A UTOPIA, de Thomas Morus
INTRODUÇÃO
Thomas Morus, em sua obra "A Utopia", apresenta uma visão crítica da sociedade inglesa do século XVI, propondo um modelo alternativo de organização social e política. Publicado em 1516, o livro é considerado um marco da literatura utópica e uma das obras mais influentes do humanismo renascentista.
Através da narrativa de Rafael Hitlodeu, um navegador português que descreve sua visita à ilha de Utopia, Morus expõe as características de uma sociedade idealizada, contrastando-a com a realidade europeia da época. Essa obra-prima combina crítica social, reflexão filosófica e imaginação criativa, convidando-nos a repensar nossos valores e a buscar caminhos para a construção de um mundo mais justo e igualitário.
A partir das ideias do filósofo, educador e autor americano Mortimer Adler (1902-2001), conforme expressas em "Como Ler Livros" (1940, 1972), esta Análise de Obra oferece uma abordagem analítica e sintópica dos níveis de leitura para examinar "A Utopia" de Thomas Morus.
Ao longo do texto, serão exploradas tanto as contribuições do autor para o campo do desenvolvimento humano quanto os principais conceitos e argumentos relevantes apresentados no livro, mas não substitui a leitura detalhada do livro, porém serve para despertar o leitor para que faça sua própria incursão e útil reflexão.
1. O AUTOR THOMAS MORUS
Thomas Morus (1478-1535) foi um escritor, filósofo, advogado e estadista inglês, conhecido principalmente por sua obra "A Utopia". Nascido em Londres, Morus estudou direito em Oxford e tornou-se um renomado advogado. Ele também serviu como membro do Parlamento e, posteriormente, como Lord Chancellor (Chanceler) da Inglaterra, o cargo jurídico mais alto do país.
Morus era um humanista cristão, profundamente influenciado pelos ideais do Renascimento. Ele era amigo próximo de importantes figuras intelectuais da época, como Erasmo de Roterdã. Sua obra mais famosa, "A Utopia", publicada em 1516, é considerada um marco da literatura utópica e uma crítica social à Inglaterra do século XVI.
Além de "A Utopia", Morus escreveu diversos outros trabalhos, incluindo tratados religiosos e obras de história. Ele era conhecido por sua integridade, erudição e wit (sagacidade).
No entanto, sua vida teve um fim trágico. Morus entrou em conflito com o rei Henrique VIII devido à sua oposição ao divórcio do rei e à sua recusa em reconhecer a supremacia do monarca sobre a Igreja. Por sua postura firme, Morus foi acusado de traição e condenado à morte, sendo decapitado em 1535.
Após sua morte, Morus foi reconhecido como mártir pela Igreja Católica e canonizado em 1935. Seu legado intelectual e moral continua a inspirar pensadores, escritores e ativistas em todo o mundo, e sua obra "A Utopia" permanece relevante como uma reflexão sobre a busca por uma sociedade mais justa e igualitária.
2) DESENVOLVIMENTO: VISÃO ANÁLITICA
2.1) O CONTEÚDO DA OBRA: "A UTOPIA":
Thomas Morus, em sua obra "A Utopia", apresenta uma visão crítica da sociedade inglesa do século XVI, propondo um modelo alternativo de organização social e política. Publicado em 1516, o livro é considerado um marco da literatura utópica e uma das obras mais influentes do humanismo renascentista.
A narrativa se desenvolve a partir do relato de Rafael Hitlodeu, um navegador português que descreve sua visita à ilha de Utopia. Através desse personagem, Morus expõe as características de uma sociedade idealizada, contrastando-a com a realidade europeia da época.
Na Utopia, a propriedade privada é abolida e a vida comunitária é valorizada. Todos os cidadãos têm acesso à educação, saúde e trabalho, e a distribuição de bens é igualitária. A organização política é baseada em um sistema eletivo, com líderes escolhidos por sua sabedoria e virtude. Além disso, a tolerância religiosa é praticada, e a felicidade coletiva é o objetivo principal da sociedade.
Ao apresentar esse modelo utópico, Morus faz uma crítica contundente às desigualdades sociais, à ganância e à corrupção presentes na Inglaterra de seu tempo. Ele questiona a concentração de riquezas, a exploração dos trabalhadores e a falta de oportunidades para os mais pobres.
No entanto, é importante ressaltar que "A Utopia" não se limita a uma simples crítica social. Morus também explora questões filosóficas profundas, como a natureza humana, a ética e a busca pela felicidade. Ele reflete sobre o papel das instituições na formação do caráter dos indivíduos e na construção de uma sociedade justa.
Embora a obra apresente uma sociedade idealizada, Morus não a retrata como perfeita. Ele reconhece a complexidade das relações humanas e admite que mesmo em Utopia existem desafios a serem enfrentados. Essa abordagem equilibrada confere credibilidade à sua crítica e evita o escapismo ingênuo.
