LIMITE ou A APOSTA DO DECRESCIMENTO, de Serge Latouche
INTRODUÇÃO
A partir das ideias do filósofo, educador e autor americano Mortimer Adler (1902-2001), conforme expressas em "Como Ler Livros" (1940, 1972), esta Análise de Obra oferece uma abordagem analítica e sintópica dos níveis de leitura para examinar "Limite" de Serge Latouche.
Ao longo do texto, serão exploradas tanto as contribuições do autor para o campo do desenvolvimento humano quanto os principais conceitos e argumentos relevantes apresentados no livro, mas não substitui a leitura detalhada do livro, porém serve para despertar o leitor para que faça sua própria incursão e útil reflexão.
O livro "Limite" (versão italiana) ou "A Aposta do Decrescimento" (em português), escrito por Serge Latouche, é uma obra que desafia o modelo econômico baseado no crescimento contínuo e propõe uma mudança de paradigma em direção a uma sociedade mais sustentável e justa. Latouche, um economista e filósofo francês, apresenta uma análise crítica dos problemas gerados pelo crescimento ilimitado, como desigualdades sociais, degradação ambiental e esgotamento dos recursos naturais.
Ao longo do livro, o autor defende a necessidade de uma transformação profunda nos valores e prioridades da sociedade, com a adoção de princípios como simplicidade voluntária, convivialidade e autonomia. Ele propõe medidas como a redução do consumo e da produção, a relocalização da economia e a valorização das trocas não monetárias, visando construir uma sociedade do decrescimento que seja mais resiliente, equitativa e sustentável. Embora controversas e desafiadoras, as ideias de Latouche convidam a uma reflexão urgente sobre os rumos da civilização e a necessidade de se repensar o paradigma do crescimento contínuo.
1. O AUTOR SERGE LATOUCHE
Serge Latouche é um economista e filósofo francês, conhecido por ser um dos principais expoentes do decrescimento, uma corrente que critica o modelo econômico baseado no crescimento contínuo e propõe uma transformação profunda da sociedade.
Latouche argumenta que o crescimento econômico ilimitado é incompatível com os limites físicos do planeta e gera desigualdades sociais e danos ambientais. Ele defende uma mudança de paradigma, com a adoção de valores como simplicidade voluntária, convivialidade e autonomia, além de medidas como redução do consumo e da produção, relocalização da economia e valorização das trocas não monetárias.
Para Latouche, o decrescimento não significa recessão, mas sim uma transição para uma sociedade mais sustentável, justa e democrática. Embora suas ideias sejam controversas e desafiadoras, elas convidam a uma reflexão sobre os rumos da civilização e a necessidade de se repensar o modelo de desenvolvimento dominante.
Críticos apontam possíveis impactos negativos do decrescimento no padrão de vida e na erradicação da pobreza. No entanto, Latouche argumenta que é possível garantir bem-estar e qualidade de vida com menos consumo material, desde que haja uma mudança nos valores e prioridades da sociedade.
O pensamento de Serge Latouche contribui para ampliar o debate sobre sustentabilidade, propondo alternativas ousadas e instigantes, que lançam luz sobre a insuficiência do modelo atual e a urgência de se construir novos caminhos para o futuro.
2. DESENVOLVIMENTO: VISÃO ANÁLITICA SOBRE A OBRA
O livro "Limite" (versão italiana) ou "A Aposta do Decrescimento" (em português), de Serge Latouche, é uma obra seminal que desafia o paradigma dominante do crescimento econômico contínuo e propõe uma radical reimaginação da economia global. Latouche, um crítico feroz do desenvolvimentismo e um dos principais teóricos do decrescimento, argumenta que o modelo de crescimento incessante é insustentável, tanto do ponto de vista ecológico quanto social.
A obra é dividida em 7 capítulos:
1. Limites geográficos e territoriais;
2. Limites políticos;
3. Limites culturais;
4. Limites ecológicos;
5. Limites econômicos.
6. Limites do conhecimento;
7. Limites morais.
O livro se destaca por sua abordagem multidisciplinar, combinando insights da economia, ecologia, antropologia e filosofia para construir um caso convincente contra o imperativo do crescimento. Latouche não se limita a diagnosticar os problemas associados ao modelo econômico dominante; ele também oferece uma visão provocativa de uma sociedade baseada nos princípios do decrescimento, que ele define não como uma recessão econômica, mas como uma redução deliberada da produção e do consumo em favor de uma qualidade de vida melhor e mais sustentável.
Um dos pontos fortes do livro é sua crítica à noção de desenvolvimento sustentável, que Latouche vê como um oxímoro. Para ele, a ideia de que podemos manter o crescimento econômico enquanto limitamos seu impacto ambiental é uma ilusão. Em vez disso, ele defende uma ruptura com a obsessão pelo PIB e uma reorientação em direção a indicadores de bem-estar humano e ecológico.
