EFIKO - Resenha literária
1. FICHA TÉCNICA
Título: EFIKO
Autora: Lucas Cassule
Edição: Ésobrenós Editora
Ano: 2021
N° de páginas: 14
Género: Narrativo
Subgénero: Contos
Formato: E-book (PDF)
2. DADOS CATALOGRÁFICOS
Lucas Cassule é um escritor angolano que dispõe apresentações, tanto no âmbito nacional como no internacional, pelos seus feitos na literatura angolana (o que lhe dá ênfase nos marcos da literatura africana). Autor de vários livros, Efiko faz parte, edição digital da Ésobrenós Editora, um conto sobre os rituais da puberdade dentro do contexto feminino.
3. ANÁLISE E RESENHA
3.1. Conceitos preliminares - Começando a nossa conversa
Efiko é um conto em que, entre alíneas das páginas do livro, mais do que um viva à identidade cultural angolana, não sobre o que se conta, mas como se conta, o autor frisa pelo resgate e o valorizar do ser e estar cultural que parece extinguido nos dias actuais, pese embora algumas famílias fazerem de algumas cerimónias o meio de demonstrar a posse e resgatar mais posses, o que verdadeiramente contribui no seu aniquilamento, em consideração às nossas etnias e ancestralidades, por um lado ainda há que respeitar e honrar; no entanto, com a liberdade de escolha, claro.
3.2. Desenvolvimento - Continuando a nossa conversa
Ao apreciar a narrativa cassuleana, é notável a habilidade que o autor demonstra com a caneta, desde a criação da moldura, atmosfera e a acção, os três pilares equilibram-se, sabe como entreter, motivar e ensinar, a criação dos personagens, diálogos fluentes e do conflito, o encaixe entre a natureza do género e a obra, o título e o tema - mensagem, as figuras de estilos, a concordância entre os elementos da oração e os da coerência e coesão no texto mesmo quando, às vezes, mais recorrências à repetição, o que causa certo ar monótono; tais aspectos concedem um novo relevo naquilo que é o seu fazer literário, a mesma voz de escritor brinda-nos nesta obra. A descrição não surge por efeitos de qualquer "ismos".
A linguagem simples usada facilita na compreensão da trama, narrada em primeira pessoa, numa delimitação fechada, com um final balanceado. Uma das desvantagens em narrar em primeira pessoa, é o gesto clichê de narrar apenas aquilo que se pensa, o narrador ao se mesclar no próprio personagem, nem sempre permite ao leitor ter a noção daquilo que se está a passar algures próximos, um detalhe que se nota diferente na obra; Estrela, a nossa protagonista de 14 anos de idade, pertencente ao povo Handa (Nhaneca-Humbi), na sua concepção bidimensional - a meu ver, consegue descrever não apenas aquilo que pensa, mas também, com esboços nítidos, aquilo que vê e se passa no ambiente inserido, o que permite a criação de imagens e sons criativos além das palavras. Na criação do jogo palavras-imagens-sons, o autor permite a imaginação do leitor e, automaticamente, faz jus à técnica narrativa "storytelling", o que vai além da escrita criativa.
Efiko, o nome que dá título ao livro, é uma festa tradicional de algumas comunidades do Sul de Angola - Nhaneca-Humbi, Mucubais, Kwanhamas - que marca a transição das meninas da fase da adolescência para a adulta, o que comemora-se com danças, bebidas e comidas, e a matança de um cabrito, que simboliza o fim de dura responsabilidade pela filha ou agradecimentos pelo facto de a filha ter cumprido os princípios doutrinais da cultura, o não engravidar antes disso; o efeito ocorre quando atingem idades entre os 14 e 16 anos, altura em que o corpo ganha uma nova forma, na verdade, a educação sexual é um principal pano de fundo, esta que precisa ser passada à rapariga que floresce aos olhos do mundo.
Segundo as pesquisas e como bem o autor enfatiza nalguns diálogos entre as personagens, nestas etnias, a jovem que se casa ou engravida sem passar pelo ritual, é considerada sem valor e azarada - não pode ter filho e mais algumas consequências possíveis, e que quando passa nela, a rapariga está pronta para casar e gerar; a partir deste ponto surge-nos o paradoxo, imponderações que se veem nitidamente no olhar da protagonista durante os preparativos e no acto da cerimónia, as incógnitas caladas, a agitação demonstrada e a concepção de ideias que lhe diferencia de outras meninas de sua faixa etária, mesclando, também, o medo, o receio, a insegurança, o desespero moderado ao desconhecido e a ansiedade para a nova fase de vida menina-mulher. Diferente dos rapazes da mesma cultura, entendem que este é o momento de seduzir as miúdas, exibem todo trajo possível ou imaginário para provocar interesse na menina que agora tem caminho livre para namorar.
3.3. Considerações finais - Terminando a nossa conversa
A obra, em sua essência, faz jus e apelo à valorização das nossas culturas, preservação dos traços ancestrais, o conhecer as nossas origens e a descoberta do ser homem/mulher através da educação sexual. O conto é bastante educativo, o que nos permite conhecer além da cultura que abraçamos desde o nascimento, viajar sem sair do lugar, enfim, é sobre nós. Gira as tuas ideias e cative-te, vale a pena lê-la.
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