"A Utopia" teve um impacto significativo no pensamento político e social ao longo dos séculos. Sua influência pode ser percebida em diversos movimentos e teorias, como o socialismo utópico, o comunismo e o anarquismo. A obra inspirou inúmeros pensadores e escritores, que buscaram imaginar sociedades alternativas e questionar as estruturas vigentes.
Morus combina crítica social, reflexão filosófica e imaginação criativa. Ao apresentar uma sociedade idealizada, o autor convida a repensar nossos valores e a buscar caminhos para a construção de um mundo mais justo e igualitário. Seu legado permanece relevante até os dias de hoje, instigando-nos a questionar o status quo e a lutar por mudanças positivas na sociedade.
2.2) DEZ PRINCIPAIS IDEIAS EXTRAÍDAS DE "A UTOPIA"
1. Crítica social: A obra nos ensina a questionar e refletir sobre as desigualdades, injustiças e problemas presentes em nossa sociedade.
2. Igualdade e justiça: A Utopia destaca a importância de buscar uma sociedade mais igualitária, onde todos tenham acesso a oportunidades e direitos fundamentais.
3. Educação universal: O livro ressalta o valor da educação para todos os cidadãos, como forma de promover o desenvolvimento individual e coletivo.
4. Trabalho e dignidade: Em Utopia, o trabalho é visto como uma atividade dignificante e necessária para o bem-estar da sociedade, e não como um fardo.
5. Propriedade coletiva: A obra questiona a ideia de propriedade privada e sugere que a propriedade coletiva pode ser uma forma de reduzir desigualdades e promover a harmonia social.
6. Governança sábia e ética: A Utopia enfatiza a importância de líderes virtuosos e sábios, que governem em prol do bem comum e não de interesses pessoais.
7. Tolerância religiosa: O livro defende a ideia de tolerância religiosa, permitindo que diferentes crenças coexistam pacificamente.
8. Equilíbrio entre indivíduo e sociedade: A obra explora a relação entre o indivíduo e a sociedade, buscando um equilíbrio entre liberdade individual e responsabilidade coletiva.
9. Felicidade como objetivo: A Utopia nos lembra que a felicidade deve ser o objetivo principal de uma sociedade, e que as instituições e políticas devem ser orientadas para promover o bem-estar de todos.
10. Imaginação e transformação social: O livro nos inspira a usar nossa imaginação para pensar em alternativas e soluções para os problemas sociais, e a lutar por mudanças positivas em nossa sociedade.
3) VISÃO SINTÓPICA:
3.1) COMPARAÇÃO ENTRE "A UTOPIA" (THOMAS MORUS) E "A REPÚBLICA" (PLATÃO)
Uma análise sintópica pode ser feita comparando as ideias de Thomas Morus em "A Utopia" com as de Platão em "A República", no que diz respeito à organização social e política ideal.
Ambos os autores apresentam visões de sociedades baseadas na razão, na virtude e na busca do bem comum. Eles enfatizam a importância da educação na formação de cidadãos virtuosos e na manutenção da harmonia social.
No entanto, existem diferenças significativas. Morus propõe uma sociedade igualitária, sem classes distintas, enquanto Platão defende uma hierarquia social rígida, baseada nas habilidades e virtudes de cada indivíduo. Além disso, a República de Platão é governada por uma elite intelectual, enquanto a Utopia de Morus tem um sistema político mais participativo.
Outra diferença é que a Utopia de Morus é apresentada como uma sociedade fictícia, mas real, enquanto a República de Platão é um exercício filosófico, um modelo ideal a ser contemplado.
Apesar dessas diferenças, ambas as obras refletem sobre a natureza da justiça, da virtude e do bom governo, oferecendo visões de sociedades ideais. Essa análise sintópica permite apreciar as semelhanças e diferenças entre essas duas importantes contribuições para o pensamento político e filosófico ocidental.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em suma, "A Utopia" de Thomas Morus é uma obra que transcende seu tempo, oferecendo uma análise crítica da sociedade e propondo um modelo alternativo baseado na igualdade, justiça e bem-estar coletivo. Através da descrição detalhada da ilha de Utopia, Morus nos convida a refletir sobre os problemas sociais, políticos e econômicos que afligem a humanidade, e a considerar possíveis soluções.
O legado de "A Utopia" permanece relevante até os dias de hoje, inspirando pensadores, escritores e ativistas a questionarem o status quo e a buscarem mudanças positivas na sociedade. Embora a sociedade perfeita retratada por Morus possa ser inalcançável, sua obra nos lembra da importância de lutar por um mundo mais justo e igualitário, onde o bem-estar de todos seja priorizado acima dos interesses individuais.
REFERÊNCIA
MORUS, Thomas. A Utopia. Coleção Mestres Pensadores. Tradução de Luís de Andrade. São Paulo: Editora Escala.
ANOTAÇÕES FINAIS:
A referida análise de obra foi apresentada em 2015 por ocasião do doutoramento em Ciência Jurídica na UNIVALI, Capes 6, pelo Prof Dr Oscar F. Alves Jr e Profª Drª Andréia Almeida Alves, dupla sorteada pelo professor do módulo, Dr Paulo Marcio Cruz.