A questão da humanidade explorada em “Águas Correntes” de Jhonnathan Pereira
Resumo da obra:
O conto apresenta uma jornada de um cadáver ao longo de quatro margens de um rio, cada uma representando diferentes aspectos da vida e da morte.
Na primeira margem, a Margem das Lamentações, o cadáver é visto como um presságio de desgraça, simbolizando a morte e a decadência. A segunda margem, a Margem da Vã Confiança, um profeta idoso vê o cadáver como um reflexo de sua própria decadência espiritual, destacando a perda de fé e esperança.
Já a terceira margem, a Margem do Acolhimento, habitada por pessoas ambiciosas, o cadáver é visto como uma oportunidade de ganho material, refletindo a ganância e a busca pelo poder. Finalmente, na última margem, uma menina sem nome vê o cadáver como a representação de seu pai perdido, simbolizando a perda pessoal e a dor.
O conto explora temas de morte, perda, decadência, ganância, e autodescoberta, oferecendo uma reflexão sobre a condição humana e a inevitabilidade da morte. Cada margem do rio apresenta uma perspectiva diferente sobre a vida e a morte, refletindo as diversas maneiras pelas quais os seres humanos lidam com esses temas universais.
A questão da humanidade explorada no conto “águas correntes” de Jhonnathan Pereira:
O conto "Águas correntes" do autor Jhonnathan Pereira, apresenta uma estrutura simbólica e metafórica, explorando as diferentes margens de um rio e as reações das pessoas diante do cadáver descoberto. Cada margem representa um aspecto da natureza humana e das experiências de vida, criando uma narrativa rica em significados.
A primeira margem, a Margem das Lamentações, reflete o medo e a aversão à morte, provocando murmúrios e reclamações entre os habitantes da região. Essa reação inicial ilustra a angústia e a resistência das pessoas diante do desconhecido e do inevitável.
Na Margem da Vã Confiança, vemos a figura do profeta idoso que se identifica com o cadáver, reconhecendo sua própria decadência espiritual. Aqui, a narrativa explora a perda da fé e da esperança, destacando a fragilidade do ser humano diante da passagem do tempo e das provações da vida.
Já na Margem do Acolhimento, a ganância e a ambição são evidenciadas, revelando a disposição das pessoas em explorar a situação para obter benefícios pessoais. O contraste entre a atitude egoísta dos habitantes dessa margem e a generosidade da menina na última margem ressalta a complexidade das relações humanas e a diversidade de valores presentes na sociedade.
Por fim, a última margem surge como um espaço de contemplação e redenção, onde a menina sem nome encontra uma conexão emocional profunda ao reconhecer no cadáver os traços de seu pai desaparecido. Esse momento de reconhecimento e aceitação da dor simboliza uma jornada de cura e entendimento, levando a protagonista a confrontar sua própria realidade e a encontrar significado em meio ao sofrimento.
Assim, o conto aborda temas como mortalidade, espiritualidade, ganância e redenção, convidando o leitor a refletir sobre a complexidade da experiência humana e a busca por sentido em meio às vicissitudes da vida. A narrativa se desdobra de forma poética e sugestiva, deixando espaço para interpretações diversas e ressoando com a natureza universal das emoções e das relações humanas.
O conto “Águas Correntes” de Jhonnathan Pereira é uma obra rica em simbolismo e metáforas, que explora as profundezas da condição humana através das reações de diferentes personagens à visão de um cadáver flutuando em um rio. Aqui está uma análise literária crítica baseada nas filosofias da humanidade:
Margem das Lamentações: Esta margem representa a reação humana inicial à morte - medo, repulsa e superstição. As pessoas aqui são rápidas em atribuir a morte a algum tipo de desgraça ou maldição, refletindo a tendência humana de buscar explicações sobrenaturais para eventos inexplicáveis.
Margem da Vã Confiança: O profeta idoso nesta margem simboliza a crise de fé e a perda de esperança que acompanham muitas vezes a velhice e a proximidade da morte. Ele vê no cadáver um reflexo de sua própria decadência espiritual, destacando a filosofia existencialista de que a vida é inerentemente sem sentido e que cada indivíduo deve criar seu próprio propósito.
