O muro

Em 1976 li O muro, um conto de Jean-Paul Sartre, que mexeu com os meus sentidos, quando eu dava os meus primeiros passos no engajamento da luta pela redemocratização no Brasil.

O muro, conto que dá título ao livro, traz mais quatro contos: O quarto, Erostrato, Intimidade e A infância de um chefe. Nesse ano de 2024 em que o fascismo mostra suas garras, comprei o livro em um sebo virtual e estou relendo. Lembro que Infância de um chefe me impactou também, mas nessa análise, trato apenas de O muro, que narra os mementos decisivos de alguns jovens anarquistas presos e condenados a morte, pelo regime fascista espanhol.

Antes da condenação em si, eles passam por torturas físicas e psicológicas. Na trama, o jovem Ybbieta pode ser poupado do muro (paredão de fuzilamento), se revelar o esconderijo de um dos líderes do movimento de resistência, Ramón Gris, pelo qual Ybbieta não tem tanta admiração. Depois de receber a garantia de que não será fuzilado, seus algozes dão-lhe um tempo, para refletir. Esse tempo é uma forma de tortura psicológica, deixá-lo com os seus demônios interior. Trair a causa ou salvar a própria pele.

Ybbieta decide por "revelar" o esconderijo de Ramón, mas não o verdadeiro esconderijo. Ele decide fazer troça de seus carrascos. Leva-los ao cemitério, revirar túmulos. E não encontrar Ramón. Trata-se de ato gratuito, que o filósofo existencialista desenvolveria em sua vasta obra. Ybbietá jamais compactuaria com fascistas.

Acontece que Ramón decidira sair do esconderijo em que se encontrava e ir se refugiar exatamente no cemitério.