Poetrix: fotografia em palavras” e “Poetrixta: fotógrafo das palavras”, apresento a você dois modelos de Poetrix belíssimos e suas respectivas análises. O primeiro é de autoria da poetrixta e acadêmica Diana Pillati, cadeira nº 10 da AIP; o segundo é de autoria da poetrixta e acadêmica Lílian Maial, cadeira nº 12 da AIP.

Mosteiro

Chove no jardim

uma rã encara o céu

prece silenciosa

Uma joia preciosa este poetrix "Mosteiro", de Diana Pilatti! Ele apresenta uma imagem poética que carrega significados profundos. Através da observação da chuva no jardim, o poemeto revela um momento de contemplação em um ambiente tranquilo e isolado - o mosteiro.

A chuva é o elemento principal nele, transmitindo uma sensação de serenidade e renovação. Ela é um motivo comum na literatura, frequentemente associada ao renascimento e à purificação. Neste caso, a chuva pode ser interpretada como uma representação da tranquilidade de um mosteiro, proporcionando um ambiente favorável para a introspecção e a devoção.

A presença da rã surpreende o leitor, pois não é usual que esse animal seja associado a um mosteiro. Ao encarar o céu, ela parece estar envolvida em uma prece silenciosa, transmitindo uma sensação de comunhão com o divino. A rã, conhecida por seu canto noturno, representa a conexão entre o terreno e o espiritual, entre a natureza e o sagrado.

A escolha das palavras é notável no poetrix, evidenciando a concisão característica do estilo. A ausência de uma conjunção entre os versos - "Chove no jardim / uma rã encara o céu" - cria uma pausa que permite ao leitor apreciar cada imagem individualmente. O uso do adjetivo "silenciosa" no último verso realça o clima de devoção e serenidade que permeia o terceto.

O lindo "Mosteiro" da poetrixta Diana Pilatti é uma breve e delicada expressão de contemplação espiritual em um ambiente isolado. Através da chuva, da presença da rã e da prece silenciosa, a autora cria uma imagem de serenidade e renovação. Essa pílula poética traz um efeito maravilhoso de paz e amor.

Impressões

A foto me sorri

no fundo da gaveta

nós feitos de passado

A joia preciosa "Impressões", da poetrixta Lílian Maial, foi extraído do seu livro “Equilátero”, um belíssimo álbum de minifotografias poéticas lindas (Vencedor do Prêmio AIP de Literatura 2023), e encanta pela sutileza e profundidade. A autora nos leva a refletir sobre as memórias que guardamos, representadas pela imagem que sorri na foto esquecida no fundo da gaveta.

Na primeira linha, "A foto me sorri", revela uma relação de intimidade entre o eu lírico e a imagem retratada. O sorriso capturado no instante congelado parece ganhar vida, transmitindo uma sensação de afeto e emoção. A escolha do verbo "sorrir" demonstra a leveza e a positividade que a foto traz.

Na segunda linha, "no fundo da gaveta", temos a noção de que a recordação está guardada, escondida em um local de pouca visibilidade. Essa imagem nos remete à ideia de que a memória pode ser algo guardado e resguardado de um modo especial.

Na terceira linha, "nós feitos de passado" contém linda metáfora sobre como as memórias são parte integrante de nós mesmos. Somos construídos do que vivemos, do que lembramos e do que deixamos para trás. Os "nós" representam a teia de experiências que moldam nossa identidade, e o "passado" memora a dimensão temporal que nos conecta ao que já foi vivido.

A seleção dos vocábulos e a forma como são dispostos no Poetrix revelam a maestria e a sensibilidade da autora. A habilidade de Lílian Maial em criar um clima nostálgico evidencia uma refinada sensibilidade poética. Ela nos leva a adentrar em um espaço íntimo, onde as lembranças se conectam ao presente, despertando reflexões sobre a passageira natureza da existência.

A pílula "Impressões" tem em sua composição um lirismo envolvente e elegante, com recursos poéticos refinados para transmitir uma mensagem de autenticidade. Lílian Maial brilha ao extrair o essencial das memórias, imortalizando-as através de sua escrita sólida e imensamente poética.