Karin é uma heroína simpática e toda atrapalhada embora bem intencionada. Além de bonita é boa de briga.

 

DNA ao quadrado volume 1: o dilema da viajante temporal

 

DNA 2 VOLUME 1: o dilema da viajante temporal

Miguel Carqueija

 

História escrachada e repleta de reviravoltas, “DNA ao quadrado” é uma comédia de ficção científica que apresenta belos desenhos alternados com outros grotescos, caretas exageradas. A capa do primeiro volume, mostrando Karin Aoi, é bela.

O assunto gira em torno do sexo. Em futuro não muito distante a humanidade dominou a técnica da viagem pelo tempo. Uma tremenda superpopulação, porém, ameaça a estabilidade da civilização. A coisa chegou a tal ponto que o sonho de uma garota como Karin é casar e ter um bichinho de estimação — filhos nem pensar. Karin é uma “operadora de DNA” e recebe uma missão especial para resolver no passado: deter o “megaplayboy”, personagem misterioso que engravidou cem mulheres e encheu o país de seus descendentes que dele herdaram a potência sexual, de modo que a população está aumentando geometricamente de forma assustadora.

Na época de Karin, quando foi identificado o megaplayboy ele já havia morrido. Porém, havia os descendentes. Assim, a missão de Karin era liquidar o megaplayboy ou neutralizá-lo de alguma forma.

 

Karin começa a explicar sua missão ao Junta, que faz cara de "não entendi nada".

 

Resenha do volume 1 do mangá “DNA 2”, de Masakazu Katsura. Editora JBC, São Paulo-SP, 2009. Editora Sueisha, Tokyo, 1993. Tradução: Karen Kazumi Hayashida. Neste volume, intitulado “Arquivo 1: Princípio”, 7 episódios (chamados aqui: “datas”).

 

A cena fatídica em que Karin alveja Junta com o projétil errado.

 

“Vira e mexe ele fica deprimido por causa das garotas que o fazem de bobo.”

(Ami Kuramotu)

 

“Ela tem mesmo um parafuso a menos.”

(Junta Momonari)

 

“Vim de 63 anos no futuro.”

(Karin Aoi)

 

“Ainda vou realizar meu sonho de ter meu lar doce lar, um belo marido e um lindo bichinho de estimação, quando concluir a minha missão.”

(Karin Aoi)

 

Quando da agressão a Tomoko, Karin tenta salvar a garota acertando um soco devastador no agressor "punk" (desenhado com excesso de tamanho e musculatura) mas a interferência dos outros dois "punks" atrapalha; então a personalidade de "megaplayboy" de Junta aflora a superfície e ele derrota os arruaceiros.

 

O outro foco da trama é Junta Momonari, adolescente que tem um problema muito sério: alergia a garotas, pois qualquer intimidade provoca intensa vontade de vomitar — o que faz inclusive que ele seja zoado pelos colegas. No entanto seria ele o “megaplayboy”. Karin o localiza mas percebe que Junta não parece nada com o alvo que ela procura. Ela até conversa com ele, que fica muito espantado diante daquela garota de roupa estranhíssima. Karin porta uma arma que dispara uma bala de MCA (medicamento controlador de DNA) e, deduzindo que os instintos de Junta ainda não haviam despertado, atira nele — crendo que iria inibir o futuro “megaplayboy”. Mas voltando a sua nave, Karin recebe mensagem do seu chefe no futuro — que informa ter ela levado a bala errada.

Estamos diante daquela falácia da personagem que viaja ao passado para impedir um acontecimento e sem querer o provoca.

Junta começa a ter ocasiões onde muda de aparência, ficando forte e autoconfiante. Isso terá utilidade quando ocorre a briga no restaurante.

Essa briga, aliás uma confusão provocada por Karin — da qual ela se arrepende — é uma sequência chocante e que, a meu ver, bastaria para colocar o mangá impróprio para 18 anos e não apenas 14 como se vê na capa. Junta encontra a Tomoko num restaurante e Karin, disposta a impedir que ele vire o megaplayboy que arruinará a sociedade, avisa o namorado da garota, Ryuji, para que ele espanque o Junta. Em vez disso Ryuji chama três arruaceiros para fazerem um serviço completo. A coisa sai totalmente do controle de Ryuji e Karin, pois depois de golpearem Junta resolvem se divertir com Tomoko — numa cena de desnudamento a faca que Karin, apesar de sua força física, não consegue impedir, e que despertará os poderes de Junta. O pior é evitado e Tomoko é salva, porém os “punks” são por demais grotescos e a cena em si é por demais grotesca.

DNA2 oscila assim entre uma curiosa situação de ficção científica, com direito a um humor inteligente, e exageros gráficos escatológicos. É preciso cuidado ao ler essa HQ, daí ser mais para adultos de cabeça feita.

Resumindo: os personagens principais, Karin, Junta e várias garotas, não são más pessoas. E nem são indecentes. Karin é a heroína, com uma missão espinhosa que a deixa apavorada com as possíveis consequências de um fracasso. Junta é tão vulnerável que dá pena. Afinal, sua alergia que o leva ao vômito é caso de psiquiatra.A coisa mais improvável seria ele virar o megaplayboy, e parece que bastaria a Karin não ter interferido — ou seja, ela é a Chapolin Colorado da ficção científica (procurando ajudar, atrapalha). O argumento básico portanto é original e criativo. E de certa forma é moralista, pois aponta os danos que a procriação irresponsável (libertina) pode causar.

Agora que o DNA de Junta está oscilando, fazendo variar sua personalidade, Karin terá de dar um jeito de impedir que a situação se estabilize com o rapaz na pele do temido megaplayboy... pois poderá até ser condenada à morte se isso acontecer.

 

 

Rio de Janeiro, 19 a 30 de junho de 2024.