A ARTE, A POESIA, A TRAJETÓRIA de FERREIRA GULLAR...ouvindo FAGNER E CHICO BUARQUE...🤹🎶🧘‍♂️🎶🧘

TRADUZIR-SE

Uma parte de mim

é todo mundo;

outra parte é ninguém:

fundo sem fundo.

Uma parte de mim

é multidão:

outra parte estranheza

e solidão.

Uma parte de mim

pesa, pondera;

outra parte

delira.

Uma parte de mim

almoça e janta;

outra parte

se espanta.

Uma parte de mim

é permanente;

outra parte

se sabe de repente.

Uma parte de mim

é só vertigem;

outra parte,

linguagem.

Traduzir-se uma parte

na outra parte

— que é uma questão

de vida ou morte —

será arte?

Escrito pelo POETA FERREIRA GULLAR.

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Esta poesia foi inspirada através de uma vivência do cotidiano do renomado POETA FERREIRA GULLAR.

O mesmo conta que através de uma conversa súbita com um casal que o interpelou se ele era o Poeta Ferreira Gullar, o mesmo comenta que se "espantou", pois naquele momento ele estava passando por vários problemas familiares, "atormentado" com suas questões pessoais; assim ele não se reconhecia como Poeta.

A partir daí ele se questiona: Quem sou? O Poeta ou a pessoa atormentada pelos problemas?

Então descobre que ele não era uma pessoa só, que dentro dele habitavam mais pessoas e percebe nele o "espanto " que até então ele não havia percebido e passa assim a ter um novo olhar para as suas poesias e conclui: "Poesia é isso, se não houver o "espanto ", não há poesia ".

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Nesta poesia tão rica, FERREIRA GULLAR traz o seu "espanto " ao se questionar quem ele realmente era; então "TRADUZIR-SE " fala das "partes" que existem em nós, partes que muitas vezes, se encontram e se estranham em nós mesmos.

Já dizia Jung que dentro de nós funcionam inúmeros "complexos", ou inúmeras partes que precisam se harmonizar para vivermos em equilíbrio.

Assim, não somos uma unidade em si, pois não somos separados do mundo. Estamos inseridos em uma cultura coletiva carregada de significados simbólicos, onde o meio ajuda a formar o nosso inconsciente coletivo.

Então os versos, "uma parte de mim é todo mundo", " uma parte de mim é multidão ", realçam muito bem que dentro de nós existem "vários outros eus" habitando em nós, reflexos do nosso contato, da influência e convívio social com as outras pessoas.

Este convívio com o nosso mundo externo se faz necessário, somos seres em relação, porém temos que ter cautela para não nos afastarmos em demasia de quem realmente somos e nos dispersar daquilo que realmente precisamos.

Isto acontece quando passamos a viver em função de regras e expectativas que não são nossas, assim nos tornamos estranhos a nós mesmos, não mais nos reconhecemos; passamos a dar um peso muito maior para as coisas que estão fora de nós e esquecemos de cuidar de nós.

Devemos sempre viver uma vida mais autêntica, valorizar a nossa naturalidade, assim nos aproximamos mais da nossa verdadeira essência.

E nesse estranhamento, no espanto, o Poeta traz a necessidade da reflexão pessoal, trazendo o movimento do questionamento , afinal quem somos? Ou quem sou eu?

E muitas vezes é no romper e no enxergar além das coisas cotidianas, no "espanto" desses momentos é onde surge a criatividade e o processo do desvelamento; por isso uma parte de mim "almoça e janta, a outra parte se espanta"...

Assim, a outra parte de mim "é ninguém, fundo sem fundo, passa a causar estranheza e solidão", como está nos versos.

Ao dizer que uma parte de nós "pesa, pondera e a outra parte delira", isso acaba nos remetendo às nossas dualidades na nossa maneira de ser, sentir e agir, aos nossos próprios sentimentos internos.

Então ao mesmo tempo que agimos racionalmente, a outra parte de nós pode agir pela emoção. Há um confronto entre a razão e a emoção, amor e o ódio, o certo e o errado, etc...

E a poesia traz a todo momento o olhar para as partes, tanto as conhecidas como aquelas encobertas.

Para Jung, dentro de cada um de nós há um outro que não conhecemos; esta dualidade em nós nos remete às nossas sombras; para vivermos em equilíbrio é preciso integrar as nossas polaridades em um movimento de auto aceitação e integração das partes opostas.

Então diante da "parte permanente, outra parte se sabe de repente", nos remete a essa condição do desvelar-se, de ir se adentrando no nosso desconhecido, reconhecendo essas nossas partes sombrias.

Em uma "parte de mim é só vertigem e a outra parte é linguagem" novamente o autor nos remete a visitar as partes desconhecidas, de nos redescobrirmos, pois nem tudo pode ser nomeado e está à luz da nossa consciência, nem tudo é apenas narrativa, pois vivemos parte da nossa existência como que adormecidos, até iniciarmos a jornada do nosso autoconhecimento.

Parece que viver a vida com arte para o Poeta é ter a consciência de que a tela da vida comporta todas as nossas polaridades, de que não somos uma parte ou outra; de que não existe somente o lado bom ou ruim , o certo ou errado.

É onde podemos apreciar os dois lados e os vários outros eus que emergem em nós, que se escutam, se integram e se harmonizam na relação entre os opostos...

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Ouçam: TRADUZIR-SE.

Na voz de : CHICO BUARQUE E FAGNER.

https://youtu.be/_uDXdBFvzoQ?

si=6et7AD0iS0j3M2Hg

Vejam no vídeo abaixo, a trajetória do

Do Poeta FERREIRA GULLAR.

https://youtu.be/1dQtHT_5Z0U?

si=xbjk0IJWXnKxmKom

Lélia Angélica
Enviado por Lélia Angélica em 12/08/2024
Reeditado em 14/08/2024
Código do texto: T8126940
Classificação de conteúdo: seguro
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