No entanto, a proposta de Latouche não está isenta de críticas. Alguns podem argumentar que o conceito de decrescimento é utópico e impraticável, dada a estrutura atual das economias globais e a resistência política e institucional a mudanças radicais. Além disso, a visão de Latouche pode ser vista como excessivamente pessimista em relação à capacidade da inovação tecnológica de resolver problemas ambientais e sociais.
Apesar dessas críticas, "A Aposta do Decrescimento" é uma contribuição valiosa para o debate sobre o futuro da economia global. O livro desafia os leitores a questionar suposições arraigadas sobre prosperidade e progresso e a considerar alternativas ao modelo de crescimento. A visão de Latouche sobre decrescimento como um caminho para uma sociedade mais justa e sustentável é um convite provocativo para repensar nossas prioridades econômicas e nossos valores.
3. TRÊS IDEIAS CENTRAIS EXTRAÍDAS DO LIVRO LIMITE (A APOSTA DO DECRESCIMENTO), DE SERGE LATOUCHE
3.1. O crescimento econômico ilimitado é insustentável e gera graves problemas sociais e ambientais: Latouche argumenta que a busca incessante pelo crescimento econômico desconsidera os limites físicos do planeta, levando à degradação ambiental, ao esgotamento dos recursos naturais e ao aumento das desigualdades sociais. Ele defende que é necessário repensar o modelo econômico dominante e reconhecer a impossibilidade de um crescimento infinito em um mundo finito.
3.2. É necessária uma mudança de valores e prioridades para construir uma sociedade do decrescimento: O autor propõe uma transformação profunda na mentalidade e nos valores da sociedade, com a adoção de princípios como simplicidade voluntária, convivialidade e autonomia. Isso implica em reduzir o consumo e a produção, valorizar as relações humanas e as trocas não monetárias, e buscar uma vida mais equilibrada e sustentável. Latouche defende que o bem-estar e a qualidade de vida não dependem necessariamente do crescimento econômico e do consumo material excessivo.
3.3. A relocalização da economia e a valorização dos territórios são fundamentais para o decrescimento: Latouche argumenta que, para construir uma sociedade mais resiliente e sustentável, é necessário fortalecer as economias locais e valorizar as especificidades de cada território. Isso significa promover a produção e o consumo local, reduzir a dependência de recursos externos e valorizar os saberes e as práticas tradicionais. O autor defende que a relocalização da economia é essencial para reduzir os impactos ambientais e sociais do modelo globalizado e para promover uma maior autonomia e resiliência das comunidades.
4. VISÃO SINTÓPICA
COMPARAÇÃO "LIMITE" ou "A APOSTA DO DECRESCIMENTO" (LATOUCHE) E "O NEGÓCIO É SER PEQUENO" (SCHUMACHER)
Serge Latouche, em seu livro "Limite" (ou "A Aposta do Decrescimento"), e Ernst Friedrich Schumacher, em sua obra "Small Is Beautiful" (ou "O Negócio é Ser Pequeno"), apresentam visões críticas do modelo econômico baseado no crescimento contínuo e no consumo excessivo. Ambos argumentam que esse modelo é insustentável a longo prazo e defendem a necessidade de uma mudança de paradigma.
Latouche propõe o decrescimento como alternativa, enfatizando a mudança de valores e a relocalização da economia, enquanto Schumacher defende uma "economia budista", focada na simplicidade, descentralização e valorização das pessoas e do meio ambiente. Embora Schumacher esteja mais preocupado com os problemas da pobreza e do subdesenvolvimento, e Latouche com os desafios da sustentabilidade e da justiça social em um mundo globalizado, ambos reconhecem a interdependência entre as questões econômicas, sociais e ambientais.
As duas obras tiveram um impacto significativo no debate sobre sustentabilidade e desenvolvimento, desafiando o pensamento econômico convencional e propondo alternativas inovadoras. Apesar de partirem de perspectivas ligeiramente diferentes, Latouche e Schumacher compartilham uma visão crítica do modelo econômico dominante e defendem a necessidade de uma economia mais sustentável, justa e centrada nas pessoas, oferecendo insights valiosos e complementares para repensar o papel da economia na sociedade e construir um futuro mais equilibrado e resiliente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em suma, "A Aposta do Decrescimento" é uma leitura essencial para qualquer pessoa interessada nas questões de sustentabilidade, economia e justiça social. Latouche oferece uma crítica penetrante do status quo e uma visão inspiradora de um futuro possível que desafia tanto os pessimistas que veem a catástrofe ambiental como inevitável quanto os otimistas tecnológicos que confiam cegamente no progresso. Seu trabalho é um lembrete oportuno de que, embora a mudança seja difícil, alternativas são possíveis e necessárias.
REFERÊNCIA
LATOUCHE, Serge. Limite, Traduzione di Fabrizio Grillenzoni. 2ª ristampa, Torino Itália: Bollati Boringhieri, 2013.
ANOTAÇÕES FINAIS:
A referida análise de obra foi apresentada entre 2015 e 2016 por ocasião do doutoramento em Ciência Jurídica na UNIVALI, Capes 6, pelo Prof Dr Oscar F. Alves Jr, em razão de indicação pela professora do módulo, Dr Maria Claudia.