Curso de Apologética Cristã: autenticidade dos Evangelhos
Prosseguindo minha análise do magnífico tratado "Curso de Apologética Cristã", do sacerdote belga W. Devivier S.J., com base no volume que pertenceu a meu pai Armindo (que esteve na Itália como seminarista, mas acabou por não seguir a vida religiosa), livro que foi originalmente lançado no fim do século passado (a edição brasileira é da Melhoramentos), abordo agora as provas que, já naquela época, a Igreja Católica possuía sobre a antiguidade e autenticidade dos quatro Evangelhos.
Mostra o ilustre jesuíta, para começar, que entre os anos 150 e 220 da nossa era existiam suficientes testemunhos de como então a Igreja utilizava os textos de São Mateus, São Marcos, São Lucas e São João Evangelista; e existentes em várias regiões geográficas: São Clemente (Alexandria), Tertuliano (Cartago), Santo Ireneu (Lyon), Taciano (que editou os Evangelhos na Síria), São Teófilo de Antioquia etc
Em seguida o autor refere-se ao testemunho dos primeiros herejes (dissidentes) entre os anos 100 e 170:
"Os Ebionitas e os Nazarenos adotavam exclusivamente o Evangelho de São Mateus; os Marcionitas somente o de São Lucas; os Alogos rejeitavam unicamente o de São João; os Momtanistas, os Basilidianos e os Valentinianos adotavam-nos todos. Compreende-se bem a importância deste fato."
Recuando mais no tempo, Devivier encontra testemunhos dos escritores eclesiásticos entre 70 e 150. Nesse período vários autores citam os Evangelhos, como São Clemente Romano e Santo Inácio de Antioquia.
Devivier observa ainda como cada uma dessas obras combina com o que se sabe de cada autor. São Lucas, por exemplo, era médico e discípulo de São Paulo: "Estudos profundos feitos sobre a sua linguagem mostram que nas passagens, onde os demais Evangelistas usam a linguagem popular, ele, se a ocasião o permite, serve-se de termos técnicos, usados pelos médicos gregos." Além disso os três Evangelhos ditos "sinóticos" (Mateus, Marcos e Lucas) mostram claramente haver sido redigidos antes da destruição de Jerusalém no ano 70. Veja-se que a profecia de Jesus, sobre a destruição da cidade, não é completada pelo registro do cumprimento.
E note-se, as abundantes provas elencadas por Devivier sobre a antiguidade dos Evangelhos já eram conhecidas no século 19; atualmente há mais provas, principalmente os Manuscritos do Mar Morto.
Rio de Janeiro, 27 de julho de 2024.
(na foto da página do livro, reparem na anotação a lápis deixada por meu pai)