A IDEOLOGIA ALEMÃ – KARL MARX E FRIEDRICH ENGELS

Embora "O Manifesto Comunista" e "O Capital" sejam frequentemente citados como as principais obras da teoria histórico-cultural desenvolvida por Karl Marx e Friedrich Engels, é em "A Ideologia Alemã" que se encontram as bases fundamentais dessa teoria. Escrito antes das outras duas obras mais renomadas, "A Ideologia Alemã" estabelece os princípios fundamentais que sustentam a análise marxista da sociedade, da história e da economia. Nessa obra, Marx e Engels elaboram conceitos centrais, como a crítica ao idealismo alemão e a teoria da mais-valia, que serão aprofundados e expandidos em seus escritos posteriores. Mas, afinal, o que é essa “Ideologia” tão criticada pelos autores da obra aqui analisada?

Para entendermos melhor o significado deste conceito, é sumamente importante também trazermos o subtítulo da obra, qual seja, “Crítica da mais recente filosofia alemã em seus representantes Feuerbach, Bauer e Stirner”. Estes três autores faziam parte de um grupo de pensadores conhecidos como Os Jovens hegelianos ou hegelianos de esquerda, uma vez que seguiam a linha filosófica de Hegel, que até aquele momento era tido como o filósofo que representava o ápice desse movimento filosófico desenvolvido sobre as ideias de Kant, isto é, o supra sumo das ideias abstratas - o Idealismo Alemão. Por conta deste pensamento totalmente subjetivo e que estava emaranhado em toda intelectualidade europeia é que surgiram as críticas de Marx e Engels a esse movimento. E foi neste cenário que ambos os autores desenvolveram as bases do Materialismo Histórico, que é uma teoria que busca explicar a história e o desenvolvimento das sociedades humanas com base nas condições materiais e econômicas, ou seja, nas relações de produção e no modo como os seres humanos organizam a produção e a distribuição de bens. Essa abordagem rejeita a ideia de que a história é guiada por ideias ou pela consciência, como afirmavam os filósofos idealistas, e propõe que as estruturas econômicas e materiais são a base sobre a qual as sociedades se organizam e evoluem.

Para Marx e Engels, os homens passaram a se diferenciar dos outros animais a partir do momento em que começaram a produzir seus meios de subsistência, seus materiais, e não apenas pelo fato de falarem, ou seja, é o trabalho produtivo que torna os seres humanos únicos e é este acontecimento que dá início à tese materialista-histórica de Marx e Engels.

De um modo geral, a obra é dividida em três partes elementares; a primeira é sobre essa refutação ao pensamento dos jovens hegelianos; a segunda e maior parte é a qual os autores fundamentam e discorrem sobre as teses que servem de base para a teoria materialista da história, onde vemos pela primeira vez na literatura política os conceitos sobre a história da luta de classes, bem como os argumentos dos autores em relação a como a sociedade moderna se desenvolveu até aquele momento, levando em consideração todas as suas nuances e contradições que moldaram o Estado moderno no qual estavam inseridos; e a terceira se concentra nas "Teses sobre Feuerbach", onde Marx aprofunda a crítica ao pensamento contemplativo de Feuerbach. Essa parte é composta por onze teses, a qual a mais famosa é 11° “Os filósofos até agora apenas interpretaram o mundo de várias maneiras; o que importa é transformá-lo". Marx aqui desafia a filosofia a deixar de ser apenas uma contemplação passiva da realidade e a se engajar ativamente na transformação social. Essa tese se torna central no pensamento marxista e em sua concepção de uma filosofia orientada para a ação revolucionária.

"A Ideologia Alemã" representa um marco na formulação das ideias que guiam o pensamento de Marx e Engels e, posteriormente, todo o movimento socialista. Além disso, ao propor que a filosofia deve ir além da mera interpretação do mundo para transformá-lo, Marx e Engels estabelecem uma ponte decisiva entre teoria e prática, reforçando a importância da ação revolucionária. Essa obra, portanto, lança as bases para a compreensão das sociedades modernas e a necessidade de sua transformação, elementos que permanecem centrais no pensamento marxista até os dias atuais.

Igor Grillo
Enviado por Igor Grillo em 18/09/2024
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