Margem do Acolhimento: As pessoas nesta margem representam a ganância e o materialismo que ofuscam muitas vezes a compaixão e a empatia na sociedade humana. Eles veem o cadáver não como um ser humano que sofreu, mas como uma oportunidade de enriquecer, ilustrando a crítica marxista à exploração e à desumanização inerentes ao capitalismo.
A Última Margem: A menina sem nome nesta margem simboliza a inocência perdida e o trauma da guerra. Ela projeta a imagem de seu pai desaparecido no cadáver, destacando o custo humano da guerra e a dor da perda. Sua reação silenciosa e introspectiva contrasta fortemente com as reações vocais e externas das outras margens, sugerindo que o sofrimento mais profundo é muitas vezes o mais silencioso.
Em resumo, “Águas Correntes” é uma poderosa meditação sobre a vida, a morte e a natureza humana, vista através das lentes de várias filosofias e ideologias. Cada margem do rio oferece uma perspectiva única sobre a condição humana, convidando o leitor a refletir sobre suas próprias crenças e atitudes em relação à vida e à morte.
As relações filosóficas do conto:
O conto “Águas Correntes” de Jhonnathan Pereira estabelece uma conexão profunda com várias filosofias da humanidade, cada uma representada por uma margem diferente do rio:
Margem das Lamentações: Esta margem reflete a filosofia existencialista, que enfatiza a individualidade, a liberdade e a escolha pessoal. As pessoas nesta margem reagem à morte com medo e superstição, ilustrando a angústia existencialista e a busca por significado em um mundo aparentemente sem sentido.
Margem da Vã Confiança: O profeta idoso representa a filosofia do niilismo, que argumenta que a vida é sem propósito, objetivo ou valor intrínseco. Ele vê sua própria decadência refletida no cadáver, simbolizando a perda de fé e a desilusão centrais para o niilismo.
Margem do Acolhimento: As pessoas nesta margem exemplificam a filosofia do materialismo, que valoriza o ganho físico e material acima de tudo. Eles veem o cadáver como uma oportunidade de enriquecer, destacando a natureza egoísta e exploradora do materialismo.
A Última Margem: A menina sem nome nesta margem simboliza a filosofia do estoicismo, que ensina a aceitação da dor e do sofrimento como parte da condição humana. Ela aceita silenciosamente a morte de seu pai e encontra uma conexão com sua própria dor, demonstrando a resiliência e a aceitação que são características do estoicismo.
Portanto, o conto “Águas Correntes” não é apenas uma história sobre um cadáver flutuando em um rio, mas também uma exploração das várias filosofias que moldam a experiência humana. Cada personagem e sua reação ao cadáver oferecem uma janela para uma filosofia diferente, permitindo ao leitor refletir sobre as complexidades da vida, da morte e do significado humano.
“Que seja mais fácil acordar amanhã, do que o que vi hoje no espelho do sol nascente, que seja por amor, que a gente aprende, que seja pela paz e pela justiça, toda a luta que temos em vida.” Jhonnathan Pereira - Versos da alma de um pequeno poeta, p.16 - 2022-2023
Referências:
Pereira, JHONNATHAN. Versos da alma de um pequeno poeta. 2022-2023. p.16
JP. MEDIA. Águas Correntes. 2023.
BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo (1949). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2014.
CAMUS, Albert. O mito de Sísifo. Rio de Janeiro: Guanabara, 1989.
HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo (1927), Partes I e II, tradução de Marcia Sá Cavalcante Schuback, Petrópolis: Vozes, 2002.
KIERKEGAARD, Soren. Temor e tremor (1843) in Os pensadores, tradução de Maria José Marinho, São Paulo: Abril Cultural, 1974.
JASPERS, Karl. Filosofia da existência: conferências pronunciadas na Academia Alemã de Frankfurt. Rio de Janeiro, RJ: Imago, 1973
MERLEAU-PONTY, Maurice. (1945). Fenomenologia da percepção (C. Moura, Trad.). São Paulo: Martins Fontes, 1994
SARTRE, Jean-Paul. O Ser e o Nada (1943). 13ª ed. Petrópolis: Vozes, 2005
Nietzsche, Vontade de Potência.